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Conhecido nacionalmente pelos conflitos indígenas e fundiários, que culminaram com a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, pelos garimpos na década de 70 e 80 e mais recentemente em cenários de novelas e outras produções cinematográficas, é no agronegócio que desponta o grande potencial de Roraima, no extremo Norte do país. Com grandes áreas passíveis à incorporação pela agricultura, o estado se posiciona como a última fronteira agrícola do país, onde o processo produtivo não é de transição, mas primário. A produção de grãos está apenas chegando.

E com o gado não é diferente. Embora a pecuária seja uma atividade exercida há décadas, só agora começa a ganhar escala. Impulsionada, inclusive, pela integração lavoura-pecuária, onde a soja exerce papel fundamental na implantação do sistema. A cultura mais típica e tradicional de Roraima, e que um dia predominou nos campos locais foi o arroz. Na última década, porém, após a instituição da reserva e a retirada dos arrozeiros, a cadeia produtiva perdeu espaço no campo e relativa importância na econômica regional.

A produção atual e a área passível de incorporação ao cultivo de grãos estão em um raio inferior a 200 quilômetros da capital, Boa Vista. No caso da soja, são apenas 25 produtores que cultivam 18 mil hectares. A maioria absoluta desses pioneiros é da Região Sul do Brasil. O secretário estadual da Agricultura, inclusive, é paranaense. A extensão que estaria disponível à agricultura ainda é incerta. De certa forma, governo e produtores ainda divergem em relação aos números. A discordância, no entanto, é mais conceitual do que estatística.

A considerar as limitações legais, de natureza ambiental e fundiária, a área que pode ser destinada à produção de grãos seria acima de 1 milhão de hectares, dos quais entre 500 mil e 600 mil seriam de terras mais valorizadas, consideradas nobres por conta de relevo e localização. O cálculo considera o cultivo inserido em um ambiente total de preservação em torno de 4 milhões de hectares. Vale lembrar que a análise leva em conta o potencial da região. E que são inúmeras as variáveis que vão impactar o ritmo crescimento e consolidação dessa nova fronteira. Estamos falando de mercado, clima, logística, implicações e interesses políticos e econômicos típicos de um estado que até pouco tempo era território da União e que se apresentam como condição.

Dificuldades à parte, o fato é que o potencial e os diferenciais de Roraima compõem uma realidade que está colocada. Na sexta-feira e no sábado da semana passada acompanhei a Expedição Safra na abertura oficial da colheita de soja no estado. A conclusão é que o resultado do ciclo atual ficou aquém do esperado. O clima não ajudou e previsão de colher 60 mil toneladas está sendo revista para baixo e deve ficar entre 40 mil e 45 mil toneladas. A falta de chuva e as temperaturas acima da média limitaram o potencial produtivo das lavouras.

O produtor deve, sim, rever seus planos para 2015. Não apenas por conta do revés climático na temporada atual. Mas principalmente pelo mercado em baixa, que neste momento registra as menores cotações de soja em quatro anos. A revisão, contudo, passa longe de reduzir área. O que será menor é a aposta na ampliação. Ao invés de ocupar os 40 mil hectares estimados pelo setor, na próxima safra a soja deve atingir entre 30 e 35 mil hectares. Ainda assim, praticamente o dobro da área atual. O potencial, portanto, não se discute. O que está em jogo então são as variáveis determinantes que podem ou não viabilizar a nova fronteira. Em condições de clima e mercado favoráveis em cinco anos os grãos podem ocupar 120 mil hectares.

Diferenciais competitivos

Além do fato de a colonização ocorrer pelas mãos de agricultores da Região Sul, o potencial agrícola de Roraima se destaca por outros diferenciais. São questões políticas, agronômicas e econômicas que tornam essa fronteira bastante singular. Com ciclo de produção similar ao dos Estados Unidos, o estado colhe na entressafra brasileira. Enquanto o país avança no plantio da temporada 2014/15, Roraima ainda colhe a safra 2013/14. É o único estado do Brasil nessa condição. Com logística diferenciada, embora ainda não esteja devidamente estruturada, a soja tem como destino o comércio internacional. Pouco importa o ambiente interno. Não existe a menor pretensão em disputar mercado ou então comparar produção com os demais estados. A viabilidade está na exportação.

O grande diferencial competitivo será estabelecido no escoamento da produção. Seja por Manaus ou Itacoatiara, no Amazonas, em um percurso de no máximo 1.000 quilômetros de Boa Vista. Ou então pelo caminho mais ao Norte, pelo porto de Georgetown, na Guiana Inglesa, a 600 quilômetros da capital. Para o Sul ou para o Norte, uma logística que será condição ao desenvolvimento da economia de Roraima a partir do agronegócio. Um setor que começa a ser considerado pela sociedade local como a primeira e principal alternativa do estado à economia do contracheque, referência que sugere a alta dependência financeira e salarial do Poder Público.

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