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Luciano Coutinho, presidente do BNDES | Sergio Moraes/Reuters
Luciano Coutinho, presidente do BNDES| Foto: Sergio Moraes/Reuters

Entrevista

Segundo presidente mais longevo do BNDES, Luciano Coutinho afirma que banco precisa reduzir sua participação no apoio aos investimentos do país. Mas diz que "as mudanças vão ser graduais" e não descarta novos aportes do Tesouro.

Como vê o futuro do BNDES?

Temos desafios em infraestrutura, infraestrutura urbana, inovação, sustentabilidade ambiental, indústria e em determinados serviços. A questão é que o banco precisa fazer esse papel com poupança de TJLP (financiamento pela Taxa de Juros de Longo Prazo, em 5% ao ano, contra 11,25% da Taxa Selic), que é moeda escassa e onerosa no sentido de que, ao vir de suplementos do Tesouro, tem um custo financeiro. Precisamos encontrar uma maneira de gerar fontes de financiamento de longo prazo.

O senhor teme o avanço do consumo sem o avanço dos investimentos?

Não, o ciclo de endividamento familiar alcançou níveis de relativa saturação da capacidade financeira das famílias. O crescimento do Brasil necessariamente transitará por uma aceleração firme dos investimentos. Deveríamos olhar como prioridade a necessidade de expandir as exportações de manufaturados.

Dizem que empresta a empresas que poderiam captar no mercado.

O BNDES é o principal, talvez o único financiador do capital fixo (investimento) na agricultura. O Banco do Brasil e outros financiam a safra, o giro. Em relação ao setor de serviços, ele dá qualidade de vida nas cidades, geração de empregos. E é um setor em que a participação de TJLP é baixa e a parcela de financiamento com custo de mercado é muito expressiva. É falsa a ideia de que o BNDES desperdiça TJLP.

E a crítica de que o BNDES escolhe campeões nacionais?

O BNDES apoia todas as empresas, sem favoritismo. Das mil maiores do Brasil, o BNDES apoia 783. Das 500 maiores, 408 tiveram financiamento do banco. Das 100 maiores, 91 tiveram apoio do BNDES. O BNDES não discrimina.

O BNDES nunca foi tão grande e tão questionado. Seus desembolsos se aproximaram de R$ 200 bilhões no ano passado e tendem a repetir o patamar este ano: nos primeiros seis meses de 2014 o banco liberou R$ 84,1 bilhões, patamar próximo do registrado na primeira metade de 2013 (R$ 88,3 bilhões). A eficácia de suas linhas de empréstimo, o custo da diferença entre os juros praticados pelo banco e os pagos pelo Tesouro para sua captação – estimativas vão de R$ 14 bilhões por ano, segundo o TCU, a R$ 30 bilhões anuais, segundo cálculos de economistas – são as principais críticas.

Desde 2008, o BNDES precisou de aportes do Tesouro que somaram R$ 386 bilhões. Apesar de dívidas com o Tesouro que somam R$ 353 bilhões apenas com o total capitalizado desde 2009, o banco deve continuar recebendo recursos do Tesouro. Um estudo assinado por Ernani Teixeira Torres Filho, Luiz Macahyba e Rodrigo Zeidan indica que os fundos que normalmente alimentam o banco, como o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), representavam 67% de seus recursos em 2006, mas este percentual caiu para 27% em 2012.Os aportes do Tesouro cresceram de 8% para 53%. "O banco precisa ser mais parcimonioso em seus empréstimos subsidiados", afirma Rodrigo Zeidan, da Fundação Dom Cabral.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, avalia que o Tesouro continuará financiando o BNDES e estima que a dívida bruta chegará a 72,5% do PIB no fim do governo Dilma, contra o atual patamar de 61% do PIB. "Houve uma avalanche de recursos do banco que não repercutiram na economia. O governo vai dizer que se não fosse isso o investimento teria caído muito mais. O problema é que o grosso da crise foi em 2008/2009", disse Vale, que defende o foco do banco em inovação e tecnologia.

Pedro Cavalcanti Ferreira, professor da Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV, diz que não existem avaliações consistentes da eficácia do BNDES nos investimentos. Nos relatórios sobre a aplicação dos recursos do Tesouro, por exemplo, há apenas uma estimativa genérica de geração ou manutenção de 13 milhões de empregos desde 2009. "Uma coisa é fazer política anticíclica. Outra é continuar quando não precisa mais. O banco foi levado muito mais longe do que deveria por uma visão doutrinária de que o Estado precisa intervir."

Sérgio Lazzarini, professor de Organização e Estratégia do Insper, afirma que ao menos metade dos financiamentos às grandes empresas feitas pelo banco poderiam ter sido captados no mercado. O economista, que estima um custo anual de R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões com a diferença entre a taxa de juros cobrada e a que é paga pelo Tesouro avalia que, se os financiamentos fossem mais seletivos, o custo seria menor.

Luciano Coutinho, presidente do banco, afirma que os empréstimos com Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) são usados com parcimônia na infraestrutura. O diretor de Planejamento do banco, João Carlos Ferraz, diz que ao viabilizar investimentos para expandir a capacidade produtiva, o BNDES reduz futuras pressões inflacionárias.

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