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Numa dessas conversas que tenho com os profissionais que me procuram como conselheiro, surgiu uma questão para a qual nunca havia destinado muito tempo para refletir. Giuliano é um jovem executivo que admiro muito, tanto pela sua capacidade técnica, como pela sua notória forma de se comportar diante do meio profissional. Dono de uma inteligência ímpar e dotado de excelente oratória, o rapaz, que tem menos de 30 anos, era um dos executivos mais bem sucedidos na sua faixa etária e essa era apenas mais uma das diversas qualidades que eu admirava nele.

Fiquei surpreso quando ele me ligou e, em meio a seu papo realmente cativante, disse-me que precisava mais uma vez de meus conselhos. Tomado pela curiosidade e pelo apreço que tenho pelo moço, marquei o quanto antes a conversa.

Logo que Giuliano me cumprimentou, já na sala de reuniões, observei uma expressão cansada, preocupada e, diria até, desapontada. Ao perguntar-lhe como iam as coisas, respondeu-me apenas que "as coisas apenas iam". Foi aí que percebi que algo realmente muito sério estava acontecendo com meu amigo. Pedimos um café para quebrar um pouco o gelo e observei que aos poucos ele parecia ficar mais à vontade.

Giuliano não demorou muito para começar a me expor o que estava acontecendo. Contou-me sobre sua trajetória na empresa em que estava (a qual eu conhecia perfeitamente), uma grande companhia de transporte, e sobre alguns laços de amizade que havia feito lá dentro. Segundo ele, aqueles anos na empresa tinham servido como grande escola, principalmente em relação a respeito mútuo e admiração por outra pessoa. Essa outra pessoa, a quem ele se referia, era ninguém mais, ninguém menos que seu melhor amigo.

Giuliano conheceu Plínio quando os dois ainda eram analistas. Durante anos foram crescendo profissionalmente dentro da empresa e quase no mesmo ritmo. Segundo Giuliano, não houve momentos em que um precisasse se subordinar ao outro, pois, por serem de setores diferentes, a medida que um alcançava um melhor cargo, o outro também conseguia o mesmo meses depois.

O rapaz comentou que o nível de amizade deles era tão grande que um acabou sendo padrinho de casamento do outro. Passavam férias juntos, saíam nos fins de semana e fortaleceram o vínculo ano após ano. Pouco mais de um mês antes da nossa conversa, havia acontecido uma situação inusitada.

Giuliano foi promovido a diretor de operações da empresa e agora era chefe do amigo, que ficara na função de coordenador financeiro. Ao contrário do que ele esperava, porém, Plínio não havia ficado feliz com a notícia. Seu amigo demonstrou incapacidade de lidar com a situação já que aquele posto era almejado por ambos. A cumplicidade deles parecia ter ido por água abaixo e o resultado disso foi o pedido de demissão de Plínio.

Giuliano recebeu como uma bomba a notícia de que ele se desligaria da empresa. E, o que era pior, poucos dias depois soube que o amigo havia assumido a diretoria de operações de outra empresa do setor. Como lidar com a situação? Essa era a questão. Agora os melhores amigos eram concorrentes diretos. O que fazer com anos de amizade, convivência e tudo mais que envolvia a vida dos dois?

Dei minha sugestão baseado em minha própria experiência. Acredito que a amizade jamais seria a mesma. O fator agravante é que assuntos profissionais deveriam ser deixados de lado quando estivessem juntos, o que os impediria constantemente de serem espontâneos. Assuntos comerciais e sigilosos não poderiam mais ser debatidos em happy hours e muito menos em encontros familiares. Talvez o círculo social também mudasse um pouco, e a amizade deles jamais poderia interferir nos negócios e vice versa. Se isso é possível? Acho difícil. A máxima de que "amigos, amigos, negócios à parte" sempre prevaleceria.

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Veja mais sobre esse assunto na coluna Talento em Pauta de terça-feira e mande sua história para coluna@debernt.com.br.

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