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É comum o futebol ser usado para traduzir a cultura de um povo. Provas disso são a série de relatos de brasileiros no exterior e a história de Gabriel Zabole de Assis, de 18 anos. Gabriel mora há nove meses na cidade polonesa de Wrocaw, com dois americanos, um mexicano e um australiano. Capixaba de Vila Velha, Gabriel está na Polônia fazendo intercâmbio cultural: mora com uma família polonesa a quem chama de pais e irmãos. O tempinho na Polônia já permite Gabriel fazer suas observações sobre o país. A bola está com você Gabriel:

"Aqui na Polônia, a euforia para a Copa é muito grande. Existem grandes diferenças no modo como estão se preparando, no modo de vibrar e festejar. Mas como em todo o Brasil, as pessoas daqui estão esperando ansiosas pelo começo do grande campeonato.

Na Polônia não há times bons ou mesmo jogadores que se destaquem, mas é incrível como eles dão valor ao campeonato local. Nesse ano entraram 12 jogadores brasileiros entre os 16 de um time polonês. No decorrer de todo o campeonato o time que mais aparecia na imprensa era esse. Mas a equipe só pôde contar com os torcedores da sua cidade, porque a cada jogo os poloneses queriam que os adversários massacrassem a equipe com jogadores brasileiros. Era uma questão de orgulho.

Os jogos de futebol para as pessoas daqui funcionam como desculpas para poder sair com os amigos, assistir à partida em algum clube e se divertir. Muitas vezes o resultado nem é tão importante. Os melhores resultados da seleção polonesa nas Copas foram quando ganharam duas medalhas de bronze, por isso o povo já não acredita no time nacional.

No Brasil, mesmo em um amistoso as pessoas acompanham do começo ao fim e não admitem uma derrota. Aqui já é diferente, por exemplo, no amistoso do Brasil contra o time suíço [Brasil 8 a 0 Lucerna, terça-feira, 30/05], quando liguei para minha família no Brasil, eles me disseram que iam assistir ao jogo e estavam querendo ver uma goleada. Também teve um amistoso Polônia versus Colômbia [a Colômbia ganhou por 2 a 0] e nada ouvi sobre isso. Somente quando comentei ao meu irmão daqui sobre o jogo do Brasil, ele disse que na TV estava passando o jogo da Polônia contra os colombianos. Naquele momento o meu pai polonês estava no sofá dormindo e meu irmão mais novo era o único que assistia à partida. Depois fui ver o jogo com ele.

Ser brasileiro nas bandas de cá, significa também saber jogar bola muito bem e conhecer tudo sobre futebol. Todas as vezes que conheço alguém novo, a primeira pergunta depois do nome é sobre o futebol. Fui convidado muitas vezes para jogar bola com eles e até fiquei sete meses jogando num clube de graça com alguns coroas que pagavam para isso. Durante todo o campeonato da UEFA recebi vários convites para sair e assistir aos jogos com os colegas. O polonês gosta bastante do Brasil e dos brasileiros e isso me ajudou muito para fazer amizades e me integrar mais rapidamente. Até hoje assisti aos jogos apenas com poloneses, porque em minha cidade, de 700 mil habitantes, não há outros brasileiros. Em nove meses vivendo aqui eu encontrei apenas três brasileiros. O Brasil ainda é exótico para essas pessoas, porém o que não deixo de ver todo dia é alguma propaganda ou cartaz na rua com o tema de futebol e com um jogador da nossa terrinha. A imprensa está elevando a bola do Brasil aos céus e tudo parece que o título tem que ser da nossa seleção. Se não for é porque alguma coisa errada aconteceu. No começo do ano, cada lugar que eu encontrava algo do Brasil tirava uma foto, porém agora não há lugar onde o Brasil não predomine. Em todas lojas pode-se encontrar pulseiras, chaveiros, cachecóis, camisas, calças, bermudas, meias, bonés, bolas e, até mesmo, cuecas com a bandeira verde e amarela. As pessoas já estão convencidas de que o Brasil vai levar a taça novamente. Aqui as pessoas falam que mesmo torcendo pela Polônia, se os canarinhos ganharem mais uma estrela será muita satisfação, pois para eles o melhor é ver o futebol arte.

Fecho este relato com uma historinha que traduz bem o espírito polonês: eu jogava todas as quintas-feiras com alguns coroas em um clube aqui perto da minha casa. Era divertido, apesar de levar mais falta do que drible. Uma vez eu cheguei atrasado e encontrei um deles no vestiário sozinho mexendo em suas coisas. Então vi uma garrafa de vodca em sua mão e depois de duas goladas ele se levantou e foi pra quadra. Eu já sabia que aqui bebiam bastante para matar o frio (naquela noite fez uns 15º negativos), mas beber antes de uma pelada? Pra mim foi novidade!"

Leia a matéria anterior: no ar rarefeito de Quito, torcida equatoriana está ansiosa com o início do Mundial.

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Próxima história: África em festa, o futebol alegria dos angolanos - Angola, nesta sexta-feira (02/06).

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