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De forma quase que irreversível, o Mato Grosso começa a consolidar sua liderança na produção brasileira de grãos. Líder absoluto até a temporada 2004/05, nas últimas oito safras o Paraná foi superado pelo estado do Centro-Oeste em três ocasiões, incluindo a safra em curso. E não é apenas por causa da seca, a principal responsável pelas variações negativas no desempenho paranaense. Mas porque surge uma nova fronteira agrícola, no nordeste mato-grossense, com grande potencial de incorporação de área. Conhecida como Vale do Araguaia, a agricultura na região cresce na recuperação de áreas degradadas, de pecuária extensiva e pastagem de baixa produtividade. Áreas onde a produção de grãos é tão bem-vinda quanto necessária.

Há 10 anos, a diferença na produção de grãos entre o Paraná e o Mato Grosso era superior a 10 milhões de toneladas. Nos últimos ciclos, porém, a diferença na disputa pela liderança entre os dois estados tem ficado entre 1 milhão e 2 milhões de toneladas. Na safra atual, por exemplo, a liderança mato-grossense estabelece uma margem de 1,3 milhão de toneladas, com uma expectativa recorde de 31,5 milhões de toneladas, contra uma projeção de 30,2 milhões de toneladas ao Paraná (safra total). O motivo principal mais uma vez está no clima, que afeta o potencial produtivo das lavouras da Região Sul do Brasil e compromete a produção de soja e milho de verão do Paraná em quase 4 milhões de toneladas. Uma redução no volume de produção inicialmente previsto em torno de 15%.

Os números do Mato Grosso, no entanto, revelam que o estado aumenta sua participação não apenas em cima dos problemas no sul. Em cinco anos, a área de cultivo no estado aumentou 25%. No nordeste, onde está o Vale do Araguaia, o crescimento em área absoluta foi de 104%. Os dados, do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea), colocam a região em terceiro lugar no ranking de área do estado, mas a primeira em crescimento. Nesses cinco anos, o médio-norte e o oeste, tradicionais zonas de cultivo, aumentaram suas áreas em 422 mil e 84 mil hectares, respectivamente. O nordeste avançou no período sobre mais de 460 mil hectares. Destaque para municípios mais ao norte da BR-158 – área conhecida como Xingu – como também descendo o mapa em direção a Querência, Canarana, Água Boa e Gaúcha do Norte.

Em Querência está uma das maiores áreas de produção do Vale. O município planta 260 mil hectares de soja. Há cinco anos eram 144 mil hectares. E calcula-se que ainda existem outros 150 mil hectares de pastagens degradadas passíveis de recuperação e incorporação pela agricultura. Querência é um exemplo do potencial da região, que no total teria condições de dobrar sua área de grãos de quase 1 milhão para 2 milhões de hectares. O ritmo de expansão será ditado pelas condições de preço, mercado e demanda, em especial da soja, e pelas condições de infraestrutura de armazenagem e escoamento. A logística, aliás, está prestes a ser o maior diferencial da nova fronteira do Mato Grosso, seja pela melhora nas condições de tráfego da BR-158 ou no acesso à ferrovia Norte-Sul, que no futuro vai se encontrar com a Leste-Oeste e formar um dos maiores entroncamentos ferroviários do Brasil.

O melhor de tudo é que a expansão, pelo menos a partir daqui, tem tudo para ser promovida de maneira sustentável. Primeiro, pelo fato de ocorrer em cima de áreas degradadas. Ou seja, tem área suficiente passível de recuperação e não há razão para se derrubar nenhuma árvore. O exemplo mais uma vez vem de Querência. No ano passado o município saiu da lista negra entre os que mais desmatavam no Brasil. Em 2010 foram 21,4 quilômetros quadrados de desmatamento, contra 146,6 quilômetros em 2005. A área de 2010 poderia ser ainda menor, não fossem os assentamentos legalizados pelo Incra. Em 2009 foram apenas 7,8 quilômetros quadrados desmatados.

Em síntese, apesar da liderança do Mato Grosso na safra 2011/12, a inevitável e definitiva virada não deve ser agora. Ela deve ocorrer no prazo máximo de cinco anos. Mas pode ser antecipada para dois, três ou quatro anos, a depender não apenas do clima, mas do tamanho da aposta no Vale do Araguaia. Aposta feita por desbravadores da Região Sul do país, do Paraná e do Rio Grande do Sul, uma vez que são raros os produtores provenientes de outras regiões. Aliás, eles não são apenas os agricultores, mas donos da padaria, do supermercado, da oficina, do posto de combustível e do comércio em geral. São gaúchos e paranaenses que continuam a fazer a história e o futuro do agronegócio no Brasil.

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