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Por conta do feriado de Páscoa, o mês começa com uma semana curta, mas nem por isso com pouca atividade no agronegócio. A agenda de abril e mesmo desta semana deve ser bastante intensa e de certa forma positiva para o agronegócio. Na quinta-feira, representantes de praticamente todos os elos da cadeia produtiva, de vários segmentos, se encontram em Londrina (Norte do Paraná) para discussões de extrema relevância sobre o futuro setor. Na pauta, o balanço da produção brasileira de grãos, pela Expedição Safra Gazeta do Povo. E o futuro da triticultura brasileira, em especial do Paraná e da Região Sul, que respondem, respectivamente, por 35% e 60% da produção nacional de trigo. A presença de técnicos do primeiro escalão do Ministério da Agricultura (Mapa), assim como a provável participação do ministro Mendes Ribeiro, alimenta expectativa e promete qualificar o debate.

O pano de fundo será a ExpoLondrina 2012, uma das maiores feiras agropecuárias do país, pelo menos em número de visitantes, em torno de meio milhão. Nem todos são da agricultura e pecuária, é verdade. Tem gente que busca entretenimento e as atrações artístico-culturais, quesitos que a exposição também não fica devendo. Talvez seja essa a combinação que faz do evento uma feira singular, nem tanto urbana, nem tanto rural. Contudo, um momento onde campo e cidade se encontram, interagem, encurtam distâncias e começam a entender como próximas, dependentes e complementares são essas realidades. Sem dúvida, um ambiente de muita informação, formação e, porque não, diversão.

No balanço da Expedição Safra, os números que serão apresentados são de uma temporada não tão boa quanto à anterior, porém não tão ruim. A colheita é menor, o Sul foi castigado pela estiagem, mas ainda assim o Brasil colhe uma boa safra. Na média, um ciclo razoável em volume de produção e muito bom em termos de preço. As cotações favoráveis não revertem as perdas financeiras, mas certamente contribuem para equacionar parte do abalo econômico provocado pela seca. Contudo, diante do recuo na produção nacional de grãos, a demanda aquecida e os preços sustentados são a melhor notícia da temporada. Outra situação que será pontuada nas estatísticas da Expedição são os distintos cenários e resultados que permeiam a safra atual, características de um país continental que conferem mais segurança e deixam a agricultura brasileira menos vulnerável.

Se nos estados do extremo Sul, em especial Paraná e Rio Grande do Sul, o desempenho da soja, por exemplo, foi um desastre, com quebras acima de milhões de toneladas, no Centro-Oeste as lavouras batem recorde de produtividade. Já no Centro-Norte, a safra segue regular e caminha para cumprir a média dos últimos anos. De Norte a Sul, a temporada então será de extremos, de clima e de produção, de prejuízos e de rentabilidade. Para uma atividade que vive no risco, nada de anormal, embora um grande aprendizado. Importante pontuar que tecnologia e manejo poderiam ter reduzido o impacto da falta de chuva. Não que isso fosse suficiente para impedir a quebra, mas plantar dentro do zoneamento, respeitar ciclo e época de plantio ajuda, e muito. Uma parte significativa das perdas ocorreu em situações que não seguiram regras básicas para diluir riscos e se proteger contra o clima.

E é justamente na sequência desse ciclo produtivo que está a safra de inverno, que tem no trigo o seu principal protagonista. Necessário à garantia da segurança alimentar, o cereal também tem funções agronômicas para uma agricultura sustentável, na rotação de culturas e preservação do solo. Isso além de diluir custos fixos e garantir o fluxo de caixa da propriedade. Ocorre, que por conta de inúmeros motivos, que passam pelas políticas públicas de apoio ao setor e condições de mercado – estas muitas vezes alheias à ação governamental –, a cultura caminha no sentido contrário à lógica da oferta e demanda. O Brasil produz apenas a metade do trigo que consome e ainda assim a área não para de cair. Em apenas quatro anos o terreno destinado ao cereal no país recuou 16%. No Paraná, historicamente o maior produtor, o tombo no período foi ainda maior, com uma variação negativa de 35% e redução de 460 mil hectares.

O resultado é a dependência externa cada vez maior. O espaço é ocupado pelo trigo da Argentina, Uruguai e até Canadá, que apesar da logística aparentemente desfavorável chega ao Brasil mais competitivo – em termos de preço – que o trigo nacional. Ou seja, tem alguma coisa errada. Tem algum ou vários elos da cadeia produtiva em desconformidade com o processo, pelo menos em relação à lógica de produção e consumo. É por tudo isso que um fórum mais sério e ampliado sobre a triticultura não pode mais esperar. Vamos então acreditar que o palco em Londrina pode incitar mudanças de conceito e estruturais na cadeia do trigo capazes de frear o revés que a cultura enfrenta. De forma que o trigo passe a ser tratado como assunto não apenas de segurança alimentar, mas de segurança nacional. O Brasil não pode ficar refém de outros países no abastecimento de uma necessidade básica. O trigo brasileiro tem qualidade e tecnologia. Falta é preço, política pública e de mercado para dar suporte à produção e reduzir a dependência externa.

Código Florestal

Em Brasília, a votação do novo Código Florestal está novamente no limite. Depois de várias prorrogações, o prazo para averbação da reserva legal, um dos pontos mais polêmicos da matéria, expira em 11 de abril. As regras sobre a averbação, que vêm sendo postergadas desde 2008, estabeleceram uma disputa incansável entre produtores rurais e ambientalistas. Acirrada a ponto de exigir, por várias vezes, a intervenção do Palácio do Planalto. Agora, o Ministério da Agricultura aposta suas fichas na votação do código em abril. Para tanto, o ministro Mendes Ribeiro, que publicamente parece atuar timidamente na discussão, estaria agindo fortemente nos bastidores do Executivo e do Legislativo. O Mapa quer liquidar a fatura, por fim às indefinições e devolver a tranquilidade ao campo, que há quatro anos vive na insegurança, tanto para produzir quanto para preservar.

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