• Carregando...

Depois de 29 anos como funcionário de carreira do Banco do Brasil, onde também ocupou o cargo de diretor de Agronegócio da instituição, José Carlos Vaz experimenta uma ascensão meteórica dentro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Desde a sua indicação para a secretaria de Política Agrícola, em maio deste ano, foram poucos meses para assumir a secretaria Executiva e poucas semanas para ocupar interinamente o posto de número 1 da pasta. A partir de hoje ele responde como ministro interino, em substituição ao titular Mendes Ribeiro, que no fim de semana foi hospitalizado e submetido a um procedimento cirúrgico.

Paranaense de Londrina, Vaz chegou ao ministério ainda na gestão do ex-ministro Wagner Rossi. Com Mendes Ribeiro, se tornou o segundo homem do Mapa. Não por acaso, as indicações foram pensadas de maneira estratégica. No primeiro caso, até como forma de moralizar o ministério, num momento em que o ministro Wagner Rossi enfrentava uma série de denúncias de corrupção e desvios de verbas públicas. No convite mais recente, para garantir uma condução mais técnica nas relações com a cadeia produtiva, como forma de compensar a postura e o posicionamento quase que exclusivamente político do atual ministro, que não goza de nenhuma experiência ou conhecimento mais específico para o cargo.

Por enquanto, escolha certa e decisão inteligente. E não porque Vaz é paranaense. Mas porque sua experiência vai muito além de ele ser do Paraná, o maior estado agrícola do país. Como dirigente da maior instituição financeira ligada ao segmento, ele também conhece e partilha das conquistas e demandas da atividade. Mais do que o retorno de alguém do Paraná, o Mapa volta a ter prioridades mais legítimas, com mais propriedade e preocupações sobre aquilo que realmente interessa ao fortalecimento e desenvolvimento do agronegócio brasileiro, o campo e o produtor. Porque tanto com Wag­­­ner Rossi como com Mendes Ribeiro os interesses foram invertidos. Antes deles, Roberto Rodrigues, extremamente técnico. E Reinhold Stephanes, que conseguiu conciliar como ninguém os dois mundos, como um verdadeiro interlocutor técnico e político, entre governo e produtores. Coincidência: ele também é paranaense.

Renova-se então a esperança de que o governo possa um dia encarar o agronegócio e as indicações para o Mapa não como política partidária, mas como política pública que possa traduzir os interesses do segmento. Pelo menos é essa a expectativa, uma cobrança permanente que será reafirmada e reforçada pelos dirigentes que representam o produtor, não apenas, mas também do Paraná. E não tenha dúvida que enquanto ministro ou secretário o fato de ser de um estado que é referência na produção nacional só aumenta seu comprometimento e sua responsabilidade, senhor José Carlos Vaz. Que sua experiência em uma das principais variáveis do setor produtivo, o sistema financeiro, possa agora ser colocada a favor de uma das pontas mais frágeis desse processo, o produtor.

No primeiro escalão do Mapa, junto aos tomadores de decisão, o seu nome é um dos poucos ou talvez o único mais técnico do que político. Por força de sua atuação profissional, Vaz também sempre viveu bastante próximo do ministério, o que torna as coisas mais factíveis. Não menos burocráticas, mas com uma percepção que facilita os entendimentos que vêm de fora e os encaminhamentos necessários do lado de dentro do governo. Habilidades que serão colocadas à prova em uma interinidade indeterminada, que pode durar dias, semanas ou meses. Ninguém sabe. O período que vai depender não apenas da recuperação de Mendes Ribeiro, como do desempenho do interino na função.

E um dos principais desafios do agronegócio brasileiro tem tudo a ver com a atuação de até poucos meses atrás do ministro interino, que é o endividamento agrícola. Uma limitação ao avanço e à competitividade. Na avaliação do governo e dos agentes financeiros o endividamento do produtor rural brasileiro é pequeno em relação a outras atividades econômicas, cujo valor não chega a ser o equivalente ao de uma safra. Mas pequenas ou grandes, o fato é que as dívidas acumuladas ou renegociadas limitam em muito a capacidade de investimento, que por consequência limita a escala, que aumenta custo e reduz o rendimento.

Aliado a tudo isso temos ainda de resolver os entraves do seguro agrícola, ferramenta de proteção do produtor e do próprio governo, mas que não vem sendo tratado com a importância que tema requer.

Contudo, como o agronegócio vem batendo recordes sucessivos é comum ouvir de agentes oficiais o discurso de que se o setor vai bem não precisa de ajuda do governo. Realmente vai bem e caminha com as próprias pernas, até porque não tem outro jeito. Mas poderia ir ainda melhor, correr menos riscos e ser mais competitivo. Não com a ajuda do governo, mas com o governo fazendo a sua parte.

O Brasil tem o Plano Safra, é verdade. Um instrumento importante de custeio e comercialização. Mas não vamos nos enganar, porque ainda é pouco diante do que o governo pode e deve fazer, a começar pelo ministro da Agricultura.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]