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Com volume relativamente pequeno, mas crescimento surpreendente, o Paraguai desponta no cenário internacional como um importante e o mais novo player de produção da América do Sul. E não estamos falando de futebol ou de produtos eletroeletrônicos. O assunto aqui é agronegócio, e de gente grande. Com a metade da população do Paraná – o maior produtor agrícola brasileiro – os paraguaios já produzem o equivalente a 55% da produção paranaense de soja. Na última temporada, o vizinho do Cone Sul colocou no mercado mais de 8 milhões de toneladas do grão. A considerar um consumo interno na casa dos 10%, mais de 7 milhões de toneladas precisam deixar o país. Aqui, uma oportunidade não apenas ao Paraguai, mas ao Brasil e à Argentina, por onde essa produção precisa ser escoada com destino à exportação, transformação ou então os dois casos.

E neste momento, diria que o Paraguai está mais para o Brasil que para a Argentina. Quem produz por lá são os chamados "brasiguaios", produtores brasileiros que foram explorar terras paraguaias; a tecnologia é basicamente brasileira, que, se não for nacional, é de multinacionais que operam a partir do Brasil; e a principal rota de escoamento da produção se volta novamente para os portos e o mercado brasileiro. O que é melhor: tanto o governo como os campesinos – trabalhadores rurais sem-terra daquele país – já se deram conta dessa realidade e passam a enxergar o Brasil como um parceiro estratégico para fazer do agro um dos grandes negócios no Paraguai. São inúmeras as variáveis que justificam essa nova postura. Uma delas, incontestável: no ano passado, o melhor desempenho do PIB entre os países da América do Sul foi o do Paraguai, com taxa de crescimento acima de 15%. Metade desse crescimento é atribuído à soja.

Podemos então dizer que o Brasil tem participação ativa e fundamental no desenvolvimento da agricultura e, por consequência, da economia paraguaia. Mas o país começa a se estruturar, tornar-se mais independente, dominar a tecnologia e se posicionar no mercado internacional e nas relações que mantém como membro do Mercosul. Para continuar a influenciar e participar desse movimento, governo e indústrias brasileiras terão de trazer o Paraguai cada vez mais para dentro do jogo, partilhar condições de acesso à tecnologia, mercados, logísticas e de sustentabilidade do negócio. O fato de eles voltarem a utilizar o Porto de Paranaguá já é uma boa notícia. A produção que cruza a fronteira via Paraná ou Mato Grosso do Sul é soja que deixa de seguir pelo Rio Paraguai ou Paraná em direção à Bacia do Prata, onde é esmagada ou exportada via Argentina.

Além disso, o Paraguai começa a montar seu parque agroindustrial, com capacidade para esmagar pelo menos 20% da produção de soja. A maior parte do óleo ou farelo acaba sendo exportada e demandando estradas e portos no Paraná, mas agora com valor agregado. Estratégia que merece cuidado e atenção especial pelo Brasil. Eles usam a infraestrutura paranaense de logística e escoamento, porém com produto transformado e que gerou emprego e renda na base. Modelo de negócio ideal, a julgar pelas condições e variáveis inerentes a um novo negócio. O que eu quero dizer é que o Brasil precisa ficar atento e desenhar sua estratégia nessa parceria, porque daqui a pouco estaremos simplesmente prestando serviços ao vizinho. E, se isso ocorrer, não será a primeira vez. Por décadas contribuímos para o fortalecimento da economia paraguaia – às vezes informal, é verdade, mas, ainda assim, economia.

De qualquer forma, o que acontece no Paraguai tem relevância não apenas para os vizinhos Brasil e Argentina, mas ao agronegócio sul-americano. Juntos, os países da América do Sul precisam reivindicar seu reconhecimento de fato como o grande produtor mundial, capaz de fazer frente à também grande demanda global por commodities agrícolas para a produção de alimento e energia. Nem mesmo a cadeia produtiva parece ter a real dimensão da representação sul-americana nesse universo. Mas vamos colaborar e destacar apenas um tópico dessa discussão. Conforme os números da última safra, o mundo produz atualmente 260 milhões de toneladas de soja, sendo que 50% desse total saem de campos do Brasil, Paraguai e Argentina. É o trio sul-americano responsável pela metade da oferta mundial de soja, que, depois do petróleo, é a commodity com maior liquidez no mercado internacional.

Liderança e oportunidade

O Paraguai desponta e o Brasil, idem. Se o agro é um bom negócio para os paraguaios, para os brasileiros tem um potencial ainda maior. Mas, para fazer valer o seu papel de liderança política e econômica da América do Sul, o Brasil precisa se preparar não apenas para o seu crescimento, mas também para o avanço de seus pares, como o Paraguai. Se de certa forma somos padrinhos da agricultura daquele país, temos agora de dar suporte e capitalizar com o desenvolvimento do agronegócio paraguaio. Mas como fazer isso, se não conseguimos nem sequer promover o crescimento sustentável da atividade no Brasil? A produção cresce lá, mas também cresce aqui. Vamos precisar de mais estradas e caminhões, de mais trilhos e vagões, que precisam compor uma solução integrada que todos sabem com quem ou onde: o Porto de Paranaguá. É negócio e oportunidade, liderança e protagonismo. Ou fazemos ou ficamos para trás.

Para constar, nos últimos cinco anos a produção de soja no Brasil e na Argentina cresceu 28 e 22%, respectivamente. O avanço no Paraguai foi de 123%.

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