
O Brasil já passou pelo "pior da crise", mas isso não significa que o Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer em 2009. Embora a economia brasileira tenha deixado o fundo do poço, atingido entre o fim de 2008 e o início deste ano, os próximos meses ainda sofrerão forte influência da crise econômica até porque a economia global provavelmente vive, neste momento, sua fase mais crítica. Essas são algumas das constatações dos economistas José Guilherme Vieira, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Marcelo Salomon, do Itaú Unibanco. Eles participaram ontem, em Curitiba, do debate "Perspectiva econômica: o Brasil em direção à retomada" primeira edição do ciclo Papo de Mercado 2009, promovido pelo caderno de Economia da Gazeta do Povo, com patrocínio da Amil Paraná e da MGM Operadora Turística.
"Estou otimista para 2010, mas preocupado com 2009", resumiu Salomon, para quem a economia brasileira vai recuar 1,6% neste ano e crescer 3,4% em 2010. "A massa salarial real ainda está crescendo, o juro pode ser cortado ainda mais. Mas nem por isso o PIB será positivo em 2009." Para o economista, a inadimplência das pessoas físicas que fechou março em 8,31% tende a acompanhar o aumento do desemprego e continuar subindo até o terceiro trimestre, provavelmente superando o recorde de maio de 2002 (8,44%). "A partir do quarto trimestre, as coisas se estabilizam, e esses níveis começam a cair."
Vieira ponderou que, apesar das conhecidas consequências da crise, o trabalho formal não demonstra problemas tão sérios já apresenta crescimento no acumulado do ano e, embora o nível de desemprego tenha aumentado, não chegou a níveis alarmantes. Por isso, a demanda não parou. O professor da UFPR, que dedicou parte de sua apresentação às oportunidades que estão se abrindo para o Brasil, lembrou que o país já viveu crises piores. Exemplo disso é a retração de 4,35% do PIB registrada em 1990, primeiro ano do governo Collor depois dela, a economia demorou três anos para retornar aos níveis de 1989. "O cidadão brasileiro já passou por tantas crises que a reversão das expectativas provocadas pela crise atual não foi tão forte quanto em países desenvolvidos, menos acostumados a isso. E isso é ótimo para nossa economia. Porque o pânico acabaria causando estragos bem maiores que o próprio fato."



