Mão-de-obra
O próximo limitador do crescimento brasileiro poderá ser a falta de qualificação profissional, problema que, segundo os economistas José Guilherme Vieira e Marcelo Salomon, poderá gerar um "apagão de mão-de-obra". Segundo Vieira, uma amostra deste problema pôde ser sentida enquanto a economia crescia de forma acelerada até setembro de 2008. "Quando o Brasil voltar a crescer poderá ficar para trás. [O país] tem que formar novos talentos, não só em pesquisa e tecnologia, áreas em que o Brasil está muito atrasado. Eu diria que o problema é muito mais grave: não existem técnicos para trabalhar no chão de fábrica", afirmou o professor. Salomon lembrou que o problema é percebido pelo Itaú Unibanco, quando existe a necessidade de novas contratações, mas a qualificação das pessoas é insuficiente. "O salário no nível de pessoas qualificadas subiu muito mais rapidamente do que o de pessoas não qualificadas por uma questão de demanda", disse. O economista acredita que a economia brasileira não conseguirá crescer de forma sustentada acima dos 5% do PIB apenas com a elevação de gastos na formação bruta de capital fixo. "A falta de qualificação pode gerar uma inflação de salários", avaliou.
Educação
Para Salomon, investimentos em educação são tão importantes quanto aqueles feitos para resolver os gargalos da economia. "Investimento em infraestrutura não é só em máquina, é em educação também", ressaltou. O professor da UFPR apontou para necessidade de políticas de estímulo a educação profissional junto com uma maior integração entre as instituições de ensino e as empresas. "O que se vê nos Estados Unidos é um grande número de incubadoras de empresas, que nascem dentro das universidades. A taxa de mortalidade dos projetos deve ser altíssima, mas, se de cada cem duas vingam e viram Microsofts, isso já é o suficiente. Na realidade o investimento em educação é uma espécie de aposta, mas é uma aposta ganhadora no longo prazo."
Infraestrutura
Os economistas citaram a existência de problemas estruturais em portos, estradas e aeroportos e assinalaram a necessidade de investimentos públicos remover os "gargalos" com os recursos provenientes da redução do superávit primário, economia feita para o pagamento dos juros. "O problema é que, no Brasil, a maioria dos gastos do governo são permanentes, no custeio da máquina pública", disse Salomon. "Se o governo precisa fazer política fiscal ativa, por que não fazer com áreas que ajudem a reduzir o custo da logística empresarial?", questionou Vieira. "Isso vai aumentar o custeio, mas é bem menos do que inchar a máquina com a contratação de empregados", argumentou.
Setor imobiliário
Salomon descartou a possibilidade de que o programa habitacional do governo federal possa criar uma bolha imobiliária. "O Brasil tem cerca de 2% do PIB em crédito hipotecário, já os EUA têm 100% do PIB. Ou seja, haja Minha Casa, Minha Vida para a gente chegar lá", disse. "Piadas à parte, o Brasil não vai gerar um subprime com este novo programa. O Brasil pode até dobrar o número de hipotecas, de 2% para 4% do PIB mas não vamos ver ele chegar a 30% ou 40% do PIB nos próximos 5 ou 6 anos", completou. Para o economista, um cenário de juros mais baixos tende a aumentar a demanda por ativos de maior valor, impulsionando o mercado imobiliário.
Fusões e Aquisições
O mercado deve aguardar uma nova onda de fusões e aquisições em um ritmo acelerado. Segundo Vieira, essas operações devem ser tanto de empresas brasileiras quanto de investimentos estrangeiros diretos. "Não estou bem certo se essa é a melhor forma de o Brasil sair da crise, mas estou certo de que vão acontecer várias fusões e aquisições em vários setores, principalmente em empresas que estão mais fracas." Para Salomon, as fusões e aquisições observadas ao longo dos próximos meses serão de dois tipos: operações financiadas pelo BNDES e outras que devem ocorrer via troca de ações, uma vez que, ao contrário dos últimos anos, não há crédito disponível no mercado para financiar fusões de grande porte.



