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Veroca na sala dos esquilos: consumismo  deixa o comprador chamuscado | Divulgação
Veroca na sala dos esquilos: consumismo deixa o comprador chamuscado| Foto: Divulgação

Você já fez sua lista de compras para o Natal? Já começou as visitas a lojas e shoppings em busca de lembrancinhas, presentinhos e presentões? Vai aproveitar para comprar regalos para si próprio?Sim, o fim de ano convida a comprar. E convida também a exageros.

Convém lembrar que o grande varejo é altamente profissional. Seus executivos estudam muito para conhecer as preferências do consumidor e, a partir delas, preparar decoração das prateleiras. Por meio dos cartões de fidelidade, eles são capazes de estabelecer padrões de consumo por categoria de rendimento, sexo e localização geográfica. E se organizam para obter o melhor índice de vendas para esse público. Você vai entrar desarmado nessa guerra?

Por isso comecei a coluna perguntando da lista: ela é um instrumento simples e eficiente para quem não quer gastar demais. Trata-se de uma forma de impor racionalidade ao processo de compra. A vantagem é que a lista é feita em casa, longe da sedução das embalagens bonitas e da música ambiente das lojas. Você coloca nela os itens que quer ou precisa comprar, de modo objetivo. Ao passear pelas lojas, pode adaptá-la, mas não se desviará muito do resultado desejado.

O mesmo vale para as compras de supermercado. Sem lista, você corre o risco de comprar mercadorias de que não precisa e esquecer gêneros essenciais.

Exageros consumistas

No filme (e no livro) A fantástica fábrica de chocolate, a personagem Veroca Sal é a menina mimada que ganha tudo o que quer. Até que, em meio ao tour pela linha de montagem surreal de Willy Wonka, ela se encanta com os esquilos que selecionam as nozes a serem usadas nos doces. "Resolvi que quero um esquilo. Quero um esquilo desses", diz. Não importa que ela já tenha outros animais em casa – cachorros, gatos, coelhos, periquitos, um papagaio, uma tartaruga, peixes, ratos brancos e hamsters. Acontece que os bichinhos não estão à venda. Em sua insistência para ficar com um deles, ela entra no recinto dos esquilos, que acabam por atirá-la no incinerador. (A cena está somente no último filme, de 2005; na versão de 1971, Veroca encanta-se com os gansos que botam ovos dourados.)

A atitude consumista que muita gente tem nesta época do ano tem um pouco de Veroca. À semelhança do que ocorreu com a personagem, os exageros nas compras também tendem a ser punidos. E o comprador sai chamuscado.

Governo, o adversário

Como ter uma atitude responsável em relação ao consumo quando o governo se esforça tanto para fazer com que os brasileiros comprem? Veja o que foi feito na semana passada, com as medidas de estímulo ao consumo anunciadas pelo ministro Guido Mantega: a redução de impostos da linha branca é um empurrão bem grande para as compras de bens duráveis. Só que uma geladeira não custa o mesmo que um panetone. Boa parte dos consumidores precisa financiar uma compra como essa. Assim, a cadeia de incentivos resultante da medida desemboca no sistema financeiro, e tende a levar o cidadão a contrair mais uma dívida.

O problema é que o brasileiro já está endividado e, além disso, paga os maiores juros reais do mundo. Estimular o consumo de bens financiados para essa turma equivale a oferecer cerveja gelada, num dia quente de verão, a um alcoólatra em tratamento. A oferta parece irresistível, embora todos saibam que o resultado será péssimo. Vale lembrar que, segundo o Banco Central, 42% da renda total anual das famílias brasileiras estão comprometidos com dívidas. O índice nunca foi tão alto.

"Os próximos dois anos serão bem incertos em nível mundial", diz o economista Mario Almeida, da Axiom Educacional, empresa especializada em cursos sobre investimentos e educação financeira. "E nós não estamos tão a salvo como pode parecer." O que ele quer dizer é que a fase fantástica por que passa a economia brasileira pode não ser tão supimpa no futuro, o que traria alguma insegurança para o cenário bonito que temos hoje, em termos de emprego e renda. O conselho de Almeida: "Pague à vista sua má­­quina, com o desconto de R$ 100 da redução de tributo, e tenha um janeiro mais tranquilo".

Rumo ao Natal

A cidade está em clima de festa e os papais noéis estão à solta. Esta coluna quer de presente o seu comentário – pode ser uma dúvida ou até uma bronca. Escreva para financaspessoais@gazetadopovo.com.br.

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