Faz algum tempo que chegamos ao fim do ano com a sensação de que o melhor seria pular o ano seguinte. Foi assim em 2014, quando ficou claro que o país precisava de um ajuste difícil e longo. De novo em 2015, quando a recessão se mostrou muito pior do que podia se imaginar, estendendo seus tentáculos para 2016. E é assim agora, quando essa mesma recessão ainda não deu sinal de quando vai acabar.

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Se tudo der certo, vamos finalmente mudar de olhar no fim do ano que vem. Veremos 2018 como o momento de respirar e aproveitar a volta, mesmo que tímida, do crescimento econômico. Parece pessimismo, mas ainda teremos meses de trabalho duro pela frente antes de ver a crise pelo espelho retrovisor.

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A primeira razão para esse pessimismo é que não temos um motor para crescer. Com o maior desemprego, o consumo não deve voltar logo. As exportações, nossa esperança de sempre, podem crescer pouco apenas porque não encontram um mercado tão aquecido como no passado. E o governo simplesmente não deveria tomar a dianteira do gasto.

Isso porque o nó das contas públicas ainda não foi resolvido, apesar da aprovação do projeto que limita os gastos. Uma coisa é haver teto e outra é a política fiscal estar ajeitada – o que na prática significa ela apoiar da melhor maneira a estabilização da economia. Como estamos em um momento de contas deficitárias, com a dívida pública projetada para passar dos 90% do PIB nos próximos cinco ou seis anos, a política fiscal ajudaria mais se ficasse apertada o suficiente para liberar a redução rápida dos juros pelo Banco Central. Não estamos nesse ponto ainda. O governo terá de dizer nas próximas semanas de maneira mais convincente como quer atingir sua meta de déficit primário (R$ 149 bilhões, antes do pagamento de juros).

Às dificuldades de gestão econômica somam-se algumas incertezas, como a posse em janeiro do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e a instabilidade política provocada pela corrupção. Nesse último ponto, a transformação do país é profunda e lenta. Estamos saindo de um modelo de relação entre empresas e Estado e caminhando para outro que pode ser melhor. A transição não é simples.

Por isso, mesmo sem qualquer imprevisto negativo fora do radar (coisa que não é rara), não podemos esperar que 2017 trará mais do que uma estabilização da economia do país. Construir um novo modelo fiscal, uma nova forma de relação entre Estado e iniciativa privada, e abrir espaço para o crescimento dos setores mais competitivos do país é uma tarefa que naturalmente demora. Mas temos uma oportunidade e tanto para aproveitar.

Talvez 2018 se torne o ano do que ainda falta: uma reconstrução política profunda, capaz de dar poder a lideranças com uma visão de longo prazo e sem os vícios da corrupção investigados pela Lava Jato. É um ingrediente essencial para compor as instituições de que o país precisa: uma burocracia que funcione (do atendente de um posto de saúde até o ministro do STF), mercados competitivos e bem regulados, e um governo que mobilize as forças da sociedade para o bem comum.

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Em alta

Bolsa

Apesar dos altos e baixos de 2016, a bolsa foi o melhor investimento, com retorno real de 30%. Apesar da melhora, o Ibovespa continua com dificuldade para se manter acima dos 60 mil pontos.

Em baixa

Contas públicas

O déficit de R$ 39 bilhões em novembro foi o pior resultado desde o início da série histórica, em 1997. O número é um alerta de que a arrecadação ainda não estabilizou e mais déficits altos vêm pela frente.