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Uma cidade pequena, com ruas de terra e poeira, em meio a uma paisagem desértica. As casas de madeira parecem vazias, mas só parecem – os moradores estão todos escondidos, com medo. O vento sopra e arrasta folhas secas. No meio da rua, dois pistoleiros – um de chapéu preto e um de chapéu branco, é claro. Eles se olham, o rosto tenso e suado. O tiro mais rápido vai resolver a questão. É tudo uma questão de respostas rápidas e sangue-frio.

Corta. A cena agora é de um sujeito de terno, em uma sala movimentada – mas também pode estar de pijama, no quarto, com o laptop no colo e o home broker da corretora. Em vez de um inimigo armado, quem está do outro lado é... Quem mesmo? Tanto faz, o importante é ter sangue-frio.

Eu mesmo mencionei isso na coluna da semana passada. "Quem não precisa da grana agora deve seguir o conselho clássico que vale para toda crise: sangue-frio", foi o que escrevi. Esse, eu sei, é um lugar-comum, uma daquelas ideias que alimentam o mito em torno do mercado de ações – que seria algo para super-homens (e supermulheres), gente com nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração. Não é nada disso. A questão é que o pior momento para abandonar uma aplicação é quando ela está em baixa. É preciso, então, ter paciência, calma, aceitar alguns infortúnios em nome de um resultado que ainda não se pode ver. É isso que se deve ter em mente quando se pensa em sangue-frio.

A encrenca é que os seres humanos são criaturas de sangue quente – alguns mais do que outros, naturalmente. Ninguém está imune ao medo de perder economias de anos ou dinheiro que estava guardado para alguma finalidade importante. Se alguém consegue agir assim é porque tem algo de máquina. Não dá. Por isso gostaria de alinhavar três ferramentas antiestresse para investidores. Se você pensa em aproveitar as oportunidades que se desenham com ações baratas na bolsa, sugiro que dê uma olhada. A não ser, claro, que você seja o tipo do cara viciado em adrenalina.

A primeira ferramenta é a educação. É preciso estar em dia com o funcionamento da bolsa e, pelo menos, ler alguma coisa sobre as crises. É que elas aparecem de vez em quando. Quem pretende aplicar dinheiro na bolsa no longo prazo (e a bolsa faz mais sentido, sempre, no longo prazo) precisa saber que vai se encontrar com uma delas. Também precisa conhecer o funcionamento do mercado, para diferenciar as empresas e reconhecer aquelas que têm potencial para vencer as dificuldades antes.

Outra ferramenta é bem prática, a ordem de stop. É um controle que, no home broker, é automático mesmo. Por meio dele, o investidor define o quanto ele pode aceitar de perda caso a ação em que está investindo se desvalorize. Quando isso acontece, o sistema dispara imediatamente uma ordem de venda. Isso é útil porque um erro comum é o investidor assistir à queda do papel enquanto trava uma guerrinha consigo mesmo. "Vai subir", ele pensa. "Logo vai subir." Mas o preço continua caindo...

A terceira ferramenta é a da diversificação. Os recursos aplicados na bolsa não podem ser aqueles que você pode precisar a qualquer momento. Imagine, por exemplo, que você precisa pagar um balão de um financiamento imobiliário em dezembro. Deixou o dinheiro na bolsa porque ela vinha se valorizando bem no ano passado. Só que os papéis começaram a cair, e agora você acha que não vai ter dinheiro para o balão. Isso é desesperador. Para evitar isso, divida os recursos em diferentes aplicações. As despesas que têm data marcada devem ser pagas a partir de aplicações mais conservadoras – fundos de renda fixa ou mesmo a boa e velha poupança.

Chapéu preto

Voltando à analogia do início deste texto, talvez você já saiba quem é o inimigo do investidor, o cara do chapéu preto do outro lado.

É você mesmo.

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