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"Bom começo"

Repercussão positiva nos EUA

O anúncio dos cortes no Orçamento foi visto por analistas em Nova York como positivo, pois tira a pressão por um ciclo de aperto monetário mais longo. Mas será preciso que o governo mostre ter também um plano de médio e longo prazo para não deixar somente sobre o Banco Central (BC) a responsabilidade de conter a inflação e para ajudar a fortalecer a confiança do investidor de que o governo tem uma política fiscal para todo o mandato de Dilma Rousseff. Segundo eles, os investidores querem conferir agora onde o governo fará os cortes, o que só deve ocorrer na semana que vem.

"O corte anunciado confirma o patamar que se espera de elevação da Selic sem que o BC tenha de fazer um aumento ainda maior. É um bom começo", disse o economista-sênior para América Latina da Economist Intelligence Unit (EIU), Robert Wood. "Mas o investidor quer ver os detalhes, saber em que áreas serão os cortes para ter uma ideia de quão sustentável ficará a situação no ano que vem. Ele não quer ver somente ajuste deste ano, mas uma política fiscal de médio e longo prazo, que ajude a fortalecer a confiança na política fiscal deste governo. Por enquanto, não temos garantia do que vai acontecer no ano que vem e nos outros anos", acrescentou. Wood mantém sua projeção de mais duas altas da taxa básica de juro de 0,50 ponto porcentual, nas reuniões de março e abril. A Selic está em 11,25% ao ano.

O analista sênior para América Latina e emergentes da consultoria Roubini Global Economics, Bertrand Delgado, disse também que o corte previsto pelo governo pode tirar uma pressão adicional sobre o BC para aumento da Selic, mas, assim como Wood, não muda a expectativa do ciclo de aperto no curto prazo. Ele mantém aposta de mais duas altas da Selic, em março e abril, para 12,25%. "Foi um passo certo do governo, na direção correta. Agora, se vai ser suficiente para conter a inflação, não se sabe ainda. Creio que deve ajudar, mas a inflação deve ainda ser forte este ano", disse Delgado.

Agência Estado

Caso o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento da União de 2011 seja cumprido pelo governo e leve o superávit primário a atingir a meta de R$ 117,89 bilhões neste ano, o pacote deve evitar que o Banco Central faça um aumento adicional de um ponto porcentual da taxa de juros básicos em 2011, estimam economistas. Na avaliação dos especialistas, que mantêm a expectativa de uma alta de pelo menos 1,50 ponto porcentual nos juros neste ano, a decisão do Poder Executivo de cortar os gastos é positiva, pois indica uma melhora na condução da política econômica ao indicar que as políticas fiscal e monetária estão alinhadas, o que não ocorreu na administração do ex-presidente Lula.

Para o diretor do Departa­mento de Pesquisas Econômicas do Bradesco, Octávio de Barros, sem os cortes no Orçamento a taxa Selic deveria subir entre 1 e 1,5 ponto porcentual acima do que ele projeta ser necessário neste ano, que é uma elevação de 1,5 ponto. Com esse aperto monetário e mais a adoção de medidas macroprudenciais anunciadas pelo Banco Central em dezembro, Barros estima que o IPCA deve fechar este ano com um avanço de 5,7%, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter um crescimento de 4,26%.

De acordo com o chefe do Departamento de Pesquisas para Mercados Emergentes das Américas do Nomura Securities em Nova York, Tony Volpon, mesmo com o corte de R$ 50 bilhões o Banco Central ainda precisará elevar os juros em 1,50 ponto porcentual neste ano, pois a demanda agregada está muito forte e a inflação está elevada. "Se as despesas não fossem cortadas naquele montante, é razoável avaliar que seria preciso um aumento extra de juros de um ponto porcentual neste ano", comentou.

Na avaliação do sócio da Tendências Juan Jensen, o corte de R$ 50 bilhões deve elevar o superávit primário efetivo (sem artifícios contábeis) de 1,8% do PIB em 2010 para 3% do PIB neste ano. "O montante anunciado equivale a 1,2% de um PIB de R$ 4,056 trilhões. Esse esforço fiscal extra do superávit primário de 1,8% para 3% do PIB equivale a uma alta de 1,25 ponto porcentual da Selic", afirmou.

Segundo Jensen, se não tivesse sido anunciado o corte e o governo repetisse em 2011 o superávit primário de 1,8% do PIB, poderiam ocorrer dois cenários: ou a inflação subiria muito e superaria 5,9% (estimativa da consultoria para o ano) em 2011; ou os juros teriam de subir mais que dois pontos porcentuais – alta que a consultoria prevê para este ano. Ou seja, sem os efeitos de contenção do nível de atividade promovidos pelo pacote, a Selic poderia subir até 3,25 pontos porcentuais em 2011 para evitar que a inflação superasse a marca de 5,9%. "A absorção doméstica cresceu acima de 10% em 2010, enquanto o PIB deve ter subido 7,5% no ano passado. Isto significa que a demanda está em velocidade chinesa enquanto o PIB avança no ritmo brasileiro", disse.

Volpon, Barros e Jensen avaliam que o anúncio do corte é uma indicação favorável da presidente Dilma Rousseff. Para eles, a atuação do Banco Central está hoje em harmonia com a gestão das contas públicas. Na administração Lula, o governo acelerava o nível de atividade com gastos públicos, enquanto cabia ao BC frear o crescimento do país com alta de juros. "Os sinais do Poder Executivo relativos à gestão fiscal indicam que a presidente Dilma quer que o governo atue com maior sintonia para que o país cresça de forma equilibrada e evite uma alta substancial da inflação", disse Volpon.

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