Loja em shopping center curitibano: vendas sofrem por causa de inflação e endividamento| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Aumentos

Câmbio piora cenário para quem trabalha com mercadoria importada

Para complicar o ambiente de negócios, a alta do dólar vem dificultando a vida dos comerciantes, que viram subir os custos com importados e estão tendo que enfrentar os repasses de aumento de custos da indústria.

Tudo indica que o Natal terá preços mais salgados de itens importados. As encomendas, que começaram a ser feitas em agosto, já foram negociadas com o dólar mais caro, o que deve afetar os preços de eletroeletrônicos, roupas, enfeites e alguns itens da ceia. A importadora Porto a Porto, que vende cerca de mil itens, entre vinhos, cervejas, massas, doces, bacalhau, conservas e azeites, anunciou, a partir de agosto, um aumento de 10% os preços de todos os produtos. A indústria de eletroeletrônicos também já anunciou reajustes de preços.

"Hoje 30% dos produtos brasileiros tem algum componente importado.Tabelas que não eram corrigidas há tempos já aumentaram duas vezes nesse ano", diz André Luiz Pellizaro, da CDL.

CARREGANDO :)

Cai intenção de consumo das classes A e B

Pesquisa da Fecomércio e da Confederação Nacional do Comércio (CNC) realizada em Curitiba mostra que caiu a intenção de consumo das famílias das classes A e B. Em agosto, a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) com renda superior a 10 salários mínimos foi de 144,3 pontos, abaixo dos 151 pontos registrados em julho e dos 147,7 pontos apurados no mesmo mês do ano passado.

A pontuação praticamente igualou em relação à das classes C e D (144,8 pontos). Historicamente, famílias de maior poder aquisi­tivo sempre tiveram índices de intenção de consumo maiores. O números geral, no entanto, mostram melhora do ânimo para compras – a pontuação passou de 142,3 para 144,7 entre julho e agosto. Mas ainda assim está abaixo do número de agosto do ano passado (148,2).

O indicador caiu também porque está mais difícil conseguir crédito e os gastos com compras estão maiores que no ano passado. Na pesquisa, 51,4% das famílias disseram que estão comprando mais em 2013 do que em 2012. No levantamento de agosto do ano passado, essa proporção era de 40,4%. Esse movimento é puxado principalmente pelas classes C e D, com 50,7% contra 38,2% na comparação anual.

A disparada do dólar, a alta dos juros e os estoques mais altos derrubaram as projeções de vendas do comércio para o Natal. A Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) prevê um crescimento de 4,5% nas vendas nesse período em todo o país, ante 8,1% no mesmo período de 2012. Se confirmado, será o desempenho mais fraco dos últimos dez anos.

Publicidade

INFOGRÁFICO: Veja o porcentual de empresários do setor que estão otimistas

No Paraná, a Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio) projeta um desempenho melhor, mas ainda assim menor do que em 2012. A previsão é de um avanço de 8% nas vendas, contra os 13% registrados no Natal de 2012, segundo Darci Piana, presidente da entidade.

Segundo ele, a euforia com o consumo está menor. De um lado a inflação mais alta e o endividamento estão fazendo com que as famílias adiem compras. Por outro, os juros mais altos e a maior cautela dos bancos na aprovação dos empréstimos também limitam o acesso ao crédito, que foi um dos pilares que sustentou o consumo nos últimos anos.

Entre os comerciantes do Paraná, o índice de otimismo para o segundo semestre está mais baixo do que na época da crise econômica mundial, em 2009, segundo levantamento da Fecomércio. A pesquisa mostra que 55% dos empresários estão otimistas – contra 68,42% no primeiro semestre. No início de 2009, o índice de otimismo era de 58,62%.

A perda de motivação tem relação com o ritmo menor de crescimento das vendas e o aumento dos estoques nos últimos meses. No primeiro semestre, 45% das empresas registraram estoques acima dos registrados no mesmo período do ano passado.

Publicidade

A alta dos juros também já encarece financiamentos e os bancos estão mais cautelosos em conceder crédito. "Crédito farto e barato não existe mais", diz André Luiz Pellizaro, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) em Curitiba.

A entidade também já revisou para baixo a projeção de vendas para 2013. A previsão inicial era vender 6% mais no ano, mas agora se espera no máximo 4,5%, segundo Pellizaro. Em 2013, o consumo não vai poder contar com as reduções de IPI, que ajudaram a estimular as vendas no ano passado.No primeiro semestre, as vendas do comércio cresceram 3% em Curitiba, metade do registrado no mesmo período do ano passado, segundo Claudio Shimoyama, economista e consultor da Associação Comercial do Paraná (ACP).

A ACP ainda não atualizou suas projeções para o Natal. Mas, segundo Shimoyama, quatro fatores vêm tendo impacto nas vendas. O baixo desemprego e a massa salarial ajudam a estimular as vendas. "Em compensação, a inflação e alta dos juros vêm impedindo que as vendas cresçam mais", diz.

Lojistas vão contratar menos

Com a previsão de um crescimento mais modesto para as vendas esse ano, o comércio também já espera contratar menos pessoas para trabalhar no fim do ano. Estimativa da Fecomércio é que as lojas gerem entre 10 mil e 12 mil empregos temporários para as vendas de fim de ano no Paraná. Em 2012, esse número havia ficado entre 30 mil e 33 mil, segundo Darci Piana, presidente da entidade. A queda reflete a maior cautela dos lojistas em relação ao desempenho do Natal.

Publicidade

Segundo ele, o comércio deixou de contratar nos últimos meses e a grande preocupação até agora era quando o setor começaria a demitir. De janeiro a julho, entre empregados e demitidos, o setor registrou um saldo de 10,8 mil vagas, volume apenas 1,74% superior ao mesmo período do ano passado. Foi a menor taxa de crescimento entre os setores pesquisados pelo Ministério do Emprego e Trabalho (MTE).

Segundo Piana, com os números mais favoráveis do Produto Interno Bruto (PIB)- que reagiu e cresceu 1,5% no segundo trimestre –as expectativas melhoraram um pouco no médio prazo, mas ainda assim o setor não deve repetir o ritmo de contratações dos últimos anos.