Era uma vez um partido político de um país latino-americano que prometeu que iria ajudar os motoristas a economizar dinheiro com gasolina. Como? Construindo rodovias que só desceriam morro abaixo.

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Sempre gostei dessa história, mas a verdade é que tal partido quase não angariou votos. E isso quer dizer que a piada recai sobre os EUA, visto que nos últimos dias um dos dois grandes partidos do país tem feito promessas igualmente sem sentido. Esqueça a guerra contra o terrorismo, a principal preocupação do partido parece ser a guerra contra a matemática. Além disso, tal partido possui grandes chances de ter a maioria no Congresso nas eleições de novembro.

República das bananas, aqui vamos nós.

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Nessa última quinta-feira, os republicanos do Câmara lançaram seu projeto "Promessa à América", supostamente esboçando sua agenda política. Na essência, o que eles dizem é: "Os déficits são uma coisa terrível. Vamos torná-los muito maiores". O documento condena repetidamente os déficits federais – 16 vezes, se contei corretamente. Todavia, a proposta política mais substancial seria tornar permanente os cortes tributários realizados por Bush, medida que, de acordo com estimativas independentes, aumentaria o tamanho do rombo em US$ 3,7 bilhões durante a próxima década – cerca de US$ 700 bilhões a mais do que as propostas tributárias da administração Obama.

É verdade, o documento fala sobre a necessidade de reduzir os gastos do governo. Mas, pelo que consigo avaliar, só foi proposto um corte – o cancelamento do res­­to do Programa de Socorro a Ativos Depreciados (Tarp, na sigla em inglês), que os republicanos alegam (de maneira pouco lógica) ser capaz de economizar US$ 16 bilhões. Tal economia representa menos de 0,5% do custo previsto no orçamento daqueles cortes tributários. Quanto ao restante, tudo deve ser cortado, de formas não especificadas –"com as exceções de bom senso envolvendo idosos, veteranos e nossas tropas". Em outras palavras, o Seguro Social, o Medicare e o orçamento da defesa estão fora dos limites.

E o que resta? Howard Gleck­man, do não partidário Centro de Política Tributária, fez as contas. Como ele destacou, a única maneira de equilibrar o orçamento até 2020 e, ao mesmo tem­­po, (a) tornar os cortes de impostos de Bush permanentes e (b) proteger todos os programas que os republicanos dizem que não cortarão, é abolir completamente o restante do governo federal: "Chega de parques na­­cionais, chega de empréstimos para pequenas empresas, chega de subsídios às exportações, chega de Institutos Nacionais de Saúde. Chega de Medicaid (um terço de nosso orçamento paga pelo tratamento a longo prazo de nossos pais e outros com invalidez).Chega de programas de saúde ou nutrição para crianças. Chega de construção de rodovias. Chega de segurança interna. Oh, e chega de Congresso."

A "promessa", então, é uma bobagem. Mas o mesmo não vale para todas as plataformas políticas? A resposta é: não para qualquer coisa com a mesma extensão. Muitos analistas independentes acreditam que as projeções orçamentárias a longo prazo do governo Obama são demasiadamente otimistas – mas, se forem, é por uma questão de detalhes técnicos. Nem o presidente Barack Obama, nem qualquer outro democrata importante, até onde posso me lembrar, já disseram que alto significa baixo, que você pode reduzir acentuadamente a receita, proteger todos os programas que os eleitores gostam e ainda equilibrar o orçamento.

E o próprio Partido Repu­blicano costumava ser mais sensato do que agora. A alegação de Ronald Reagan de que reduzir impostos na verdade aumentaria a receita não passava de imaginação, mas ao menos tinha algum tipo de teoria por trás das propostas. Quando o ex-presidente Geor­ge W. Bush fez campanha pelos grandes cortes de impostos em 2000, ele alegava que os cortes eram viáveis dadas as projeções (irreais) de futuros superávits orçamentários. Agora, todavia, os republicanos não estão nem mesmo fingindo que seus números fazem sentido.

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Então como chegamos ao ponto onde um de nossos dois principais partidos políticos não está nem ao menos tentando fazer sentido?

A resposta não é um segredo. O saudoso Irvin Kristol, um dos padrinhos intelectuais do conservadorismo moderno, certa vez escreveu francamente a respeito do motivo para ter apoiado cortes de impostos que aumentariam o déficit orçamentário: sua tarefa, como ele a via, era criar uma maio­­ria republicana, de forma que "a eficácia política fosse a prioridade, não as deficiências contábeis do governo". Em suma, é preciso dizer o que for necessário para tomar o poder. Essa é uma filosofia que agora, mais do que nunca, domina o movimento que Kristol ajudou a moldar.

E o que acontece assim que o movimento obtém o poder que busca? A resposta, supostamente, é que ele se volta para sua real e não tão secreta agenda, que basicamente envolve privatizar e desmembrar o Medicare e o Seguro Social.

Realisticamente, entretanto, os republicanos não contarão com poder para aprovar sua verdadeira agenda tão cedo – se é que um dia conseguirão. Basta lembrar que o ataque do governo Bush ao Seguro Social foi um fiasco, apesar de contar com a maioria no Congresso – e na verdade aumentou os gastos do Medicare.

Logo, o risco real e imediato não é o de que o Partido Repu­bli­cano consiga atingir suas metas a longo prazo, mas sim de que os republicanos ganhem poder suficiente para tornar o país ingovernável, incapaz de tratar de seus problemas fiscais ou de qualquer outra coisa de forma séria. Como eu disse, república de bananas, aí vamos nós.

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Tradução: Thiago Ferreira