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Não gosto muito de dar opiniões sobre o país dos outros. Temos problemas suficientes para nos ocupar aqui no Brasil. Mas certas medidas são preocupantes porque ferem os princípios fundamentais do ser humano.

O presidente Hugo Chávez determinou que todas as escolas da Venezuela, públicas e privadas, têm de disseminar em seus alunos as idéias do chamado socialismo do século 21. Nas suas palavras, "a educação venezuelana tem de ser livre dos valores individualistas do sistema de ensino capitalista. Quem não seguir essa orientação terá a escola fechada. Haverá intervenções e nacionalizações. Nós [o governo] assumiremos as crianças" ("Chávez faz ameaças a escolas", O Estado de S. Paulo, 18/9/07).

Para dar curso a esse plano, foi organizado um corpo de inspetores, cuja função é verificar o conteúdo ministrado pelos professores. Está sendo preparada uma padronização dos livros didáticos a que toda escola terá de se submeter a partir de 2008.

Não é a primeira vez que o presidente Chávez intervém na economia e na sociedade venezuelana. Juízes já foram afastados, a Corte Suprema foi toda trocada, a televisão privada foi estatizada, empresas estrangeiras foram nacionalizadas. O presidente Chávez "ganhou" do Congresso a "ley habilitante" que lhe permite governar por decreto.

Agora chegou a vez das crianças. É demais. No mundo civilizado costuma-se confiar na capacidade de discernimento das pessoas. O socialismo será a escolha natural das crianças se, quando adultas, vierem a considerar esse o melhor regime para o progresso da Venezuela. Por que tirar-lhes a possibilidade de conhecer idéias diferentes? Por que forçar a homogeneidade num mundo que, a duras penas, aprendeu a valorizar a diversidade?

A Venezuela é um país de boa tradição política. Chegou a ser o berço da democracia cristã da América Latina. Com 26 milhões de habitantes, o país tem um PIB de US$ 150 bilhões. O petróleo é o seu carro chefe. Por muitos anos haverá dinheiro para se oferecer uma educação de boa qualidade às crianças e adolescentes.

Diante de todos esses fatores favoráveis, assiste-se o garroteamento da liberdade da juventude. Nenhum povo merece ser educado numa escola de uma só idéia. Vivemos na sociedade do conhecimento, onde o trabalho é feito em grupo e com base em conhecimentos multidisciplinares. Sinceramente, não esperava ver isso em um país vizinho do Brasil onde, felizmente, desfrutamos de liberdade para exprimir o que pensamos.

antonio.ermirio@antonioermirio.com.br

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