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1983. No primeiro domingo do ano nascia, aqui na nossa Gazeta do Povo, a coluna De Olho no Leão. O convite, que partiu do saudoso Francisco Cunha Pereira Filho, frutificou e hoje representa um dos principais acontecimentos de minha vida, que tem início em modesto berço de Labiata (Panelas), crivada na fronteira da Zona da Mata e do Agreste de Pernambuco, aonde jamais chegará jornal impresso do dia, nem metrô nem navio.

Como diria o João Ubaldo Ribeiro, mesmo que o ano tivesse acabado agora em dezembro, a notícia oficial ainda levaria alguns dias para se espalhar em Labiata. Outros dias a mais para percorrer os sítios que se espremem entre as serras da Bica, do Boqueirão e dos Timóteos, palco da batalha final da Guerra dos Cabanos.

Hoje, como presente de aniversário de três décadas de colaboração no maior e melhor jornal do Paraná, o leitor atento já percebeu que me dei o direito de não falar de imposto de renda, tributação e quejandos. Pelo mesmo motivo, não cairia bem falar de alguns de nossos escritos que porventura, aqui e alhures, tenham notabilizado a coluna nesse período. É feio falar de si mesmo.

A escola

E porque estou a tão poucos metros de onde escrevi o primeiro De Olho no Leão, a mente parece não se desgrudar daquele momento, daquela máquina elétrica IBM à minha disposição no segundo andar do prédio do Ministério da Fazenda, ali na Marechal Deodoro, 555, onde ficava a Divisão de Tributação da Delegacia da Receita Federal, chefiada por João Trela. Nesta tarde de sexta feira, 4 de janeiro de 2013, giro os olhos naquela direção e digo para mim: foi a melhor escola...

Um velho ritual

Levei horas para escolher um título que melhor correspondesse ao conteúdo da matéria, que reunia dicas voltadas ao preenchimento da declaração do imposto de renda das pessoas físicas do exercício de 1983. Até que o filhote foi batizado com o nome de Um Velho Ritual.

Como era

O artigo dissecava as regras – bem mais complicadas, se comparadas com as de hoje –, relacionadas às diversas categorias de rendimentos. Conforme a natureza do ganho, eram classificados em cédulas que iam de "A" a "H".

Em cada uma delas, havia campos para as respectivas deduções, entre as quais despesas com uniformes e livros escolares, bastando que fossem obedecidos os critérios fixados por instruções normativas da Receita Federal. Também era possível abater dos rendimentos as despesas com aluguel e as prestações relativas ao financiamento da casa própria.

Como é hoje

O Leviatã foi criando tentáculos e com o tempo devorou direitos sagrados dos súditos, a exemplo das deduções acima referidas, e implantou em Pindorama uma das maiores cargas tributárias do planeta. Sob o escudo do velho e severo princípio do non olet (dinheiro não cheira), tributa até pensão alimentícia recebida por mães e filhos desvalidos. E em alguns municípios, tributa a chegada de turistas e exige taxa de iluminação pública dos cegos. Não, não vamos falar sobre isso. Promessa é promessa.

Vamos encerrar dizendo que renovamos nossos propósitos de colaborar com os leitores, levando-lhes informações atualizadas, notadamente na seara do Leão, mesmo que demorem para chegar a Labiata. Afinal, lá, ninguém tem pressa. Quem duvidar, que se apresse.

A coluna de hoje é dedicada aos jornalistas Wilmar Sauner (de sentida memória) e Maury Ricetti, pelo incentivo inicial, que permanece perene.

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