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A guerra entre os sistemas GSM e CDMA, as duas tecnologias que dominam o mercado de telefonia móvel no mundo, parece estar chegando ao fim com um insólito tratado de paz – pelo menos no front brasileiro. A operadora Vivo, única no país a adotar o CDMA (e também sozinha no bombardeio às suas concorrentes), está prestes a instalar no país uma rede paralela GSM. No fim da semana passada, o executivo-chefe da Portugal Telecom – uma das controladoras da Vivo –, Henrique Granadeiro, afirmou que a maior operadora do Brasil deve ter antenas GSM operando antes do Natal.

A notícia não chega sem uma boa dose de contradição. Foram notórias as afirmações, em campanhas publicitárias, a respeito da superioridade tecnológica do CDMA – um sistema que realmente permite uma evolução maior e mais fácil que o GSM. Apenas para efeito de comparação, o EV-DO, última atualização na transmissão de dados da base CDMA, pode atingir velocidades de até 2,4 megabits por segundo (Mbps) no tráfego de informações; o EDGE, que é por sua vez a atualização mais recente no sistema GSM, atinge 250 kilobits por segundo (Kbps).

Faz sentido, então, o investimento da Vivo em uma tecnologia mais antiga? Sim. Ainda mais quando a imensa maioria dos usuários encara o celular como mero aparelho de voz – e não como um terminal de dados, em que arquivos, programas e jogos podem ser baixados e utilizados. Para esse público, pouco interessa a velocidade digital. Valem mais, nesses casos, a capacidade de deslocamento (ou roaming) e a segurança, dois quesitos em que o GSM, com seu chip (SIM card), é insuperável.

Não é à toa que existem cerca de 1,85 bilhão de terminais GSM contra 320 milhões de celulares CDMA no mundo (veja quadro). Com tamanha escala, as operadoras GSM têm outra vantagem: o custo. O uso do CDMA exige o pagamento de royalties à companhia norte-americana Qualcomm – detentora da maior parte de suas patentes. "O investimento que a Vivo fará na nova rede será compensado com a economia em subsídios que ela tem de oferecer hoje para competir no segmento", afirmou o presidente da consultoria especializada Teleco, Eduardo Tude. De acordo com o especialista, a empresa também tem a ganhar com um eventual aumento nas vendas de celulares multibanda, que funciona tanto em GSM como em CDMA.

A Vivo ainda não divulga detalhes sobre a nova operação, mas enfatiza que sua base CDMA continuará recebendo investimentos. A empresa, em comunicado aos seus acionistas, disse que "sua atual rede [CDMA] continuará em pleno funcionamento e expansão". "A Vivo decidiu evoluir a sua plataforma tecnológica mantendo o CDMA e terá o GSM disponível antes do Natal", disse Granadeiro, da Portugal Telecom, à Reuters, na sexta-feira. "Posteriormente a intenção é migrar ambas as tecnologias para a terceira geração [leia-se W-CDMA e EV-DO]. Passaremos a ter uma companhia com dois sistemas tecnológicos", acrescentou, salientando que caberá aos clientes, de acordo com seu perfil, escolher qual o tecnologia prefere usar, CDMA ou GSM.

Tude, da Teleco, reforça que a operadora terá mais competitividade nos segmentos de baixa renda e na comercialização de celulares pré-pagos, mesmo que a implantação do GSM custe caro. Permanece incerto o valor a ser aportado na nova rede – apesar de o presidente mundial da Telefónica, César Alierta, ter estimado um custo de US$ 2 bilhões a serem aplicados nos próximos três anos.

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