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Na última reunião do G8, realizada em São Petersburgo, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, além da força de anfitrião, mostrou grande desenvoltura ao propor e ter aprovada a discussão da questão energética no mundo. Até aí, nada de novo, pois a escassez de petróleo, gás e outros energéticos preocupa todos os países.

Mas a mensagem de Putin foi além da proposta. Ele quis dizer que a Rússia está de volta e quer utilizar seus recursos naturais como uma alavanca para voltar a ter poder no mundo. Esse desejo não é sonho. Ele faz parte de uma complexa maquinaria que vem sendo montada para restabelecer o controle do Estado nas áreas mais estratégicas. O país passa por uma fase de reanimação intensiva das megaempresas estatais. Para se ter uma idéia, a Gazprom, que cuida do gás natural, tem um faturamento de US$ 225 bilhões por ano, quase 40% do PIB brasileiro (US$ 600 bilhões). É um número fenomenal.

Peça por peça, Putin vem remontando tais empresas, tendo à frente seus antigos colegas da polícia secreta da KGB. Trata-se de um casamento bem entrosado entre o poder econômico e o poder político. Esses executivos dominam não apenas as empresas de gás e petróleo, mas também as usinas nucleares, os metais, o armamento, a aviação, o transporte e até os jornais, rádio e televisão.

A oligarquia dos tempos de Boris Yeltsin e antecessores, que Putin se dispôs a eliminar, está sendo rapidamente recriada, usando as empresas estatais para restabelecer o controle do Kremlin. Segundo matéria publicada em jornal britânico, até os juízes estão dando preferência às empresas estatais nas disputas judiciais que têm de julgar (Back in Business, Financial Times, 19/6/06). O Estado russo – relembrando o Estado soviético – está se tornando o maior "player" nos movimentos de fusões e aquisições de empresas.

Esse tipo de estratégia é perigosa e põe em risco o quadro energético mundial. Como a Rússia dispõe de muitos recursos naturais, agora, com o poder concentrado e nas mãos do governo, as empresas tenderão a exercer forte pressão sobre as nações consumidoras – um complicador a mais no conturbado cenário mundial.

Oxalá a nossa Petrobrás continue trabalhando serenamente, descobrindo energéticos e se mantendo fora do jogo político, porque a concorrência – que já é brava – deverá apertar ainda mais, com grande possibilidade de inúmeras elevações artificiais do preço do gás e do petróleo no mercado internacional.

antonio.ermirio@antonioermirio.com.br

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