Entre a combinação de entusiasmo e susto da semana passada, um dado extremamente preocupante passou quase despercebido: a produção industrial de janeiro, calculada pelo IBGE, veio bem abaixo das expectativas, revelando uma redução em relação a dezembro do ano passado da ordem de 1,3% quando corrigida pela variação estacional. O aumento entre janeiro de 2005 e janeiro de 2006 foi de apenas 3,2%. O resultado é inquietante, porque interrompeu uma recuperação que havia começado em setembro. E mais ainda porque desde aquele mês a série revisada da produção industrial do IBGE situou-se sistematicamente abaixo da velha estimativa.

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O quadro ao lado revela a situação do setor industrial

Ao contrário de 2004, quando a indústria cresceu consistentemente, em 2005 o crescimento foi relativamente menor e com maior volatilidade. Dado constrangedor é a produção de bens de capital, vítima da exagerada sobrevalorização cambial, que desestimula a produção interna e as exportações ao mesmo tempo em que barateia as importações, introduzindo uma grande instabilidade no setor.

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A atenção do governo ao setor industrial deve ser redobrada, porque ele não apenas comanda boa parte do mercado interno e do emprego como é fator decisivo no ritmo do crescimento econômico. O gráfico abaixo mostra a estreita relação entre a taxa anual do crescimento da indústria (trimestre do ano/trimestre homólogo do ano anterior) e a taxa de crescimento do PIB (medido da mesma maneira).

A variação percentual da produção industrial entre trimestres homólogos explica quase 90% da variação do PIB nos mesmos períodos. Uma regrinha prática (obviamente sujeita a pequenos erros absolutos) é a seguinte: o crescimento anual do PIB pode ser aproximado somando-se 1,1% à metade do crescimento percentual da produção industrial. Por exemplo: a taxa de crescimento da produção industrial em 2005 foi de 2,9%. A sua metade é 1,45%, o que, somado a 1,1%, dá como estimativa do PIB: 1,45% + 1,1% = 2,6% (o PIB cresceu 2,3%).

Para que o PIB possa crescer 4% em 2006, é preciso que a produção industrial termine o ano com um crescimento entre 6% e 7% (contra os 2,9% dos últimos 12 meses). Isso depende de uma política de redução da taxa de juros e de alguma desvalorização do real. Será isso compatível com o "mito" construído pelo Banco Central de que não podemos crescer mais do que 3,5% sem acelerar a inflação?

dep.delfimnetto@camara.gov.br