• Carregando...
Vista da Ocean Drive, rua famosa de Miami: gastos de brasileiros no exterior bateram recorde | Chen Siyuan/Creative Commons
Vista da Ocean Drive, rua famosa de Miami: gastos de brasileiros no exterior bateram recorde| Foto: Chen Siyuan/Creative Commons

Nunca se gastou tanto em viagens ao exterior

O turista brasileiro deu uma contribuição recorde para a explosão do rombo nas contas externas. Gastou US$ 6 bilhões em viagens internacionais somente nos três primeiros meses do ano – US$ 1,87 bilhão em março. Nunca a despesa com turismo no exterior foi tão alta.

Os gastos com viagens contribuíram para que o déficit no resultado de todas as trocas de serviços e do comércio do país com o resto do mundo — as transações correntes — atingisse o ponto mais alta de toda a série histórica, iniciada em 1947: US$ 24,9 bilhões.

O número equivale a mais que o dobro daquele registrado no período janeiro-março de 2012. Naquele trimestre, o déficit foi de US$ 12 bilhões.

Esse rombo tem vários motivos além do turismo. O principal é a fraqueza do comércio exterior. O déficit da balança comercial é responsável por mais da metade do crescimento do desempenho negativo na conta corrente. Além disso, como a economia brasileira está aquecida, o país gasta bastante com serviços. E as filiais de multinacionais aumentaram as remessas de lucro ao exterior.

Da Redação, com Agência O Globo

  • Santanna, da rede Slaviero: planos para 36 unidades

O ritmo de negócios na área de hotelaria é um dos sinais do bom desempenho do setor de turismo. Antes da confirmação dos eventos internacionais no Brasil, o segmento não tinha vantagens para contratação de crédito para novos investimentos. A situação mudou. Entre 2011 e 2013, a rede hoteleira Slaviero, por exemplo, captou R$ 50 milhões em financiamentos em linhas de bancos públicos para construção de quatro hotéis. A empresa administra 24 unidades no país e tem planos para chegar a 60 unidades até 2018.

De acordo com o diretor de expansão, Eraldo Santan­na, as linhas de crédito dão dois anos de carência, dez de amortização e taxas vantajosas de juros. "Ajudará a movimentar uma cadeia produtiva que só tende a crescer nos próximos anos", diz.

No ano passado, as empresas do mercado nacional de turismo captaram R$ 11,2 bilhões em financiamentos, liberados pelos bancos públicos. Foi o melhor resultado na última década. Só as empresas paranaenses contrataram R$ 453 milhões. O reflexo foi registrado no PIB do setor, que ficou quatro vezes maior que o nacional em 2012. O volume recorde de dinheiro distribuído nem sempre significa acesso fácil aos empréstimos, como ocorre nos setores imobiliário e o automotivo. Empresas de tu­rismo são submetidas a maior rigor nos critérios para a aprovação dos projetos, o que limita o financiamento.

Um exemplo é o Pró-Co­pa, linha de crédito que o Ministério do Turismo e o BNDES colocaram à disposição da hotelaria em 2010, e que termina no próximo dia 30 de junho, seis meses após o prazo inicial. Embora o BNDES tenha dobrado o orçamento da linha de R$ 1 bilhão para R$ 2 bilhões, apenas R$ 745,5 milhões foram empenhados até agora.

Segundo Eraldo Santan­na, as linhas de crédito realmente têm um trâmite bastante burocrático: um projeto leva em torno de dez meses para ser aprovado. "Mas a espera vale a pena", diz.

Mais para as maiores

Para o presidente da Asso­ciação Brasileira das Agências de Viagem (Abav), Antônio Azevedo, apenas as maiores empresas têm acesso ao crédito. "Os pequenos empreendimentos ainda têm muita dificuldade em obter os financiamentos, mesmo nos bancos públicos. O recorde pode ter sido batido, mas as pequenas agências não conseguiram dinheiro. É muito burocrático", reclama. Mesmo com restrições, Azevedo avalia que o turismo brasileiro tem condições de crescer 8% em 2013.

Desenvolvimento tem problemas estruturais

Na avaliação do Conselho Mundial de Viagens e Turis­mo (World Travel & Tourism Council, ou WTTC, na sigla em inglês), o crédito empresarial e pessoal, somado à estabilidade cambial e ao aumento da oferta hoteleira e aérea, vão garantir um crescimento médio anual de 5,1% no setor turístico brasileiro até 2023. Segundo o Ministério do Turismo (MTur), a contribuição direta da indústria de turismo e viagens vai passar dos atuais 3,4% para 3,7% do PIB brasileironos próximos dez anos. Em 2012, o se­tor, que emprega 2,8 milhões de pessoas, movimentou R$ 247 bilhões.

No entanto, o desenvolvimento do turismo depende de outros fatores além da oferta de crédito. Nos últimos anos, apenas 5% da receita gerada no setor vieram de estrangeiro. Em 2012, o país recebeu 5,7 milhões de turistas, que deixaram US$ 6,6 bilhões. A meta para 2020 é receber 10 milhões de viajantes do exterior, que deixem, no mínimo, US$ 20 bilhões. Para chegar lá, o Ministério do Turismo aposta em diferentes estratégias, da restruturação dos escritórios de divulgação no exterior até uma reforma tributária.

No início deste ano, o Embratur, órgão responsável pela marketing do destino Brasil, lançou o edital de concorrência para contratar uma empresa que instalará escritórios de divulgação em 13 cidades entre a América do Sul, Estados Unidos e Eu­ropa. Esses escritórios vão aproveitar a Copa do Mundo e a Olimpíada para colocar o país na prateleira de operadoras, agências e companhias aéreas estrangeiras.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]