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O ano termina na última semana de novembro para o mercado financeiro. Da agenda de indicadores pipocam o resultado das contas públicas em outubro, a balança comercial de novembro e o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre.

A definição do juro básico da economia (Selic) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira à noite é apontado, contudo, como o evento mais relevante.

A nova taxa Selic tem validade até 24 de janeiro de 2007 e fará a travessia entre o primeiro e o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De 27 analistas consultados pela agência Reuters, 21 prevêem corte da Selic em 0,50 ponto percentual e 6 esperam 0,25 ponto porque vêem o Banco Central (BC) mais cauteloso.

Os indicadores macroeconômicos que vão arrematar 2006 e instalar o primeiro mandato de Lula na história serão conhecidos entre janeiro e fevereiro.

``A próxima Selic é o evento mais importante, inclusive, porque há divergência sobre mudança ou não no ritmo do afrouxamento monetário, mas o olhar do mercado já está voltado para 2007 há algum tempo'', comenta Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC Bank Brasil.

Ele explica que a montagem do novo governo e a definição do programa econômico do segundo mandato presidencial interessam ao mercado, mas pondera sobre a necessidade de se aguardar o desfecho dessas questões.

``Os sinais que temos até aqui são pouco claros e ainda me parece precipitado fazer considerações, principalmente, sobre o cenário fiscal do próximo ano. Inquestionável, porém, é a insatisfação geral com o baixo crescimento econômico.''

IMPULSO

A explícita e coletiva insatisfação com o crescimento do país é classificada por Octavio de Barros, economista-chefe e diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas do Bradesco, como fator de propulsão de iniciativas e decisões que transformarão o país.

``Não acredito em revolução reformista, mas em avanços importantes que serão viabilizados sobretudo pelo comprometimento do presidente Lula'', afirma Barros que previa, há meses, o estabelecimento de um cenário conciliador após as eleições.

``Estamos assistindo à formação de uma base de apoio muito maior do que qualquer analista político poderia imaginar. Notamos, sim, que prevalece a tradição conciliatória da política e da sociedade brasileiras. A diversidade de apoio ao presidente Lula é preciosa ao reunir políticos e uma comunidade empresarial que se revela muito cooperativa.''

MUDANÇAS CIRÚRGICAS

O economista-chefe do Bradesco considera emblemático o comportamento do presidente na primeira reunião ministerial feita após a vitória no segundo turno das eleições.

``O presidente mostrou interesse pelos entraves ao crescimento, excluindo juro e câmbio das discussões, e esta atitude não tem precedente no primeiro mandato. Lula saiu vitorioso das urnas há um mês e neste período observamos avanços em temas relevantes para desbloquear o crescimento.''

Barros pondera que um ponto a ser considerado com atenção e que alguns analistas desprezam até por inexperiência é o incentivo do governo a atitudes transformadoras.

``Vamos ter avanços interessantes em diferentes capítulos de uma agenda de crescimento, inclusive, porque não creio que haverá políticos competentes dispostos a gastar meses ou anos debatendo temas sem chegar a lugar algum. O cenário mais plausível é de mudanças simultâneas e cirúrgicas que serão efetivamente costuradas pelo presidente da República.''

CUIDADO NECESSÁRIO

Octavio de Barros reconhece que o cenário global e o descompasso observado entre oferta e demanda de bens no mercado interno inspiram cuidado, mas destaca a mobilização a favor do crescimento um poderoso instrumento para a superação de obstáculos.

``Os mercados certamente vão manter sob rigoroso monitoramento a inflação e as importações nos próximos meses porque a demanda crescendo mais que o PIB potencial não é problema no curto prazo, mas preocupa a médio e longo prazos'', avalia.

O economista lembra que se não ocorrer uma esperada recuperação da oferta, o afrouxamento monetário em direção à Selic de 12 por cento no final de 2007 pode não se concretizar.

``Caso as importações tomem fôlego excepcional'', acrescenta Barros, ``teremos uma queda maior do saldo comercial que pode acabar pressionando o câmbio. E é inegável que para o Brasil inflação, juro e câmbio têm um histórico que justifica a atenção dispensada ao comportamento destas variáveis.''

OFERTA ATRÁS DA DEMANDA

Alexandre Bassoli, do HSBC Bank Brasil, concorda com Barros quanto aos efeitos da eventual reincidência de desbalanceamento entre oferta e demanda nos próximos meses.

``Tivemos uma produção industrial decepcionante em setembro, mas os dados do varejo vieram muito fortes. De certa forma, portanto, ocorreu uma compensação entre estes indicadores. Mas o sinal que temos é de demanda doméstica reagindo fortemente, e esta constatação sugere que a produção correrá atrás da demanda evitando desequilíbrios.''

Atento a este cenário e aos alertas feitos pelo BC nas atas do Copom, Bassoli está entre os economistas que esperam redução no corte da Selic de 0,50 para 0,25 ponto percentual na quarta-feira.

``Não há informação que altere o quadro de risco anterior. As indicações são de inflação cumprindo as metas do BC, mas não há dúvida de que a atividade está avançando, o que pode explicar uma postura mais conservadora do BC'', conclui.

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