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Na última terça-feira, Mitch McConnell, lí­­der da minoria republicana no Senado, pleiteou pela abolição dos corpos de bombeiros municipais. Bombeiros, declarou ele, "não resolverão os problemas que levaram aos incêndios recentes. Eles vão piorá-los". A existência de corpos de bombeiros, prosseguiu McConnell, "não apenas possibilita o socorro financiado pelo contribuinte a edifícios em chamas; ela o institucionaliza". E concluiu: "a forma de resolver esse problema é deixar as pessoas responsáveis pelos erros que levam aos incêndios pagarem por eles. Não resolveremos esse problema até que se deixe os maiores edifícios pegarem fogo."

Ok, eu posso ter exagerado um pouco. McConnell disse quase tudo o que atribuí a ele, mas estava falando sobre a reforma financeira, não a reforma pelo fim do corpo de bombeiros. Em especial, ele estava contestando não a existência dos corpos de bombeiros, mas a legislação que daria ao governo o poder de assumir e reestruturar instituições financeiras falidas, o que, no final das contas, tem o mesmo princípio básico.

McConnell certamente não está sendo sincero; enquanto finge ser contrário aos resgates de bancos, está na verdade fazendo o jogo dos banqueiros. Mas, antes de tratar disso especificamente, vamos falar sobre o porquê de ele estar errado neste assunto.

Em seu discurso, McConnell parecia estar dizendo que, no futuro, o governo dos Estados Unidos deveria apenas deixar os bancos falirem. Nós "devemos colocar um fim nos resgates de bancos de Wall Street realizados com o dinheiro dos contribuintes". O que há de errado nisso?

A resposta é que deixar os bancos falirem – em vez de assumi-los e reestruturá-los – é uma má ideia pela mesma razão de que é uma má ideia ficar de braços cruzados ao ver um edifício urbano de escritórios pegando fogo. Em ambos os casos, o dano tende a se espalhar. Em 1930, as autoridades americanas ficaram de braços cruzados enquanto os bancos faliam, e o resultado foi a Grande Depressão. Em 2008, ficaram de fora enquanto o Lehman Brothers desmoronava. Alguns dias depois, os mercados de crédito tinham congelado, e estávamos contemplando o abismo econômico. Por esse motivo, é crucial evitar o colapso desordenado de bancos, assim como é crucial evitar incêndios urbanos descontrolados.

Desde a década de 1930, tínhamos um procedimento-padrão para lidar com bancos em processo de falência: a Federal Deposit Insurance Corporation tinha o direito de assumir um banco que estivesse à beira da falência, protegendo seus depositantes enquanto resolvia o problema com os acionistas.

Na crise de 2008, entretanto, ficou claro que tal procedimento não servia para lidar com as instituições financeiras modernas complexas como o Lehman ou o Citigroup. A reforma proposta dá aos reguladores a "autoridade de resolução", que significa basicamente dar a eles a habilidade para tratar instituições como o Lehman da mesma forma que a FDIC trata os bancos convencionais. Quem poderia ser contra isso?

Bem, McConnell está tentando. Os pontos de seu discurso saíram de um memorando que Frank Luntz, o consultor político republicano, circulou em janeiro sobre como fazer oposição à reforma financeira. "Francamente, a melhor forma de assassinar qualquer lei é associá-la ao socorro aos grandes bancos", escreveu Luntz. E McConnell está seguindo essas orientações.

Essa atitude é realmente descarada: McConnell está fingindo defender os contribuintes contra Wall Street, enquanto, na verdade, está fazendo justamente o contrário. Nas últimas semanas, ele e outros líderes republicanos tiveram encontros com executivos de Wall Street e lobistas, nos quais o Partido Republicano e o setor financeiro trataram de como coordenar sua estratégia política.

Posso garantir que Wall Street não está fazendo lobby para evitar futuros resgates de bancos. Na verdade, está tentando garantir que haja ainda mais resgates. Ao retirar dos reguladores as ferramentas de que precisam para intervir em empresas financeiras falidas, os lobistas do setor financeiro aumentam as chances de que, quando a próxima crise chegar, os contribuintes acabem pagando um resgate para os acionistas e executivos como o preço para evitar o colapso.

Ainda mais importante, en­­tretanto, é o fato de que o setor financeiro quer evitar uma regulação severa; quer ser deixado livre para adotar o mesmo comportamento que gerou a crise atual. Vale lembrar que, entre 1930 e 1980, não se registraram resgates financeiros significativos porque a forte regulação manteve a maioria dos bancos longe de problemas. O desastre de grandes bancos voltou à tona somente com a desregulação da era Reagan. Na verdade, em relação ao tamanho da economia, os custos com os quais o contribuinte teve que arcar após a quebra das instituições de poupança e empréstimos, que ocorreu nos anos Reagan, eram muito mais altos do que qualquer coisa que possa acontecer na administração do presidente Barack Obama.

Para entender o que realmente está em jogo agora, observe a briga cada vez maior sobre os derivativos, os complexos instrumentos financeiros que Warren Buffett notoriamente descreveu como "armas financeiras de destruição em massa". A administração Oba­ma quer uma regulação mais rígida dos derivativos, enquanto os republicanos se opõem. E isso diz tudo que você precisa saber sobre o assunto.

Não se deixe enganar. Quan­do Mitch McConnell denuncia os socorros a grandes bancos, o que está tentando fazer é dar aos banqueiros tudo o que eles querem.

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