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Frear a agressividade de quem comenta – e obter receita – é a chave da discussão sobre cobrança por comentários. | Fernanda Carvalho/Fotos Públicas
Frear a agressividade de quem comenta – e obter receita – é a chave da discussão sobre cobrança por comentários.| Foto: Fernanda Carvalho/Fotos Públicas

A nem sempre amistosa relação com pessoas que comentam matérias tem feito muitos sites abolir a caixa de comentários de suas páginas. Michael Robertson acredita ter uma ideia melhor: cobrar de quem quiser comentar.

Robertson é um empresário de San Diego. Seus principais feitos são ter fundado o site MP3.com e travar uma longa batalha legal com a indústria fonográfica. Agora, este autoproclamado libertariano defende que sua companhia, a SolidOpinion.com, pode fornecer uma solução de mercado contra a trolagem. Ele acredita que pode convencer a indústria da comunicação a reconsiderar o valor dos comentários.

“Se pudermos gerar receita com isso, de repente todos os publishers vão querer a ferramenta. Eles investirão tempo nisso. E poderemos melhorar o nível dos comentários”, disse.

Pelo menos uma grande empresa americana de mídia comprou a ideia. A Tribune Publishing, proprietária do Chicago Tribune e do Los Angeles Times, adquiriu o SolidOpinion para o site do San Diego Union-Tribune. Leitores podem comprar pontos, que são usados para fazer comentários, comprar uma posição melhor para os seus comentários ao fim das matérias, visitar o site regularmente ou mesmo transformar em dinheiro de verdade. O jornal vende 880 pontos por US$ 10. O preço mínimo para promover um comentário é de 15 pontos. Por enquanto, o Tribune não usará o software para seus maiores jornais.

Até o momento, o Union-Tribune vinha usando o sistema de comentários do Facebook, o que causava reações diversas dentro do jornal pela dependência da rede social. O veículo estava faminto por mais dados sobre os seus leitores e sentia que o Facebook não devolvia tanto tráfego ao site como era esperado. A empresa também paga pelo trabalho moderadores e ficou tentada pela ideia de repassar esse custo para essas pessoas que quiserem deixar seus comentários. Tudo com um objetivo bem específico: “Espantar os trolls”, resumiu o diretor de notícias online do jornal, Tom Mallory.

“Eles apenas batem e atiram pedra em você para impressionar os amigos no Facebook.”

Alana Newhouse editora da Tablet, revista eletrônica que desde fevereiro tem pacotes para quem quiser comentar suas matérias.

Nem todo mundo precisa pagar para deixar seu comentário. SolidOpinion deixa que a área de comentários opere normalmente, mas reserva as três posições mais nobres para “comentários promovidos”. A ordem é definida pela maior oferta, como em um leilão. Os editores usam a ferramenta para moderar todos os comentários. O serviço é gratuito para uso, mas a startup fica com uma parte de toda transação financeira.

A startup de Robertson é parte de um crescente espectro de experimentos para deixar comentaristas controversos sob controle. Outra startup, chamada Civil, desenvolveu uma ferramenta que exige dos leitores ranquear dois comentários para certificar que o usuário é uma pessoa real, antes de permitir que suas postagens vão ao ar. The New York Times, o Washington Post e as fundações Mozilla e Knight estão trabalhando em colaboração para desenvolver ferramentas de código aberto em que os editores possam gerenciar os comentários.

Depois, há a opção nuclear. Ano passado, a revista Tablet, publicação judia com sede em Nova York, começou a cobrar pela postagem de qualquer comentário no seu site: US$ 2 por dia; US$ 18 por mês e US$ 180 por ano. A editora-chefe da revista, Alana Newhouse, disse que estava farta de comentaristas anônimos ofendendo seus escritores, mas queria permitir uma opção para as pessoas comprovarem suas boas intenções fazendo doação em dinheiro.

O resultado foi uma redução brutal no número de comentários, mas Newhouse não se importa. Ela diz que ganhar dinheiro nunca foi a prioridade. “Eles apenas batem e atiram pedras em você para impressionar seus amigos no Facebook”, diz.

Desde a implementação do sistema, em fevereiro, Newhouse diz ter perdido as contas de quantas outras publicações a procuraram para fazer movimento similar.

US$ 10

É quanto os usuários do San Diego Union-Tribune pagam por 880 pontos dentro do Solid Opinion. Para promover um comentário, são necessários no mínimo 15 pontos.

A visão de Robertson para comentários pagos tem mais a ver com publicidade. Ele prevê que grupos políticos pagarão por comentários relacionados às suas causas, o que tornará a seção de comentários um tipo mais eficiente de anúncio.

Seu primeiro cliente não concorda com essa visão. Quando o Union-Tribune começou a usar o SolidOpinion, Mallory revisou os termos de uso dos comentários no jornal, incluindo duras restrições ao uso do espaço para promover produtos ou serviços específicos.

“Não quero desencorajar o pequeno negócio a postar um comentário para se promover, mas quero desencorajar o uso comercial descarado deste espaço”, disse.

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