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Recebo, semanalmente, diversas cartas de leitores que me enviam suas histórias profissionais. A grande maioria busca conselhos para lidar com os problemas diários, mas alguns procuram um direcionamento para sua vida. Para estes, procuro transmitir uma mensagem otimista, que os incentive a continuar lutando, a insistir no trabalho e também no crescimento pessoal. Porém, algumas vezes me deparo com profissionais relutantes em aceitar a realidade do mercado, sabidamente competitivo e dinâmico. Esse pequeno grupo ainda não percebeu que não existe ganho sem esforço, retorno sem investimento, fortuna sem tempo e dedicação.

A última carta que recebi conta história de uma jovem de 32 anos, negra. Ela diz que está sem rumo na vida, que não sabe o que fazer para desenvolver a carreira. A moça está desempregada alguns anos e, embora seu currículo seja razoável, ela diz não conseguir uma vaga. Ela conta ainda que, ancorada em uma herança, vive confortavelmente, mas teme o término do dinheiro. A jovem, que chamarei de Sandra, me explica que já fez alguns cursos no Sebrae, pensando em abrir um negócio próprio, mas que mudou de idéia por não se definir em relação a nenhum ramo de atividade.

Na carta, Sandra confidencia que sempre sonhou ser arquiteta, projetar obras grandiosas, mas que, na sua idade, acha que não seria plausível ingressar em uma faculdade, pois ela ganharia o diploma com quase 40 anos. Conclui sua lamentação constatando que não existem, no Brasil, arquitetos negros de renome e que, por isso, ela jamais seria aceita no mercado. Ao final de sua carta, Sandra me diz que gostaria muito de ser rica, de ter muito dinheiro, sucesso e reconhecimento.

Depois da leitura, refleti e tentei lembrar de alguns arquitetos negros no Brasil e, de fato, não recordei de nenhum. Mas, ao pesquisar na , encontrei Manoel Quirino, arquiteto do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, construído em 1872. Então, após alguns minutos de busca, localizei outros representantes da etnia negra na arquitetura que Quirino. A questão é que, mesmo após verificar que existem, sim, arquitetos negros de destaque em nosso país, eles são a minoria. Mas também o são na Medicina, na Engenharia, no Jornalismo, no Direito, etc. Essa triste realidade só poderá ser modificada por meio de muito trabalho e esforço.

As minorias precisam ser melhores do que a maioria para poderem se destacar – isso é fato. Então, não deixei de recriminar Sandra por desistir tão facilmente de seus sonhos. Ela, assim como os outros jovens de hoje, tem que demonstrar muita competência para conquistar um espaço no mercado de trabalho. E essa competição atinge não só os negros, mas os brancos, os amarelos, os homossexuais, as mulheres, etc.

Outro ponto que também me chamou a atenção foi o fato de Sandra desejar o sucesso e o dinheiro antes do trabalho e da satisfação pessoal. Ela se esqueceu de que não existe fortuna dessa forma, sem trabalho, sem tempo, sem merecimento. A trajetória profissional é feita por degraus, uma escala ascendente, em que momentos de declínio são previstos.

Refleti ainda um pouco mais sobre a carta de Sandra e percebi que ela não tinha corrigido a grafia do documento. Ela não havia sequer revisado o texto antes de enviá-lo por e-mail, pois existiam nele vários erros de digitação. Como , não pude deixar de pensar que se fosse eu a selecioná-la para uma vaga, teria excluído seu currículo imediatamente, por tamanho descaso. Será que Sandra faz tudo às pressas, pensando apenas em concluir ? Se a resposta for positiva, talvez ela nunca se torne uma arquiteta famosa. Ela, provavelmente, não será sequer uma profissional competente. E isso é lamentável – não o fato de ela ter nascido negra em um país retrógrado e racista, mas o de ela ter desistido sem uma boa briga!

Obs.: Caro leitor, se você conhece arquitetos negros brasileiros, envie um e-mail para coluna@debernt.com.br para que possamos mencioná-los na próxima coluna.

Saiba mais

Inclusão profissional

Iniciaram-se no dia 4 de agosto, em Curitiba, as aulas de um curso de capacitação para pessoas com deficiência, promovido pelo HSBC em parceria com a Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Promoção Social e com a Universidade Livre para a Eficiência Humana (). Composta por 33 participantes, a turma assistida pelo projeto terá durante oito meses aulas de quatro horas diárias, ministradas de segunda a sexta. Alguns temas abordados nelas serão: cidadania, relações no trabalho, e etiqueta empresarial, além de conteúdos específicos da área bancária, como: atendimento em agências, , produtos e serviços. Por meio do programa, a meta do HSBC é formar em 2007 mais 190 alunos, sendo 60 em São Paulo, 60 no Rio de Janeiro e 70 em Curitiba (além dos 33 que passam pelo curso atualmente). Podem se pessoas com deficiência auditiva, visual ou física que visem a uma oportunidade de trabalho no HSBC, empresa que financia as aulas, os materiais e os professores.

Esta coluna é publicada todos os domingos. O espaço é destinado a empresas que queiram divulgar suas ações na gestão de pessoas e projetos na área social, bem como àquelas que queiram dividir suas experiências profissionais. A publicação é gratuita. As histórias publicadas são baseadas em fatos reais. O autor, no entanto, reserva-se o direito de acrescentar a elas elementos ficcionais com o intuito de enriquecê-las. Contato: coluna@debernt.com.br, ou (41) 3352-0110. Currículos: cv@debernt.com.br

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