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Que tal comprar um carro por apenas R$ 800? Carinhosamente apelidado de "periquito", o Chevette 1983, pintado de verde, está exposto numa loja de acessórios automotivos do bairro Sítio Cercado, no extremo sul de Curitiba. O preço é de ocasião porque "tem umas coisinhas pra fazer nele", explica o vendedor Valdinei de Souza. E põe "coisinha" nisso. O periquito não saiu do lugar nem para melhorar o ângulo da foto. E como os pneus estavam murchos, sequer foi possível empurrar. Isso sem contar a lataria, o motor, os faróis, o interior... e o pára-choque, que foi ao chão quando Valdinei subiu no capô para fazer pose e declarar, cheio de si: "Não tem o que você não venda. Com esse preço barato que tá aí..."

Pode até vender, mas o comércio daqueles carros "mais rodadinhos" já foi melhor, diz o vendedor Levi de Oliveira, há décadas no ramo. "A venda de carro usado acabou. Ainda mais com esse financiamento que as lojas fazem hoje. Até catador de papel entra numa concessionária e sai de carro zero." Na semana passada, tentava vender um Del Rey 1988, por R$ 3,8 mil. Está difícil, mas ele tem esperanças.

No mesmo ponto freqüentado por Levi – a Rua Isaac Ferreira da Cruz, na esquina com a Nova Esperança, no Sítio Cercado, em frente à loja onde está o "periquito" –, o comerciante Luiz Carlos Ferreira, de 43 anos, expunha um Fusca 1982 por R$ 4,2 mil. "O fusca é bom de vender, mas se você realmente pede o precinho que ele vale, o pessoal reclama", conta Ferreira.

De fato, o velho fusquinha não perde a majestade. Este ano, foi o 5.º carro usado mais vendido no Brasil. Perde apenas para o Gol, o Uno, o Palio e o Corsa, segundo o ranking de usados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Para se ter uma idéia do sucesso, só no mês de junho foram vendidas 18.185 unidades do saudoso Volkswagen – pouco menos que o campeão de vendas entre os zero quilômetro, o Gol, com 20.230 unidades.

"A explicação é que a produção mundial do Fusca foi muito grande. Como tem muito por aí, também vende mais", diz o presidente da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores do Paraná (Assovepar), Lidacir Antônio Rigon.

No ranking da Fenabrave aparecem ainda outros carrões que já saíram de linha mas continuam no coração do brasileiro. Estão lá o Monza (10.º lugar), o Chevette (12.º), o Kadett (15.º), o Voyage (21.º) e outros tantos, como o Del Rey, o Corcel II, a Brasília, o Opala e a Belina. Para cada carro novo vendido no Brasil, são negociados três usados.

Para verificar a quantas anda este mercado, é bom deixar o Centro de Curitiba e se dirigir aos bairros mais afastados. "Aqueles carrinhos de R$ 2,5 mil e R$ 3 mil está realmente difícil de vender", contam os irmãos Hamílton Júnior e Paulo Henrique de Freitas, que tocam a loja do pai no Capão Raso, na rápida sentido bairro. Paulo conta que o perfil do comprador de carro velho é variado. Tem, por exemplo, "aquele cara que está ‘apertado’, que precisa sair de uma dívida, mas não quer ficar a pé. Aí ele vende o mais novo e compra um mais rodado."

A loja deles tem desde um "chevettinho tubarão 1978" até carros mais novos, como o Fiat Tempra ou a versão mais antiga do Chevrolet Ômega – que foram sinônimo de status e hoje ganham a simpatia do consumidor mais popular. "Tem gente que quer um carro mais luxuoso e mais confortável, com direção hidráulica e ar-condicionado, mas não tem dinheiro pra comprar um zero dos mais básicos. Aí vem aqui e leva um carrão usado", conta Paulo Henrique.

O vendedor Levi de Oliveira, do Sítio Cercado, acha que os carros maiores vendem mais em cidades vizinhas e no interior do estado. O consumidor da capital prefere modelos populares, que consomem menos e são menores. Caso do "periquito", que custa só R$ 800.

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