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O ano mal começou e o agronegócio é colocado à prova novamente. A seca na Região Sul e o ressurgimento da febre aftosa no Paraguai são prenúncios de que 2012 será um ano difícil para a agricultura e a pecuária no Brasil. Ninguém disse que seria fácil. Mas também não se esperava que fosse tão difícil.

O campo começa o ano com o pé esquerdo, em especial no Paraná e no Rio Grande do Sul, onde a redução no potencial produtivo das lavouras é certa. Somente o tempo vai dizer o tamanho do estrago – qualquer que seja o número de quebra, 5% ou 50%, por enquanto não passa de especulação. Ainda há esperança que a chuva volte. E, como as plantações não necessitam de outra coisa que não seja chuva, quem não começou a rezar que o faça a partir de agora.

As últimas notícias dos estragos provocados pela estiagem surpreendem até mesmo o mercado. Do produtor ao meteorologista, a instabilidade climática por causa do La Niña era esperada, mas não na intensidade com que está se configurando. Paciência. É o clima, são os ciclos, é agricultura, é a indústria a céu aberto. Tecnologias de manejo e produção até conseguem amenizar os efeitos provocados pelas variações climáticas. Se as chuvas voltarem, por mais que sejam poucas e mal distribuídas, parte do estrago pode ser revertido ou, ao menos, estancado, graças à tecnologia embarcada no solo e na semente. Mas, sem água, não há tecnologia que resista. Por isso, o produtor também precisa fazer a sua parte. Contra as condições adversas do clima vale apostar em um material mais resistente ao estresse hídrico, por exemplo.

Parte absoluta das perdas verificadas até o momento é em variedades precoces, que ficam prontas para a colheita mais rapidamente. O objetivo é encurtar o ciclo, reduzir custos e fazer uma segunda lavoura no ano. Até existe uma justificativa agronômica, que consiste em deixar a lavoura menos exposta a doenças e suscetível à seca por um período mais breve. Nesse caso, o risco maior é o efeito inverso, como ocorre agora, com a planta de ciclo curto enfrentando estiagem justamente na fase crítica de desenvolvimento. O ideal, então, é escalonar ciclos e épocas de plantio, o que requer disciplina e o cumprimento à risca das recomendações técnicas, nem sempre respeitadas dentro da porteira.

O que não dá para aceitar é a irresponsabilidade com que a questão sanitária ainda é tratada na América do Sul. O continente é o maior exportador de muitos produtos. Entre os mais relevantes estão a soja e a carne bovina. Nesses dois itens, o Brasil se destaca isoladamente como o maior exportador mundial. Ainda as­­sim, a febre aftosa é um mal recorrente e compromete a imagem e liderança do país e do produtor brasileiro entre a comunidade internacional. A doença não representa nenhuma ameaça ao ser humano. É uma enfermidade com consequências econômicas, que fecha mercados, provocando um efeito cascata em todos os elos da cadeia produtiva e limitando a nossa competitividade.

O foco de febre aftosa que ressurgiu no Paraguai na semana passada na verdade nunca foi eliminado. É resultado de um combate mal-feito de um registro que foi confirmado em setembro. Quando um caso da doença é detectado no Paraguai ou na Argentina, o fato deveria ser en­­carado como se tivéssemos aftosa aqui no Brasil. Não apenas a vigilância deve ser redobrada, como a condução dos trabalhos para eliminar o vírus no país vizinho deve ser apoiada, monitorada e cobrada pelas autoridades brasileiras.

Isso na verdade está sendo feito. Mas vale admitir que, se estamos fazendo isso agora é porque, assim como o Paraguai não fez a lição de casa em setembro, o Brasil também pode não ter feito a sua parte. No mínimo, não deveria ter aberto a fronteira e derrubado o embargo até que o caso estivesse plenamente resolvido e esclarecido. Quando o mundo recebe a notícia da ocorrência de aftosa no Paraguai, não é com o país vizinho que eles estão preocupados, mas com o Brasil, o maior fornecedor internacional de carne bovina.

Secas e enfermidades vão continuar existindo, são implícitas à natureza animal e vegetal. A reflexão que se deve fazer é que essas dificuldades enfrentadas pela agropecuária brasileira não devem ser regra, mas exceção. São dolos que não podem ser evitados, é verdade. Mas podem ser amenizados. As medidas adotadas não devem ser corretivas, mas preventivas. Para isso, é necessário ter uma política pública e focada condizente com a necessidade e o potencial econômico brasileiro a partir do agronegócio. Se somos a 6.ª economia do mundo é porque somos, também, um país agro. Por muitas vezes pode não parecer, a julgar pela atenção e pelo reconhecimento que o setor recebe do governo e da sociedade organizada.

A dificuldade adicional en­­frentada pelos produtores atingidos pela seca é o exemplo desse descaso. No instante em que o segmento mais carece de apoio, a agricultura enfrenta um contingenciamento das verbas destinadas à subvenção do seguro agrícola. De qualquer forma, os próximos dias serão determinantes, seja pela ação do clima ou do governo. Se São Pedro ajudar e a chuva voltar, o prejuízo causado pela seca pode ser me­­nor, com a possibilidade até de reverter parte das perdas. Se continuar seco, a quebra será consolidada e campo e cidade terão de lidar com isso, principalmente nos estados dos Sul.

Sobre a aftosa no Paraguai, é melhor o Brasil montar guarda permanente porque, se a doença entrar no país, aí a desgraça está feita, não só na agricultura como na pecuária. No mais, é torcer para chover e para o boi do Paraguai ficar bem longe do Brasil.

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