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Há alguns anos, uma conhecida convidou-me para um almoço com o intuito de colher alguns conselhos, já que se encontrava em um delicado momento de sua carreira. Elis era gerente de Marketing de uma multinacional do segmento automotivo e vinha traçando uma bela trajetória profissional nos últimos anos. Porém, todos à sua volta reclamavam de um detalhe muito importante: a moça estava cada vez mais estressada com seu trabalho e tratando com grande grosseria a todos que trabalhavam diretamente com ela.

Após um processo de avaliação interna da empresa, Elis recebeu o feedback de que precisava melhorar o seu trato com as pessoas, pois a convivência com ela havia se tornado realmente muito difícil. A moça confessava que vinha passando por problemas muito sérios em sua vida pessoal, e que isso se amplificava no ambiente profissional quando recebia cobranças que, a seu ver, eram descabidas. Não bastassem todos esses problemas, a moça ainda tinha uma grande dúvida em sua carreira: tinha uma enorme vontade de voltar a dar aulas de dança, como fazia quando jovem e ainda nem havia decidido qual carreira seguiria.

Quando Elis resolveu me convidar para esse almoço, havia chegado à conclusão de que, se tantas pessoas reclamavam dela, é porque existia algo errado realmente. Sem contar que a sua paixão pela dança e a vontade, às vezes repentina, de largar tudo e se dedicar às aulas de baile a deixavam cada vez mais em dúvida sobre o prosseguimento de sua carreira.

Durante o almoço, ela me contou que há algum tempo tinha perdido o prazer pelo Marketing. Fizera alguns cursos de especialização na área, na tentativa de renovar seus horizontes e, quem sabe, revigorar seu amor pela comunicação e pelas estratégias de mercado pelas quais ela sempre tivera tanto apreço. Mas nem assim conseguiu amar novamente o que fazia. Ela comparou seu momento com um casamento que se desfaz. Tentara deixar a profissão mais atraente, fazer coisas novas, descobrir novos métodos. Entre tudo isso, mesclava alguns almoços com profissionais que admirava para ver se, assim, voltava a apreciar a própria profissão. Mas nada adiantava.

Aquele convite que me fizera foi, na verdade, uma última tentativa de consertar o desânimo pelo qual passava. Segundo ela, precisava de uma sacudida de alguém que entendesse realmente o que ela sentia. Num primeiro momento, fiquei em dúvida sobre o que orientar. A responsabilidade em dizer à uma pessoa "largue tudo e vá em busca do que te faz feliz" é muito grande e só ela poderia realmente tomar essa decisão. Por conhecer sua família, e saber que se tratava de uma profissional abastada que poderia se dar alguns luxos, arrisquei-me a sugerir algo pelo qual muitos profissionais têm optado cada vez mais: o ano sabático. Orientei que ela conversasse com a diretoria da empresa em que trabalhava e pedisse um tempo para pensar. Algumas empresas entendem e apoiam esse tipo de iniciativa, outras não. Mas, independentemende do apoio que a empresa desse ou não à sua decisão, acreditei que seria extremamente pertinente tentar.

Foi o que ela fez, e, mesmo não conseguindo apoio da empresa, passou um ano estudando (cursos aleatórios), conhecendo novas pessoas e pensando sobre todos os prós e contras de mudar de carreira a essa altura do campeonato. Após esse tempo, chegou à conclusão de que não voltaria a pleitear nova posição no mercado de trabalho como funcionária de uma empresa. Preferiu utilizar seus conhecimentos em Marketing e seu talento com a dança para montar uma companhia de dança de salão. Hoje, sua escola se destaca por excelência e tem em seu corpo docente alguns dos melhores dançarinos do país.

Perguntada sobre a satisfação em relação à sua decisão, responde veementemente que não se arrepende nem um pouquinho de tudo que fez. Reconhece que os anos como gerente de Marketing e todas as especializações que fez ao longo de sua carreira serviram para um crescimento, acima de tudo, pessoal. Porém, poder aplicar todos esses conhecimentos e essa experiência em algo que lhe dá realmente prazer é algo imensurável.

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