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Crise argentina derruba exportações brasileiras

Fronteira do Brasil com a Argentina: governo vizinho não tem pressa em resolver entraves | Kiko Sierich
Fronteira do Brasil com a Argentina: governo vizinho não tem pressa em resolver entraves (Foto: Kiko Sierich)

A crise argentina começa a espirrar nos parceiros comerciais, a começar pelo Brasil. Em janeiro, as exportações brasileiras para o país vizinho caíram 14% em relação ao mesmo mês de 2012. O cenário para os próximos meses não é otimista. Em dezembro, a Argentina anunciou um corte de 27,5% nas importações do setor automotivo; além disso, a alta do câmbio deixou os importados mais caros para o consumidor argentino.

A retração nas importações afeta o Paraná, um dos principais parceiros comerciais da Argentina. A queda nas exportações do estado para o país vizinho foi relativamente suave em janeiro, de pouco mais de 1%, mas as projeções para o longo prazo preocupam. "O problema está no caso de os importadores argentinos não conseguirem honrar as compras que fizerem", diz Roberto Zurcher, economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).

Na avaliação de Zurcher, se a crise se aprofundar e a Argentina não tiver divisas suficientes para acertar as compras com o resto do mundo, haverá uma queda muito forte nas exportações brasileiras.

Mercado automotivo

O Brasil é o principal fornecedor de veículos e peças para a Argentina, e boa parte dessas vendas são feitas por empresas instaladas no Paraná. Depois de subir 9% de 2012 para 2013, as exportações brasileiras de veículos e peças para a Argentina caíram 11% em janeiro, em comparação a igual período do ano passado. Por enquanto, as montadoras e fabricantes de autopeças do Paraná ainda não acusaram o golpe: as vendas do início do ano tiveram forte aumento de 22%, dando sequência à alta de 17% ocorrida de 2012 para 2013.

Porém, o mesmo resultado não se repetiu no setor de máquinas e aparelhos mecânicos, o segundo do estado em receita de exportações para a Argentina: em janeiro, o faturamento dos exportadores despencou 28%. O setor de papel, o terceiro do ranking, saiu-se bem, com aumento de 4% nas exportações em janeiro.

O presidente da Asso­ciação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, acredita que a crise na Argentina tende a piorar e que deve prejudicar o Brasil. Além de frear a entrada de automóveis e autopeças, o governo de Cristina Kirchner não tem pressa em autorizar a entrada de produtos brasileiros. A demora na liberação da Declaração Juramentada Antecipada de Importação (Djai), obrigatória para compras externas, é uma das barreiras. Outro entrave refere-se à dificuldade para trocar pesos por dólares para quitar as importações.

Castro prevê que os argentinos reduzam suas importações totais em US$ 5 bilhões neste ano. Desse total, US$ 3 bilhões se referem a produtos brasileiros – o equivalente a 15% do que o Brasil exportou para o país vizinho em 2013. "E tudo isso torcendo para que a Argentina não declare moratória", diz.

Dependência

País é o 2.º parceiro comercial do Paraná

Na soma de exportações e importações, a Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás de China e Estados Unidos.

No ano passado, as empresas brasileiras exportaram US$ 19,6 bilhões para o país vizinho (o equivalente a 8% do total), e importaram US$ 16,4 bilhões (7% do total).

Para o Paraná, a Argentina é ainda mais importante. O país é o segundo parceiro do estado, depois da China. Em 2013, os argentinos compraram US$ 2 bilhões em produtos paranaenses (11% do que o estado exportou), principalmente industrializados. Em direção oposta, o estado comprou US$ 2,3 bilhões da Argentina (11% de todas as importações).

O governo brasileiro vê a situação com cautela. Para Daniel Godinho, secretário do Ministério do Desenvolvimento, é preciso mais tempo para avaliar a queda nas exportações.

Colaborou Fernando Jasper

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