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Alguma coisa está acontecendo. Não está claro o que é exatamente, mas podemos estar diante do surgimento de um movimento popular que, ao contrário do Tea Party, direciona sua raiva para as pessoas certas.

Quando os protestos do Ocupe Wall Street começaram, há três semanas, a maioria das agências de notícias nem mencionava os eventos, e, quando o fazia, era com com deboche. Para dar um exemplo, depois de nove dias, a National Public Radio ainda não havia feito nenhuma cobertura sobre os protestos.

Isso comprova, portanto, a paixão dos envolvidos ao fazer com que os protestos não apenas tivessem continuidade como crescessem, eventualmente se tornando grandes demais para serem ignorados. Com sindicatos e um núme­­ro significativo de democratas agora expressando pelo menos um apoio qualificado aos manifestantes, o Ocupe Wall Street começa a ter aspecto de um evento importante e que pode até mesmo ser visto como decisivo.

O que podemos dizer sobre os protestos? Comecemos pelo come­­ço: a acusação dos manifestantes de que Wall Street é uma força des­­trutiva, em termos econômicos e políticos, é totalmente correta.

Um cinismo cansado, uma crença de que a justiça jamais será feita, tomou boa parte do debate político dos Estados Unidos – e, sim, eu mesmo te­­nho, por vezes, sucumbido a ele. No processo, tem sido fácil esquecer o quão realmente ultra­­jante é a história dos problemas políticos norte-americanos. En­­tão, caso você tenha esquecido, foi uma peça em três atos.

No primeiro ato, os banqueiros tiraram vantagem da falta de regulamentos para fazer o que quisessem, pagando a si próprios altas somas e inflando bolhas imensas através de empréstimos imprudentes. No segundo ato, as bolhas estouraram – mas os banqueiros se safaram com dinheiro do contribuinte, com notavelmente pouca repercussão, embora os trabalhadores em geral continuassem a sofrer as consequências dos erros dos banqueiros. E, no terceiro ato, os banqueiros demonstraram sua gratidão se virando contra as pessoas que os salvaram, dando seu apoio – e a riqueza que ainda possuíam graças às injeções de dinheiro público – a políticos que prometeram manter seus impostos baixos e desmantelar os regulamentos brandos que foram estabelecidos como resultado da crise.

Com tudo isso, como não aplaudir os manifestantes por finalmente tomarem uma posição? É verdade que alguns deles vestem-se de um jeito estranho ou têm slogans bobos. Mas e daí? Pessoalmente me ofende muito mais ver plutocratas em ternos impecáveis, que devem o continuamento de sua riqueza a garantias do governo, choramingando sobre o presidente Obama ter dito coisas ruins sobre eles, do que assistir a jovens condenando o consumismo.

Tenham em mente, também, que a experiência deixou claro que homens de terno têm pouquíssima sabedoria a oferecer. Quando comentaristas de tevê da, digamos, CNBC riem dos manifestantes por "não serem sérios", lembrem-se de quantas pessoas sérias nos garantiram que não havia bolha imobiliária, que déficits orçamentários iriam fazer subir as taxas de juros e que Alan Greenspan [ex-presidente do Fed, o banco central dos EUA] era um oráculo.

Uma boa crítica aos protestos estaria ligada à ausência de exigências políticas específicas. Ajudaria se os manifestantes concordassem em pelo menos algumas das mudanças que eles gostariam de ver realizadas. Mas não podemos julgar muito a falta de especificação. Está claro o tipo de coisas que os manifestantes do Ocupe Wall Street querem, e detalhá-las é um trabalho que cabe a políticos e intelectuais.

Rich Yeselson, historiador de movimentos sociais, sugeriu que um alívio na dívida dos trabalhadores americanos se tornasse uma plataforma central dos protestos. Eu reitero essa sugestão, porque tal alívio, além de fazer justiça econômica, poderia auxiliar em muito a recuperação da economia. Eu sugeriria que os protestos exigissem também investimentos em infraestrutura – e não mais cortes de impostos – para ajudar a criar empregos. Nenhuma das propostas se tornará lei sob o clima político atual, mas o objetivo dos protestos é justamente mudar o clima político.

E há verdadeiras oportunidades. É claro que não para os republicanos de hoje, que instintivamente se aliam com aqueles que Theodore Roosevelt batizou de "malfeitores de grande riqueza". Mitt Romney, por exemplo – que, a propósito, paga uma porcentagem menor de sua renda em impostos do que muitos americanos de classe média – foi rápido em condenar os protestos como "guerra de classes".

Mas os democratas estão tendo uma segunda chance. O governo Obama perdeu muito potencial de boa vontade prematuramente ao adotar políticas que beneficiavam os banqueiros e que fracassaram em trazer recuperação econômica. Agora, no entanto, o partido de Obama pode começar de novo. Tudo o que precisam fazer é levar esses protestos a sério, como merecem ser levados.

E se os protestos incitarem alguns políticos a fazer o que deveriam estar fazendo desde o começo, o Ocupe Wall Street já terá sido um enorme sucesso.

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