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Zetti diz não haver favoritismo no clássico | Daniel Castellano / Gazeta do Povo
Zetti diz não haver favoritismo no clássico| Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo

Londres – Há apenas sete anos, os produtores de banana da ilha caribenha de Santa Lúcia estavam prestes a pendurar os facões e mudar-se das colinas íngremes para a floresta. Os subsídios do Reino Unido para importação de frutas haviam sido cancelados, e eles já não podiam mais competir com as plantações sul-americanas. Uma indústria moribunda, portanto, capaz de fornecer apenas trabalho duro em troca de uma recompensa escassa.

Hoje, a ilha está festejando. As bananas de Santa Lúcia obtêm um preço "premium" e os supermercados europeus fazem fila para comprar mais. O dinheiro está chegando a escolas arruinadas, galpões estão sendo reformados e os fazendeiros mal conseguem acreditar na virada de sua sorte. A causa da mudança não está em alguma alteração nas regras comerciais, mas no aparentemente insaciável apetite do público europeu por produtos "éticos", e o desejo dos supermercados de dar bom exemplo à nossa vizinhança globalizada.

Em uma das mais dramáticas intervenções privadas na economia de qualquer país desde a criação da Companhia das Índias Orientais, no século 18, a rede britânica de supermercados Sainsbury’s anunciou na quarta-feira passada que todas as bananas que vender serão negociadas sob o conceito de "fair trade" (em português, comércio justo, um conjunto de regras comerciais desenhadas para favorecer regiões pobres do mundo). Cerca de 100 milhões delas virão de Santa Lúcia, o que significará uma injeção de cerca de 20 milhões de libras esterlinas (R$ 83 milhões) na economia local.

Aproximadamente 75% da produção da ilha acabará nas prateleiras da Sainsbury’s. Além disso, a rede está comprando 80% das bananas exportadas pela ilha de Dominica e uma quantidade adicional de outras ilhas da região.

Na última terça-feira, os primeiros ministros do Caribe que tempos atrás pressionavam o governo britânico por melhores condições de comércio faziam fila para agradecer a Sainsbury’s. "Você salvou os bananeiros de Santa Lúcia", disse "sir" John Comptom, 82 anos, premier de Santa Lúcia. Roosevelt Skerrit, 35 anos, que no ano passado foi escolhido em Dominica como primeiro-ministro mais jovem do mundo, disse que o relacionamento da rede com o país "não tem paralelo". "Como resultado do fair trade, nossos agricultores hoje podem investir na comunidade, e isso resulta em equipamento para as escolas, estradas rurais e instalações melhores."

O fair trade vai muito além das bananas da Sainsbury’s. A idéia de garantir preço e dar uma espécie de bônus social a fazendeiros pobres de países em desenvolvimento chegou à Inglaterra em 1994 e crescer a ponto de tornar-se uma operação de 290 milhões de libras esterlinas (algo como R$ 1,2 bilhão) por ano, com uma gama de produtos que vai de bolas de futebol ao chá, do algodão ao mel. O mercado ainda não é tão grande quanto o de alimentos orgânicos, mas cresce rapidamente ano a ano. Há nove anos, em todo o Reino Unido apenas uma rede de supermercados estava preparada para trabalhar com produtos desse gênero.

Hoje, os grandes supermercados competem abertamente entre si para mostrar-se socialmente conscientes. A competição pelo "dinheiro ético" tem rendido dividendos. A Fair Trade Foundation, instituição criada para apoiar essas iniciativas, anunciou na semana passada que as vendas cresceram 46% em 2006 e devem facilmente bater 300 milhões de libras (R$ 1,25 bilhão) este ano. "O fair trade é um fenômeno social e chegou para ficar", diz Harriet Lamb, diretor da instituição.

A identificação de produtos socialmente justos começou na Holanda, no final dos anos 80. Em 1988 a Fundação Max Havelaar lançou um selo de garantia de produto justo para o café do México. O selo britânico foi lançado em 1994 para marcas certificadas de chocolate, café e chá. De lá para cá, o número de produtos disponíveis salto de 150, em 2003, para os mais de 2,5 mil de hoje.

Nas próximas duas semanas, uma campanha da Fair Trade Foundation, apoiada por organizações de auxílio, sindicatos e igrejas, vai levar produtos socialmente responsáveis a muitos pontos da Inglaterra. Várias empresas aproveitarão para mostrar suas novidades. A rede Marks & Spencer vai lançar produtos de algodão, incluindo tapetes, artigos de cama, roupas infantis e masculinas. A iniciativa vai ampliar a cota de "algodão justo" da empresa de 100 para 6 mil toneladas no ano que vem. Os supermercados Co-op, pioneiros na idéia no Reino Unido, farão 1 milhão de sacolas de compras de algodão, projetadas para substituir as sacolas plásticas nas lojas.

Harriet Lamb e Roosevelt Skerrit, o primeiro-ministro de Dominica, estiveram na Câmara dos Comuns na semana passada, para falar a um comitê dos parlamentares britânicos da importância do comércio justo. "Acreditamos que ele beneficia diretamente mais de 5 milhões de agricultores e tem potencial para crescer enormemente. O mercado é ilimitado e sua capacidade de reduzir a pobreza é enorme", diz Harriet, da Fair Trade Foundation.

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