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Certa vez abordei em minha coluna um tema que fez bastante sucesso, o Chefe Mala, e me rendeu alguns e-mails eufóricos, uns elogiando e outros pedindo que eu falasse um pouco mais sobre o assunto. Esperei um pouco para retornar ao assunto, mas, como dizem, antes tarde do que nunca. Aliás, se pararmos para falar sobre esses chefes, temos uma infinidade de assuntos relativos. Poderia fazer, inclusive, uma série só sobre os tipos diferentes de chefes, mas não é a intenção. O fato é que um e-mail me chamou a atenção, o de uma moça que reclamava veementemente sobre a insistência de seu chefe em pedir favores pessoais. Liguei pra ela na curiosidade de entender o problema e constatei que ela era, em grande parte, culpada pelo que ocorria.

Lisandra trabalha como analista financeira e possui, como coordenadora, uma amiga de faculdade. As duas se formaram juntas, porém, Janete teve, além de um pouco de sorte, um desempenho muito mais admirável que a amiga, o que fez com que ela alcançasse tal posto. No princípio, não foi problema para nenhuma das duas conviver com a situação, afinal a amizade era sólida o suficiente para evitar inveja ou despeito. Janete, inclusive, convidou Lisandra para madrinha de casamento e, posteriormente, para madrinha de seu primeiro filho. A cumplicidade de ambas era algo admirado por toda a empresa, o que tornava o setor financeiro um ambiente gostoso até de se visitar para um bate-papo.

Porém, após algum tempo que Lisandra estava na empresa (ela foi indicada por Janete), sua chefe começou a lhe pedir coisas que fugiam do escopo de suas funções. Eram favores simples, coisa de comadres mesmo, que a moça não se importava nem pouco de executar. Às vezes era o pagamento de uma conta pessoal no horário do almoço, outras era o agendamento de um exame para os filhos e, até mesmo, o pedido da compra de presente de amigo secreto da empresa. Como antes de trabalharem juntas Lisandra já prestava esses favores para a amiga, agora como subordinada não hesitava em fazer, julgando ser fundamental para o bom relacionamento das duas.

Até que um dia Janete fez o inimaginável. Pediu à moça que levasse seu filho ao médico no horário do expediente, pois, exatamente naquele horário, teria uma reunião inadiável. Por se tratar de um pedido vindo de sua superior, mais uma vez Lisandra não se negou a fazer, levando, com todo prazer, o afilhado ao médico. A surpresa veio dias depois, quando recebeu seu relatório de banco de horas. As horas que esteve fora foram descontadas da moça, fazendo com que seu saldo ficasse negativo e ela tivesse que pagar trabalhando no final de semana. Ao reclamar com a chefe/amiga, Janete pediu que ela apresentasse uma declaração médica, informando sobre o acompanhamento. Porém, a área de recursos humanos não aceitou a declaração, alegando que, por não ter filhos, Lisandra não deveria utilizar o horário de expediente para resolver assuntos daquele tipo.

Ao informar a chefe sobre a resposta do RH, Janete simplesmente deu de ombros, deixando a funcionária sem respaldo algum. Lisandra relevou o fato em nome da amizade, porém começou a se indignar a cada novo favor que a chefe pedia. O relacionamento das duas foi se enfraquecendo aos poucos, chegando a um ponto em que a moça não conseguia mais lidar direito com a situação. Ela relata, inclusive, que começou a sentir até um pouco de inveja da amiga que já possuía tal hierarquia, tendo iniciado do mesmo ponto de partida que ela.

O assunto era, realmente, delicado. Porém, considero Lisandra grande culpada nessa história. Não nego que Janete extrapolou seu poder de chefia, confundindo uma relação profissional com uma amizade de anos. Porém, essa confusão se deveu ao fato de Lisandra não se posicionar de forma respeitosa, diferenciando o que era trabalho e o que era pessoal. Se, desde o princípio, ela tivesse mostrado que estava ali para trabalhar, deixando os favores pessoais para depois, teria evitado uma série de confusões. Tem quem diga "amigos, amigos, negócios à parte" e considero isso uma sábia decisão.

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