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O original: A história da arte, de Ernst Gombrich, foi publicado em 1950 | Reprodução
O original: A história da arte, de Ernst Gombrich, foi publicado em 1950| Foto: Reprodução
  • O pirata: a recriação só se assemelha do original pelo tema. O restante foi inventado

A artista Bia Bittencourt, 26 anos, achava o livro A História da Arte, de Ernst Gombrich, o mais chato entre todos os livros de arte. Quando uma amiga lhe fez uma proposta para recriar um livro de arte, ela não pensou duas vezes: escolheu o clássico de Gombrich, publicado nos anos 50. "A proposta era piratear um livro que fosse essencial em uma biblioteca de arte. Já que eu ia ter que recriá-lo mesmo, escolhi o mais entediante", explica.

A amiga era a artista americana Lynn Harris, radicada em Londres e dona da editora And Publishing. Ela chamou Bia para participar do Piracy Project, projeto que tem o objetivo de criar, em Londres, uma biblioteca de livros de arte pirateados.

Mais do que apenas piratear, o projeto quer discutir métodos criativos de reprodução e a filosofia e a prática por trás da pirataria de livros.

"Piratear da maneira como esse projeto propõe vira um conceito, uma discussão sobre quem é dono de que, sobre apego", avalia Bia. Só que o livro que a artista escolheu para refazer não é dos mais simples – o clássico do ensino de história da arte tem 688 páginas. "Eu não ia conseguir fazer sozinha nunca."

Acostumada a lidar com produção colaborativa – ela trabalhou até o ano passado no programa "Fiz", da MTV, que transmitia vídeos enviados pelos telespectadores –, Bia convidou artistas conhecidos e abriu uma chamada para receber colaborações no site IdeiaFixa. No chamado, ela explicou o projeto: "funzinear" o clássico de história da arte.

O único critério era que sua reprodutibilidade continuasse possível – valia mandar textos, fotos, arte, vídeo, qualquer coisa, desde que fosse possível executar uma cópia.

Bia selecionou os convidados e enviou a cada um uma cópia da página do livro a ser recriada. "A ideia inicial beirava o ‘funzine’, xerox, grampo, preto-e-braco. Mas aí eu comecei a receber música, vídeo, o pessoal foi se empenhando", conta. Na seleção do material, entrou de tudo – até o feio ou o bizarro, que para ela são "peças importantes para o livro ser instigante". "Senão fica monótono", conta.

Foi tanto material que ela percebeu que, se não editasse um livro, seria um desperdício. Mas aí houve outro problema: e o dinheiro? Se a produção foi feita com base no crowdsourcing, porque não apelar também para uma maneira colaborativa de financiamento?

Bia conheceu o Movere.me, plataforma de crowdfunding, que abraçou o projeto. Ela pediu R$ 3,5 mil para viabilizar a edição de 100 cópias numeradas do livro. "Achei fantástico descentralizar cotas de patrocínio para a pessoa física. Achei esse um dos mais independentes processos de viabilização possível." Deu certo. Ela conseguiu até mais do que o previsto (R$ 3,9 mil foram doados por 43 pessoas).

Publicação

O livro saiu e, além da edição impressa (que vem com CD encartado para as obras multimídia), há uma versão online "para ver" e outra "para roubar", em forma de download no MediaFire.

Todo o trabalho foi feito em apenas três meses. No fim do processo, além da recriação, o livro História da Arte Pirata rendeu algo mais para Bia. De tanto depenar o História da Arte, ela mudou de opinião sobre o livro careta de Gombrich. Acabou se apaixonando por ele.

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