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Tem coisas que parecem não mudar nunca. Uma delas é a disposição dos governos em meter a mão no bolso do cidadão. A gente costuma dizer que o governo do Brasil é melhor nisso que os outros – o que não é, exatamente, verdade; de fato, em qualquer país do mundo há gente muito insatisfeita com ações de governo, em especial em tempos de crise.

Pensei nisso ao acompanhar a discussão do veto presidencial à vinculação do reajuste dos aposentados à variação do salário mínimo. Ela me fez recordar uma reportagem que escrevi em dezembro de 1999, quando trabalhava em outra publicação. O título era “Ataque ao bolso do vovô”, e descrevia uma trapalhada da administração Fernando Henrique Cardoso. À época, o porta-voz da presidência mencionou que estudava-se criar dois salários mínimos diferentes, um para trabalhadores na ativa e outro para os aposentados. O dos aposentados seria menor, e a ideia por trás disso era combater o rombo nas contas da Previdência.

A intenção foi bombardeada pela opinião pública e acabou sepultada. De vez em quando, entretanto, ela volta, mais ou menos disfarçada. Porque o Brasil ainda não aprendeu a encarar de frente a questão da Previdência. E também porque muitas das pessoas que formulam as políticas públicas perderam o contato com a realidade. Os muitos números os fazem delirar.

Os números que importam dizem que, hoje, 69,3% dos beneficiários da Previdência recebem um salário mínimo (os dados são de um relatório do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, Dieese, publicado no início deste ano). Aumentar os vencimentos dessa turma custa caro, é verdade. Mas não aumentar também pode custar caro. Trata-se, por exemplo, de uma fatia da população que demanda muito dos serviços de saúde. Quanto menores forem os vencimentos, maior será sua dependência em relação ao sistema público de saúde – vai ficar mais difícil pagar pelo plano de saúde ou comprar medicamentos, por exemplo. E o governo terá de gastar mais nessas áreas.

A chatice do achatamento

Há décadas tenta-se resolver o problema do rombo na Previdência achatando os benefícios. Semana passada conversei com alguém que contou que, quando começou a contribuir para a Previdência Social, a regra dizia que ele receberia uma aposentadoria de 20 salários – esse era o teto da Previdência. Hoje ele recebe 4 salários mínimos.

Fosse com trabalhadores da ativa, esse achatamento levaria a greves e manifestações. Mas os aposentados por aqui são pacíficos, e certamente não têm o mesmo poder de mobilização que os sindicatos.

Esse é um tema de fundo político e macroeconômico. Ao fim, resta dizer que é preciso fazer alguma coisa diferente, mas os governos seguem fazendo sempre a mesma coisa – buscando soluções imediatas e ineficientes, que apenas empurram a solução alguns anos mais para a frente.

Pragmatismo

Para nós, no nosso dia a dia, a solução é ser pragmático. Não é possível contar com aquilo que, historicamente, vem escapando pelos nossos dedos. Se você é trabalhador da ativa hoje, não pode relaxar esperando que seu futuro seja custeado pela Previdência. Ao contrário do que acontece com as aposentadorias de presidentes, governadores, parlamentares, magistrados e de alguns funcionários públicos privilegiados, a sua será corroída pelos maus governantes. Pense no seu futuro. Você pode investir em imóveis, ações, Tesouro Direto, fundos de previdência privada... Só não pode esperar uma ajuda que não virá.

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