Ou pelo menos não devia ter privatização. Foi bastante oportuna a reportagem de Fernando Jasper sobre as possíveis alienações de empresas por parte do governo Temer, publicada nesta semana. A ideia de privatizar está na boca do povo e, certamente, passa pela cabeça de quem está no governo, por variadas razões. Dentre elas, algumas das mais poderosas são as seguintes:

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• a administração federal precisa desesperadamente de dinheiro. Não dá para governar com um déficit de R$ 170 bilhões. A entrada de recursos via privatização traria um pouco de recheio ao caixa da União;

• as forças políticas e econômicas que apoiaram e apoiam o governo têm interesse em fatias dessas empresas. Muitas delas esperam tirar desse apoio vantagens reais nesses processos de privatizações. Vantagens, aliás, que não seriam necessariamente legais.

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Há boatos por aí sobre privatizações. A maioria é simplesmente falsa. Outros podem muito bem ser balões de ensaio, lançados com o objetivo de testar a resposta do mercado e, mais ainda, da opinião pública. Apesar deles, há razões muito fortes para não haver privatizações no governo Temer.

A primeira e, talvez, mais óbvia, é que este é um governo interino e sem respaldo do voto. Para promover privatizações que valham a pena é preciso ter a confiança da população, caso contrário qualquer iniciativa vai por água abaixo, por pressão popular.

A segunda razão é que seria mau negócio. Dado o mau momento financeiro do Estado brasileiro, eventuais interessados em comprar estatais possivelmente entrariam com lances baixos. Além disso, o preço das ações brasileiras continua deprimido em relação aos seus valores históricos.

Uma terceira razão seria a insegurança jurídica. Qualquer tentativa de privatização, hoje, provocaria uma onda de ações judiciais capaz de travar todo o processo. Foi o que aconteceu com a venda da Gaspetro, subsidiária da Petrobras, ao grupo japonês Mitsui. Quem entra em um leilão sabendo que, mesmo que arremate a empresa, há a possibilidade de não tomar posse dela? Esse é mais um fator a deprimir os preços e a tornar a privatização desaconselhável no atual estado de coisas.

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Petroleiras

E alguém sempre vai dizer que é preciso vender a Petrobras porque uma petrolífera estatal não tem eficiência, é fonte de corrupção e coisa de país atrasado. Não necessariamente. Tentem dizer isso aos noruegueses, que têm sua Statoil explorando óleo no Mar do Norte, e aos dinamarqueses – a petrolífera Dong é a maior empresa do país.

Dólar

O mercado de câmbio parece estar reagindo a uma provável mudança radical de orientação nas cabeças do Banco Central. O novo presidente, Ilan Goldfajn, andou esclarecendo em entrevistas sua opção pelo livre mercado de câmbio – ou seja, sem intervenções ou com entradas mínimas, cirúrgicas. Recentemente, o BC vinha operando no mercado futuro com o objetivo de impedir o recuo nas cotações do dólar. Fazia isso com o objetivo de manter o saldo da balança comercial. Graças a essa estratégia, o mês passado foi o melhor maio da série histórica, o que não deve ser surpreendente: a crise faz com que o país importe muito pouco, ao passo que as empresas se veem estimuladas a exportar pela perspectiva de um lucro elevado, já que o dólar que entra no país valia mais com a moeda externa apreciada.

Analistas dizem que os operadores vão testar cotações cada vez mais baixas para a moeda americana. Fala-se em valores em torno de R$ 3,20 por dólar como “alvo”.

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