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Vice-presidente de produtos do Google, Mario Queiroz, apresenta o Google Home durante evento desta semana | GLENN CHAPMAN/AFP
Vice-presidente de produtos do Google, Mario Queiroz, apresenta o Google Home durante evento desta semana| Foto: GLENN CHAPMAN/AFP

Os anúncios feitos pelo Google durante sua conferência anual para programadores demonstram o interesse da empresa em tornar a inteligência artificial onipresente e também representam uma ânsia em diminuir o poder de outras gigantes tecnológicas e em prevenir a migração de usuários.

A empresa anunciou nesta quarta (18) um alto-falante inteligente, semelhante ao Echo, já vendido pela Amazon; e, nesta quinta (19), óculos de realidade virtual parecidos com os feitos pela Samsung.

“O lucro [desse tipo de produto] é sempre indireto. Tem mais a ver com você usar mais [serviços do Google] para que eles aperfeiçoem a busca”, disse em entrevista Carolina Milanesi, analista da firma Creative Strategies com passagens por Gartner e Kantar. “Assim, a experiência é tão complexa e personalizada que o usuário não vai se mover.”

Com a caixa de som sem fio Home, que interpreta comandos de voz e os responde, o Google quer empoderar concorrentes da Amazon no comércio eletrônico, na visão de Milanesi.

“A ideia de Alexa [assistente virtual da Amazon] é fazer com que pessoas comprem mais coisas na Amazon”, diz. “Para o Google, diz respeito à busca, permitindo que as pessoas interajam com o buscador mesmo quando não estão no celular [ou no computador]. Mas nesse universo há parceiros em potencial como Target ou Walmart, ou quem quer que seja que possa competir com a Amazon em comércio eletrônico.”

“E a experiência de uso [entre os produtos do Google e da Amazon] não deverá ser tão diferente, mas por outro lado você compartilha muito mais informações com o Google do que qualquer outra empresa, usando Android, Now, Gmail, Maps. Até a Apple é limitada no alcance de informações sobre os usuários”, diz Milanesi.

VR

Para a especialista, o esforço no sentido da realidade virtual tenta frear o avanço de Facebook e Samsung, donas de seus próprios dispositivos para “VR”, como é referido o segmento. Ambas são parceiras, aliás, no aparelho Gear VR.

“O Google tenta prover as ferramentas para que as fabricantes [concorrentes da Samsung como Alcatel, Huawei e LG] não tragam ao mercado óculos de VR que sejam decepcionantes, como já aconteceu”, diz Milanesi.

Para ela, uma decepção da conferência, realizada em Mountain View, Califórnia, até esta sexta (20), foi a apenas breve menção à plataforma de dispositivos vestíveis, Android Wear.

“Tudo parece de longo prazo, e isso faz empolgar, mas também implica em anos até que se possa desfrutar desses produtos”, diz. “Vai ser interessante ver a resposta da Apple [cuja conferência para programadores será realizada em menos de um mês], Intel, Microsoft.”

Mudança de foco

Outro observador, o jornalista Walt Mossberg, escreveu em sua coluna on-line algo semelhante sobre as apostas da empresa, e pontuou também que o Google pode estar mudando seu foco: dos dispositivos móveis para a inteligência artificial.

“É claro que isso não é algo novo, e o Google não foi o único a pensar nisso. A Apple lançou a Siri, sua assistente controlada por voz, em 2011. O Facebook e a Microsoft estão reforçando seus esforços em robôs de ‘chat’ e, neste momento, o produto mais cobiçado nessa área é o Echo, da Amazon”, escreveu.

Por outro lado, Mossberg afirma que o Facebook tem acesso a mais informações sobre os usuários do que o Google, graças não só ao que cada um deles e seus contatos publicam nas redes sociais, mas também pelo alcance de outros produtos da empresa, como o Instagram, o Messenger e o WhatsApp.

Para o articulista, a Apple deve se preocupar com os lançamentos do Google durante este evento, já que as propostas podem atrair mais usuários à plataforma de celulares Android e também fazer com que menos deles acessem apps da fabricante do iPhone – o Google lançou dois aplicativos de comunicação, Allo e Duo, que podem seduzir quem usa o iMessage e o FaceTime, por exemplo.

Os esforços da Apple em ter um assistente pessoal (Siri) mais preciso são mitigados pelo ideal (ao menos na esfera pública) de manter a privacidade dos usuários mais bem-protegida, diz Mossberg.

Integração

Outro colunista tecnológico, Philip Michaels, escreveu em uma análise sobre os lançamentos sobre o “preço da conveniência” que é “entrelaçar o Google ainda mais profundamente na sua vida cotidiana. “Uma coisa é pedir para o [futuro alto-falante] Home iniciar uma lista de reprodução de música; a outra é solicitar o assistente do Google para cada aspecto da sua vida, de seu próximo destino aos seus planos futuros.”

Uma das preocupações externadas por Michaels é o fato de o assistente conseguir interpretar não só o teor de texto, mas de imagens e vídeos, o que acontecerá ao menos no mensageiro Allo, espécie de concorrente do WhatsApp e do Messenger, do Facebook.

O Google divulgou, no seu blog, que seu plano é “organizar a informação do mundo”, tornando-a “acessível universalmente e útil”.

Durante o discurso principal da conferência, o presidente-executivo da empresa, Sundar Pichai, afirmou que a privacidade dos usuários não estaria ameaçada, que suas informações podem ser acessadas só por eles mesmos e que as mensagens do app Allo, por exemplo, são protegidas por criptografia.

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