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Não há pacote capaz de resolver de uma penada a crise em que o sistema financeiro americano (e o de vários países desenvolvidos) está mergulhado. O jeito é buscar saídas pelo próprio mercado, o que, aparentemente, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, tentará pôr em prática, por meio do fundo que negociará os chamados títulos tóxicos dos bancos.

O agravamento da crise faz com que, a cada dia, aumente a parcela de créditos, papéis e operações que poderiam ser consideradas como tóxicas (no Brasil, é mais usado o termo "podre"). Dependendo de como se avalia essas operações, o rombo é mastodôntico — e não por acaso as projeções sobre as perdas variam de uma para outra na casa dos trilhões de dólares.

O mercado financeiro perdeu suas referências e essa absoluta falta de confiança impede qualquer tipo de negociação com tais papéis. Se o tal fundo que o Tesouro americano constituirá juntamente com recursos do setor privado começar a transacionar alguns desses papéis ou créditos, é possível (embora não garantido) que o mercado passe a identificar oportunidades de ganhos em negociações correlatas, e o sistema, enfim, consiga se destravar.

Não é nada fácil dar partida a mais essa tentativa de recuperar o sistema financeiro. O fundo terá que fazer escolhas, o que pode privilegiar essa ou aquela instituição financeira. O valor a ser atribuído a cada título também é uma grande incógnita. Se for muito baixo, pode referendar os gigantescos prejuízos e confirmar a insolvência de diversas instituições, o que só agravaria a crise. Mas se for bem acima do que o mercado estará disposto depois a transacionar, o fundo é que sofrerá enormes perdas e a iniciativa fracassará, pois o setor privado só será atraído para o projeto se houver real possibilidade de ganho.

Equacionar essas questões não é algo simples, mas como o momento exige uma ação rápida das autoridades, o secretário Geithner provavelmente teve que anunciar o projeto sem que seus contornos estivessem todos definidos.

É uma situação do tipo ‘se correr o bicho pega, se ficar o bicho come’. Se nada fosse anunciado, o mercado ficaria especulando sobre o que vinha sendo engendrado nos gabinetes do Tesouro. Mas um anúncio sem que estivesse completamente claro o que o governo pretende fazer também estimulou movimentos especulativos. Ou seja, os problemas são tão graves que nada será capaz de tranquilizar os agentes econômicos até que os mercados efetivamente encontrem saídas.

Safra

A safra brasileira de grãos neste ano somente não será recorde porque as encomendas de insumos (fertilizantes, principalmente) foram feitas antes de a crise financeira internacional explodir, em setembro passado. Na ocasião, o real estava valorizado, porém os preços dos insumos, em dólares, andavam nas alturas. Com a crise, os fertilizantes baratearam, mas, em compensação o real se desvalorizou muito frente ao dólar. No entanto, considerando-se as cotações atuais da soja, por exemplo, o agricultor será agora mais bem remunerado do que no ano passado. Só que a época não é mais de plantio, e sim de colheita, e a safra refletirá o quadro pré-crise.

As culturas que usam mais insumos terão fraco desempenho em 2009. Para ter uma boa produtividade, o algodão na região Centro-Oeste necessita de quatro vezes mais insumos que a soja.

Siderurgia

Curiosidades sobre a CSA (Siderúrgica do Atlântico), que está programada para produzir a primeira placa de aço no dia 15 de dezembro:

> os altos-fornos serão acesos com sobras de madeira da obra; o fogo passa a queimar a primeira camada de coque, que vai derretendo o minério de ferro sinterizado (aglomerado de modo a permitir circulação de ar entre as camadas) à medida que a temperatura interna sobe acima de 1.200 graus. A partir daí o processo é contínuo, com o alto-forno recebendo sucessivas camadas de minério de ferro e coque;

> a primeira das duas turbinas da termelétrica que está sendo montada na siderúrgica começa a funcionar em outubro, mas inicialmente com a utilização de vapor. Somente quando a coqueria, os altos-fornos e a aciaria entrarem em operação, no mês de dezembro, é que a termelétrica queimará os gases residuais da produção de aço;

> os gigantescos guindastes do terminal marítimo, montados na China, têm travas anti-furacão. Eles deslizam sobre trilhos, mas quando a velocidade dos ventos passa de 60 quilômetros por hora são conduzidos até essas travas. Parece exagero, porque o Brasil não é um país assolado por furacões, mas não é raro a ocorrência de ventos muito fortes na Baía de Sepetiba (um guindaste já chegou a tombar no porto vizinho). A empresa chinesa fornecedora dos superguindastes monta, em média, um por dia. São transportados em pé, por navios especiais, e chegam praticamente prontos para funcionar;

> a ThyssenKrupp já desembolsou mais de 2 bilhões no projeto da CSA;

- 1,5 milhão de metros quadrados de manguezais se tornou área de preservação permanente. A área está separada do restante da siderúrgica por uma cerca e apenas a equipe que faz trabalhos de recuperação, orientada por biólogos, pode entrar ali.

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