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Em carta e em conversa comigo, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, criticou a coluna de sábado. Disse que está baseada em informações "inverídicas e inadequadas". Ele afirmou que, se fosse a Caixa, processaria O Globo pela manchete de sábado. Sobre o diesel, disse que "nunca houve resolução do Conama para reduzir o enxofre" e acusou Oded Grajew de perseguir a empresa.

Sobre o empréstimo de R$ 2 bilhões feito junto à Caixa, ele admitiu na conversa que a operação é "inusitada" porque a Petrobras nunca tomou tanto dinheiro assim dentro do Brasil, mas afirmou que é uma operação normal, com juros "104 de CDI". Disse que a notícia foi divulgada pela empresa. "No dia 11 de novembro, no balanço trimestral."

O empréstimo foi concedido no dia 31 de outubro, e a informação saiu no balanço — "páginas 84 e 85" 11 dias depois. Se ele mesmo disse ontem que a operação era inusitada, e escreveu na carta que a operação tinha "singularidades pelo volume", porque não foi divulgada à imprensa?

Gabrielli reclamou das especulações sobre a saúde financeira da empresa. "Bancos estrangeiros têm me ligado", disse ele.

Nunca fiz especulação sobre a saúde financeira da Petrobras. Pelo contrário, disse que é uma empresa grande, forte, com reservas crescentes. O ponto é que foi uma operação num tamanho que a Caixa nunca fez. Ele criticou a manchete de O Globo, de que a Caixa Econômica não ouviu os auditores antes de conceder o empréstimo. Para Gabrielli, não tinha mesmo que ouvir auditores antes da operação, porque isso os tornaria parte da decisão de concessão do empréstimo.

Gabrielli repetiu que a empresa precisou de capital de giro porque pagou muito imposto. "Nós pagamos com base no preço do petróleo lá fora, que foi a US$ 146."

A Petrobras paga imposto sobre um preço que ela não cobra internamente?, perguntei. "Ela paga um imposto sobre um preço que não cobra", concordou.

O segundo assunto é do enxofre no diesel, já tratado várias vezes aqui. Ele diz que é "mentirosa" a informação de que a resolução do Conama de 2002 mandava reduzir o enxofre no diesel. Segundo ele, falava apenas em "material particulado." O engenheiro ambiental Alfred Szwarc, que ajudou a implantar o Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores, explicou que o Conama não pode estabelecer o tipo de combustível, porque é função da ANP, mas que estava subentendido nas negociações, que começaram em 2000, que a Petrobras oferecesse esse diesel de 50 partes de enxofre por milhão. Como se sabe, a ANP demorou a fazer a definição técnica.

"Tudo foi feito para dar tempo para a Petrobras ter como desenvolver o combustível. É compreensível que a Petrobras tivesse esses prazos. Só que ela teve sete anos e não fez nada. Isso é desconsideração com a saúde pública. Além disso, quando saíram as especificações, se sabia que combustível usar. Dizer agora que não sabia, ou que não fez nada porque não estava escrito, é usar de má fé", disse Szwarc.

A procuradora Ana Cristina Lins,que fez um acordo recente com as montadoras e a Petrobras adiando a redução do enxofre no diesel, disse ontem que entrou na Justiça para que a resolução fosse respeitada e já em janeiro houvesse combustível limpo, mas perdeu.

"A Justiça entendeu que ela só vale para os carros novos e não para a frota antiga, que é a que mais polui. O que precisa ser feito é um programa de conversão dos motores. Os motores a diesel de até 1994 são um quarto da frota e representam 48% da emissão de poluentes."

A mesma procuradora havia me dito que "os réus estão fazendo uma proposta de modificação das normas, mas não estamos dispostos a aceitar". Os réus, no caso, eram as montadoras e a Petrobras. Foi feito o acordo, que mudou as normas. Ficou assim: a Petrobras fornecerá o diesel limpo apenas para a "frota cativa" de ônibus das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. As montadoras terão mais três anos de prazo — além dos sete que já tiveram — para fabricar carros com motores novos.

Gabrielli disse que não está provado que o enxofre faça mal à saúde humana. Lembrei das pesquisas feitas em São Paulo, e ele alegou que "o pesquisador" está dizendo que foi mal interpretado. O mundo inteiro acha que faz mal, tanto que está reduzindo o enxofre. A Petrobras foi excluída do Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa e o Conar tirou dela o direito de se definir como empresa ambientalmente sustentável.

"Irresponsabilidade do Oded Grajew. No caso da bolsa, ele está rompendo cláusula de confidencialidade no Conselho. No Conar, ele chegou lá, como se fosse o MST, e ocupou o conselho."

Quanto a mim, na carta (o link para ao completo teor está no www.miriamleitao.com) ele diz que "muitos dos seus comentários consolidam uma visão conceituada previamente de que tudo que fazemos tem motivações políticas e que as críticas que nos fazem são geralmente técnicas". As minhas são técnicas.

Com Leonardo Zanelli

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