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De todos os fatores que considero cruciais no desenvolvimento profissional, um dos mais necessários, sem dúvidas, é a maturidade. Mais importante que ter um desempenho acima da média, é ser um profissional que mede as consequências de uma atitude ousada, que equilibra o ego e motiva a equipe e pares de maneira eficaz e constante. Um erro comum, porém, é a crença popular e intuitiva de muitos de nós ligarmos a palavra "maturidade" à palavra "idade".

Antes de prosseguir para a história de hoje, lembro que o processo ou estado de maturidade se dá quando uma pessoa desenvolve – ou não – suas capacidades emocional, intelectual e moral. Ao passo que alguns profissionais têm um senso mais apurado para cada uma das áreas, outros profissionais simplesmente não desenvolvem estas percepções e podem passar a atrapalhar o desempenho de suas equipes. Isso pode se dar pela falta de senso autocrítico e feedback, principalmente.

A história de hoje ilustra bem essa situação.

Algumas décadas atrás, quando fui realocado para o setor de recrutamento, conheci Luís. O carioca de riso farto era um funcionário excepcional do setor de finanças. Apesar de jovem, era muito responsável profissionalmente. Tinha também um pavio muito curto. Tão curto que quase não o tinha!

Havia uma característica nele, porém, que demonstrava sua falta de crescimento pessoal. Ele era irredutível e não gostava de receber qualquer represália. Isso, aliado ao fato de ter um pavio curto, fazia com que todos o temessem, e nunca o contrariassem – principalmente sobre seu hábito de tirar um pequeno cochilo, de 10 a 15 minutos, após o almoço. Nesse momento do dia, ele sempre tirava um tempo para descansar para que pudesse trabalhar melhor.

Se estivesse viajando, parava o carro no acostamento e dormia para que pudesse continuar. Se estivesse no trabalho, também dava um jeito de dormir para depois continuar com seus afazeres.

Um dia Luís viajou comigo para o Rio de Janeiro. Tínhamos uma reunião importante com a diretoria internacional da empresa. Os executivos de nossa matriz londrina vieram ao Brasil para que apresentássemos a evolução de nossas áreas, projetos, além de discutirmos outros assuntos.

A reunião duraria quase o dia todo. Após uma longa manhã, todos pararam brevemente para um almoço, e continuaram logo em seguida. Seu corpo, porém, acostumado com o hábito, gritava por um momento de relaxamento. Não querendo abrir mão de seus hábitos – e querendo dar uma de espertinho – Luís disse "a luminosidade está forte aqui, e meus olhos são sensíveis à luminosidade. Se incomodam se eu colocar meus óculos escuros?". Ele havia preparado óculos especiais, tamanho garrafal, para essas situações. E por algum motivo inexplicável, ele pensou que ninguém notaria sua apatia na reunião, ocasionada pelo cochilo.

O que veio em seguida, porém, foram roncos e até um pouco de saliva escorrendo pelo paletó. Um dos diretores da empresa, ao perceber, pediu que todos se retirassem da sala, em silêncio, e que as luzes fossem apagadas. A reunião prosseguiu em outra sala. Uma hora e meia depois, ele acordou sozinho na sala de reuniões.

Voltando à maturidade, ela não está somente no reconhecimento das responsabilidades e deveres que o trabalho de cada um exige, em qualquer posição hierárquica que esteja. Está, também, no modo de se comunicar, escrever e, principalmente, nos atos.

Luís foi inconsequente e imaturo ao tentar enganar os outros com sua desculpa. Colocou toda sua honra e reputação em risco – e perdeu. Sua nova alcunha de "sonequinha" havia pegado muito forte em toda a corporação, e os milhares de funcionários sabiam sobre seu caso. A vergonha era tão grande que não aguentou muitos meses na empresa após o ocorrido e pediu demissão. Tudo culpa de uma imaturidade simples de ser corrigida.

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