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Há alguns meses, almoçando com um headhunter amigo, atuante em São Paulo, ele me contou uma história que me deixou bastante impressionado. Durante anos e mais anos, André (meu amigo) negociou com Ronaldo, Diretor de RH de um importante cliente. Nesses anos, seu contato com a empresa sempre se dava através desse Diretor, porém, alguns amigos seus que trabalhavam com Ronaldo sempre lhe alertavam sobre a aversão que o profissional tinha por ele. André nunca entendeu, ao certo, o que eu havia feito de tão grave. Mas, como ninguém é capaz de agradar a todos, sempre ficou tranquilo. Enquanto isso, fatos lhe garantiam que a companhia que só continuava sua cliente pela grande proximidade que ele tinha com a diretoria e pelo excelente trabalho que entregava, pois, se dependesse da empatia entre o contratante (Ronaldo) e sua empresa, jamais seria o escolhido. Aliás, dizem as más línguas que não só André não era a favor de contratar seus serviços, como não tinha pudor algum em falar mal dele pelos corredores da empresa.

No início do ano passado, entretanto, André recebeu a notícia de que Ronaldo havia sido desligado da corporação. Foi então que ocorreu toda a história a que me referi, e que deixou meu amigo deveras chateado. Ronaldo ficou sabendo através de amigos comuns deles, que a empresa de André trabalhava uma vaga que poderia se encaixar em seu perfil e, mais que depressa, ligou para o headhunter. O que ele não sabia é que André tinha conhecimento de todas as infâmias que ele havia criado a seu respeito durante esses anos. Ao atender seu telefonema, meu amigo fez questão de tratá-lo com educação e ficou realmente preocupado em ajudá-lo de alguma forma. O outro, porém, agiu de forma arrogante, como se fosse obrigação de André conseguir uma recolocação pra ele. Nada rancoroso, o headhunter sugeriu que ele lhe mandasse seu currículo e, tão logo o obteve, encaminhou para alguns consultores que trabalhavam com ele.

André me contou demonstrando forte satisfação que logo o currículo do profissional foi selecionado para uma vaga. Entretanto, ao contrário do que a etiqueta prima, o jovem não mandou, sequer, um e-mail de agradecimento. Até que um dia, meu amigo recebeu um e-mail que lhe tirou o chão. O próprio Ronaldo, agora Diretor de RH de mais um cliente seu, enviou-lhe uma carta formal, com cópia para todos os diretores da organização, agradecendo pelos seus serviços, porém rescindindo um contrato de outras cinco vagas que sua empresa trabalhava para eles. Ele ignorou completamente a atitude cordial de André, e lhe pôs pra fora da organização, como sempre quis fazer em seu outro trabalho e não conseguira. Curioso e indignado, meu amigo lhe chamou para um almoço.

Ao iniciarem a conversa, André perguntou o quê exatamente Ronaldo tinha contra ele e sua organização para fazer tais coisas. Estava disposto a consertar algum possível erro que ele havia cometido, porém não tinha conhecimento. Para sua surpresa, o profissional disse que não havia absolutamente nada contra ele, nem mesmo nada a reclamar sobre os serviços oferecidos. Disse, apenas, preferir contratar alguma outra empresa, qualquer uma pra ser mais exato, simplesmente por querer assim, e ponto final. A soberba de Ronaldo gritava e André simplesmente não acreditava no que ouvia. Percebeu que, a essa altura do campeonato, para o Diretor de RH era uma questão de honra conseguir tirar sua empresa da jogada, já que na antiga empresa ele não havia conseguido isso.

É triste ver pessoas com um grau de orgulho tão alto como o de Ronaldo. Infelizmente, agora que ele conseguira o que queria, certamente iria em busca de uma nova "conquista". Porém, o que ele não percebia é que, com isso, cavaria sua própria cova. Na empresa de André, certamente, o currículo dele seria avaliado com o dobro de zelo em possíveis futuros processos, não exatamente por ter feito isso, mas por ter demonstrado orgulho, uma característica comportamental que, certamente, não interessa a nenhuma empresa.

Mande sua história para coluna@debernt.com.br e siga-me no twitter @bentschev.

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