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Motivo de festa para boa parte dos fornecedores de autopeças, o melhor ano da história da indústria automobilística nacional causa preocupação a pequenas empresas do setor. Com margens de lucro reduzidas, muitas não têm capital para investir em expansão e aumentar a produção na velocidade exigida pelas montadoras. Trabalhando no limite de sua capacidade, ainda convivem com a ameaça de ser substituídas por fornecedoras chinesas – cujas autopeças custam até 40% menos, em alguns casos.

Segundo o presidente do Sindipeças-PR (que representa as fábricas de componentes), Benedicto Kubrusly Júnior, a importação de autopeças cresceu 28% desde o início do ano, enquanto a produção nacional avançou menos que 5%. A importação estaria servindo não só para baratear as compras, mas também para suprir necessidades que não são atendidas pelos fornecedores brasileiros. "A montadora pressiona a indústria de autopeças a reduzir o preço. Ao mesmo tempo, a autopeça trabalha no limite, sem conseguir aumentar a oferta. O que se vê, no fim, é a montadora trazendo os componentes da China", diz.

O empresário explica que a questão é mais delicada para as pequenas empresas do "segundo elo" da cadeia automotiva. Elas compram insumos dos integrantes do "terceiro elo" (basicamente fornecedores de matérias-primas) e vendem peças diretamente para as montadoras ou para as companhias do "primeiro elo" – as sistemistas. Quase sempre multinacionais, as sistemistas montam conjuntos completos de peças, como sistemas de portas, painéis, bancos, lanternas etc. Têm mais dinheiro em caixa e, em caso de dificuldade, podem ser socorridas pela matriz ou importar os componentes. São espécies de pré-montadoras e muitas vezes estão instaladas dentro das próprias fabricantes de veículos.

O motivo para as pequenas fábricas de autopeças não terem elevado sua capacidade de produção nos últimos tempos estaria na queda da rentabilidade, segundo Kubrusly. "O custo das matérias-primas – como o aço, o cobre e o bronze – aumentou nos últimos anos, por causa da demanda global. Enquanto isso, as montadoras têm reduzido unilateralmente o valor que pagam pelos componentes. Então o lucro da autopeça fica cada vez mais achatado. Não sobra dinheiro para investir."

Um estudo da consultoria Booz-Allen Hamilton mostra que, nos últimos seis anos, a indústria de veículos vem impondo aos fornecedores reduções entre 5% e 6% ao ano no preço das peças. A justificativa, segundo Kubrusly, seria o "ganho de produtividade" – no entender da montadora, se estão produzindo mais, os fornecedores podem cobrar menos por cada unidade produzida.

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