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A Bematech foi uma das empresas que abriu capital e se beneficiou do aumento do consumo | Henry Milleo/ Gazeta do Povo
A Bematech foi uma das empresas que abriu capital e se beneficiou do aumento do consumo| Foto: Henry Milleo/ Gazeta do Povo

Mercado mais diversificado é menos vulnerável

Um mercado de capitais mais diversificado é geralmente menos volátil e menos vulnerável a crises e turbulências, na opinião de analistas. "Quando mais diversificada a economia, mais forte ela será", diz o professor Lucas Dezordi, da Universidade Positivo. Mas o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer na diversificação do seu mercado de capitais, na opinião do professor Marcos Wagner da Fonseca, da UFPR. "Quando olhamos as bolsas de outros países, vemos que ainda temos um mercado bastante concentrado", diz.

O atual momento de baixa do mercado acionário – o Ibovespa recuou 15,5% em 2013 – também não serve como estímulo para novas ofertas. Várias empresas adiaram lançamentos por causa da instabilidade do mercado e do mau humor dos investidores com a economia brasileira. O cenário pode deixar de fora investidores internacionais, em geral os maiores compradores de IPOs brasileiros. Eles ficaram com 68% das ofertas de ações brasileiras entre 2006 e 2008, e 45% em 2013.

Para o operador Luiz Ferraz, da Unique Investimentos, o mercado corrigiu os valores das ações das empresas para o valor real dos ativos. "Algumas companhias não entregaram o que prometeram", afirma.

Muitas empresas que entraram nos últimos anos têm passado por uma espécie de batismo de fogo no mercado de ações. O setor de construção, por exemplo, viu seus papéis perderem mais de R$ 10 bilhões em valor de mercado somente no ano passado.

A maioria dos analistas acredita que a recuperação da Bovespa não virá antes do segundo semestre de 2015. É difícil repetir o boom visto em meados da última década, mas o mercado deve atrair mais ofertas de setores como varejo farmacêutico, alimentação, educação e automotivo. "Gostaria de ver empresas de tecnologia nacionais fazendo ofertas. Mas para isso o Brasil tem que melhorar sua competitividade", diz Dezordi.

O aumento do consumo, da renda e do número de pessoas na classe C catapultou setores do comércio e serviços e mudou o perfil não apenas da economia, mas também da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nos últimos anos. Os segmentos de varejo, educação, saúde, alimentos, construção civil e transporte já representam 28% do Ibovespa, principal referência do mercado de capitais brasileiro.

Veja a diversificação do mercado de capitais brasileiro

Trata-se de algo impensável há dez anos, quando os ativos do setor de telefonia, petróleo e petroquímicos, energia, mineração e siderurgia reinavam absolutos, com mais 80% do índice.

Parte desses setores continua a ter peso relevante, mas a bolsa brasileira está bem mais diversificada, principalmente depois do boom de processos de abertura de capital. Em uma década, o valor somado das ações na Bovespa mais que dobrou, para algo em torno de R$ 2,4 trilhões.

Somente entre 2006 e 2007 cerca de 90 empresas – principalmente dos setores de varejo, alimentação, bancos médios, educação e construção – lançaram ações. Nessa leva entraram empresas com sede no estado, como Paraná Banco, Bematech, América Latina Logística (ALL) e Positivo Positivo Informática, por exemplo.

Em 2004, o setor de varejo representava 0,6% do Ibovespa; hoje são 5,41%. O setor de alimentos e bebidas passou de 1,97% para 8,57% na mesma base de comparação. Os bancos pularam de 10,49% para 19,95%, e a educação já chega a 2,5%.

As mudanças espelharam, de certa forma, as transformações que a economia brasileira passou nas últimas duas décadas, segundo o professor de finanças da UFPR Marcos Wagner da Fonseca. Em 1994 havia uma Bolsa de Valores dominada por estatais e pouco diversificada, mas que começou a mudar a partir das privatizações e dos programas de apoio aos bancos, como o Proer e a criação do Plano Real. "Novos setores ganharam importância ao longo do tempo, mais especialmente da última década, por conta de políticas de apoio ao consumo", afirma.

Varejo

Além da renda, do crédito e do fortalecimento de uma nova classe média, as políticas adotadas pelo governo para combater os efeitos da crise de 2008 foram quase todas voltadas para estimular o consumo, como redução do IPI sobre automóveis e eletrodomésticos de linha branca, redução da taxa de juros e aumento do crédito. "Com isso empresas ligadas a alimentos e bebidas, como JBS Friboi, Ambev, Pão de Açúcar, Hering, Americanas e Renner, por exemplo, ganharam destaque", lembra.

Nos últimos três anos, além do varejo, setores ligados à saúde, educação e farmacêutico foram à Bolsa de Valores.

Embora a Bolsa não represente fielmente a composição do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, as mudanças na bolsa guardam relação com a geração de riquezas no país.

Setores que ganharam espaço na Bovespa também tiveram crescimento acima do PIB. Um cálculo elaborado pelo economista Lucas Dezordi, coordenador do curso de economia da Universidade Positivo (UP), mostra que o PIB brasileiro cresceu 35% nos últimos dez anos. Na mesma base de comparação, setores que cresceram acima do PIB foram também os que ganharam representatividade no mercado de capitais.

A construção civil cresceu 42,2%, o comércio, 47%, e a área de intermediação financeira, seguros, previdência complementar e serviços relacionados avançou 86%. Em paralelo, o consumo das famílias, que ajudou a sustentar as vendas do comércio aumentou 50,4% e a formação bruta de capital fixo, que engloba também a construção, aumentou 75,6%. "Com crescimento acima da média, essas empresas foram ao mercado de capitais para reduzir endividamento e financiar seus projetos de expansão", diz.

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