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É bem provável que o Brasil consiga crescer no ano que vem acima da média da economia mundial, pois a crise internacional fará aqui menos estragos no sistema financeiro do que lá fora. Mas qual será o patamar desse crescimento? É uma pergunta difícil de responder nas condições atuais. Por isso pode ser uma temeridade qualquer elevação nas taxas básicas de juros no momento.

O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne na quarta-feira diante de um dilema: no curtíssimo prazo, o Banco Central vem liberando recursos para o sistema financeiro não interromper suas operações de crédito, evitando assim que a economia sofra um tranco e fique estagnada; por outro lado, a crise detonou um movimento altista no câmbio e haveria algum risco de o dólar pressionar os preços internamente.

O Copom vinha aumentando as taxas básicas de juros para encarecer o crédito e esfriar a procura por bens e serviços. Mas agora o BC está sendo obrigado a atuar no sentido inverso, forçando a barra para os bancos emprestarem, mesmo que de maneira seletiva (agricultura, exportações, construção civil). Uma nova elevação dos juros iria contrariar tudo que vem sendo feito nas últimas semanas. Seria uma atitude esquizofrênica em relação à política monetária doméstica.

Além do mais, desde a reunião em que o Copom resolveu, no início de setembro, aumentar a taxa básica em 0,75 ponto porcentual (decisão já bem controvertida na época, e que logo em seguida se mostrou exagerada), vários bancos centrais tiveram de baixar os juros ao redor do mundo. A diferença entre as taxas brasileiras e internacionais vem se ampliando, o que deixa o país mais vulnerável a movimentos de capitais especulativos.

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Se a desvalorização do real frente ao dólar causou problemas contábeis – ou perdas efetivas – para empresas que fizeram operações arriscadas no mercado de câmbio, já no curto prazo deve contribuir para estancar o déficit em transações correntes do balanço de pagamentos (contas externas), que poderia entrar em uma trajetória ameaçadora. O ajuste cambial estava mesmo para acontecer e, por isso, será benéfico ao conjunto da economia brasileira que a paridade do real por dólar fique em torno de R$ 2.

Como em economia não há almoço grátis, o ajuste cambial tem impacto quase imediato sobre os índices de preços apurados pela Fundação Getulio Vargas, que, por sua vez, servem de referência para correção de aluguéis e tarifas de serviços públicos, o que leva uma parte dos analistas do mercado financeiro a prever que o Banco Central ainda poderia subir um pouco mais os juros se não nesta, mas na reunião seguinte do Copom, marcada para dezembro.

Porém, tal definição dependerá fundamentalmente de como se comportará a economia mundial até lá, e não somente de fatores domésticos. Até lá, quanto menos marola, melhor.

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É curioso, mas, paralelamente ao grande número de novas construções nos últimos meses, cresceu também a procura por imóveis para locação em quase todas as capitais. A demanda por novos apartamentos e casas deveria ser formada principalmente por pessoas que desejam se livrar do aluguel. Mas, como constatou recente estudo do Ipea, muita gente ainda compartilha moradias no Brasil. Cerca de 9% da população das regiões metropolitanas vivem em imóveis com três ou mais pessoas por cômodo, em situação de desconforto e até insalubre. E mais de 5% da população urbana do país comprometem com aluguéis além de 30% de sua renda familiar.

Isso talvez explique o aumento de procura tanto por novas habitações como para imóveis para locação. "Nos últimos cinco anos a balança virou em favor dos proprietários", diz Leonardo Schneider, diretor superintendente da Apsa, uma das maiores administradoras de condomínios e imóveis do país. "Em certos bairros da Zona Sul do Rio, por exemplo, há filas de interessados em alugar apartamentos de dois a três quartos. São imóveis de classe média, basicamente". Schneider atribui essa procura simultânea, para compra ou aluguel, à melhora que a economia brasileira vinha registrando, fazendo com que todos se sintam – ou se sentiam – mais seguros em relação a seus empregos e rendimentos.

Nos Estados Unidos, também aumentou a procura por imóveis para locação, mas por causas diferentes. Com a crise financeira, o crédito para se adquirir imóveis minguou e essa dificuldade tem levado os potenciais compradores a alugar imóveis enquanto aguardam a normalização do mercado.

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Sem os investidores estrangeiros, a bolsa de valores brasileira não teria subido tanto em determinada fase. Daí que o mercado estendia tapete vermelho para a entrada desses recursos. A outra face da moeda é que nesse ambiente de crise os investidores batem em retirada pondo todas as ações brasileiras no mesmo saco. Caíram os preços dos papéis tanto de companhias que têm registrado elevado lucro como de empresas que apresentam prejuízo.

Na semana passada, pelo menos metade das ordens de venda de ações veio do exterior. É difícil identificar lógica em um processo em que investidores decidem perder fortunas. Ainda mais sem ter para onde correr.

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