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Gigante chinesa do e-commerce, Alibaba deve levantar US$ 24,3 bilhões com abertura de capital na sexta-feira: apontada como maior IPO da história, operação oculta ameaça de bolha | Lang Lang/Reuters
Gigante chinesa do e-commerce, Alibaba deve levantar US$ 24,3 bilhões com abertura de capital na sexta-feira: apontada como maior IPO da história, operação oculta ameaça de bolha| Foto: Lang Lang/Reuters

Rumores de valorização excessiva rondam startups do Vale do  Silício

No Vale do Silício, o apetite por risco tem sido voraz e rumores sobre bolhas são recorrentes. Além dos recordes na Nasdaq, muitos discordam dos valores atribuídos a certas startups. O caso mais famoso é do WhatsApp, vendido por US$ 19 bilhões ao Facebook. Recentemente, o app de caronas compartilhadas Uber foi avaliado em US$ 17 bilhões, tendo recebido só US$ 1,5 bilhão em financiamento.

Brian Blau, analista da consultoria Gartner na Califórnia, reconhece que há preços inflados, sobretudo no segmento de análise de dados (Big Data).

Mas ele pondera que as startups estão mais preparadas para fazer a transição da aposta de risco à economia real, o que não aconteceu na bolha da internet de 2000.

Valor justo

"Os investidores estão cientes dos erros do passado. Os smartphones e a internet estão disseminados, proporcionando oportunidades de monetização em número incrivelmente maior de consumidores", disse Blau.

Mas para Ann Lee, da Universidade de Nova York, independentemente de cálculos sobre valor justo de ações ou potencial das empresas, o mercado carrega um grande problema moral que certamente resultará no estouro de bolhas. Ela vê um Fed complacente com os bancos, despertando comportamentos irresponsáveis. "A situação é pior que em 2008. O mercado financeiro sabe que, se houver qualquer problema, o Fed fará um resgate. É o chamado risco moral", diz.

Às vésperas da maior oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da história – a gigante chinesa do e-commerce Alibaba deve levantar US$ 24,3 bilhões na sexta-feira, segundo previsões do mercado –, está acirrada a disputa pelo título de novo "oráculo do apocalipse". Desde o colapso financeiro de 2008, nunca se alertou tanto para a formação de bolhas. De acadêmicos, como o Nobel Robert Shiller, a megainvestidores, como Carl Icahn, críticos veem com preocupação os preços inflados de ações e imóveis.

O argumento é de que os inéditos estímulos econômicos concedidos pelo Federal Reserve (o Fed, banco central americano), como a compra de trilhões de dólares em títulos e juros nominais zerados, elevaram o valor dos ativos de forma perigosa. Mas analistas ressalvam que, dado o ineditismo da conjuntura americana, nem tudo o que parece bolha está fadado a estourar.

Sinais óbviosAlguns sinais de que estamos diante de um período de exceção são óbvios. As medidas do Fed acabaram com a rentabilidade dos títulos do governo e de outras aplicações de renda fixa, empurrando investidores para apostas mais arriscadas. Mesmo com a economia em recuperação, o índice de ações S&P 500 atingiu no último dia 5 o maior patamar histórico, aos 2.007 pontos.

Em julho, a presidente do Fed, Janet Yellen, disse não crer que haja perigo nas ações, mas admitiu sinais de bolhas nos mercados de crédito e dívida corporativa.

Mas Michael Viriato, do Insper, pondera que o fato de o preço dos papéis estar alto não quer dizer muita coisa. Segundo ele, os alertas frequentes sobre bolhas são consequência do trauma com a crise passada. "As Bolsas americanas realmente estão valorizadas, mas é preciso olhar para frente. Desde os anos 1950, a relação entre o preço e o lucro das ações do S&P 500, embora um pouco acima da média, ainda é aceitável. Ou seja, se o lucro das companhias continuar subindo, o preço também pode avançar. Por isso, antes de falar em bolha por causa de preço alto, é preciso questionar se o lucro continuará sustentável", diz.

Um dos indicadores favoritos dos economistas para saber se o preço das ações é justo se chama Cape. Ele divide o valor dos papéis pelo lucro médio das empresas na última década. Um dos seus criadores é Shiller, que publicou artigo recente no The New York Times afirmando que, sim, as ações americanas "parecem caras demais".

No texto, Shiller diz que a média do indicador no século 20 foi de 15,21 e que, hoje, ele está acima de 25 – marca só superada em três períodos desde 1881: antes de 1929, 1999 e 2007, quando estouraram três bolhas catastróficas. Os precedentes são de mau agouro, mas o próprio Shiller ressalva que o indicador esteve acima de 20 nas duas últimas décadas e que ele não sabe o porquê disso.

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