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O CEO da InteliGov, startup residente do Cubo Itaú, Raphael Caldas.
O CEO da InteliGov, startup residente do Cubo Itaú, Raphael Caldas.| Foto: Divulgação

A relação saudável entre os interesses da iniciativa privada e do poder público são, para Raphael Caldas, um dos pilares da democracia, ao lado da transparência e da luta contra a corrupção. Caldas é CEO da startup InteliGov, um sistema de monitoramento automatizado que acompanha assuntos de interesses das empresas e a tramitação de projetos de leis que possam impactar em seus negócios. A startup é residente no Cubo Itaú, maior hub de inovação da América Latina.

Tudo começou quando Caldas, advogado, desenvolveu por conta própria uma ferramenta chamada ZenLobby, que ele utilizava para prestar o serviço de consultoria. Por volta de 2013, alguns amigos de Caldas começaram a pedir para também usarem a ferramenta, e então o advogado percebeu a oportunidade de transformá-la em um produto. Assim, surgiu a InteliGov. “Eu era um defensor do nome anterior, com lobby, porque o problema não é a palavra, que acabou ganhando um peso negativo, mas como as práticas lobistas são mal feitas, sem transparência, expostas à corrupção”, aponta.

Hoje, a InteliGov atua em três eixos: monitoramento, gestão e inteligência. Para dar início ao trabalho, a empresa precisa ter mapeado seus temas de interesse. Se a empresa não tiver isso listado, a InteliGov faz um levantamento em conjunto com a empresa e então sugere uma matriz de assuntos que podem impactar o setor onde a empresa atua, considerando, também, o que está sendo monitorado por outros clientes que tenham interesses parecidos. Já empresas que possuam a própria matriz de assuntos monitorados podem fazer a importação dos dados facilmente para o sistema da InteliGov.

Para exemplificar, Caldas sugere a situação em que um vereador em Aracaju, em Sergipe, apresente um Projeto de Lei que obriga concessionárias de serviços públicos a enterrarem seus cabos aéreos. Isso afetaria empresas do ramo de energia e telefonia, por exemplo, podendo ter impacto de bilhões na operação destas companhias. Em um primeiro momento, o papel da InteliGov é monitorar a proposição. “A ideia é que as organizações possam saber com mais agilidade o que pode impactar seu negócio, e assim agir de forma mais pró-ativa. Isso tudo sem precisar ficar entrando em diferentes sites. Com nossa ferramenta, a informação fica centralizada em apenas um lugar”, explica o CEO.

A InteliGov desenvolveu também um mecanismo de gestão para esta matriz, que pode ser bastante volumosa – Caldas conta que um de seus clientes monitora mais 18 mil projetos de lei, por exemplo. Tradicionalmente, esta gestão era feita utilizando uma planilha de Excel, mas com um volume grande isso acaba ficando inviável. “Nosso sistema fazer a gestão desta matriz, e consegue apontar prioridades, gerar gráfico e relatórios em diferentes formatos, facilitando o entendimento dos dados”, conta.

E, então, com os dados levantados, entra a inteligência que, para Caldas, é um dos diferenciais da InteliGov. Com um banco de dados de mais de dois milhões de PLs, de milhares de parlamentares e também de como eles votam, é possível fazer sugestões assertivas para o relacionamento destas empresas. Se, por exemplo, uma companhia ganha o apoio de um parlamentar, ela consegue identificar também quais outros seguem a mesma linha. “Conseguimos entender o comportamento dos nossos clientes pelos assuntos de interesse e os projetos que acompanham, e o dos parlamentares com base em suas propostas e em seus votos. Cruzamos estas informações para identificar as sinergias”, diz.

Captura de tela com interface do sistema desenvolvido pela startup Inteligov
Sistema desenvolvido pela InteliGov permite acompanhar proposições e atividades de parlamentares com mais facilidade| Divulgação

Mais transparência, custos menores

Quando negociações são feitas exclusivamente no âmbito privado, as restrições são muito menores, aponta Caldas. “Você pode fazer tudo o que a lei não proíbe. Já lidando com o poder público, o vetor muda: você só pode fazer o que a lei permite. Então é preciso ter mais cuidado para não sair da linha”, completa.

O CEO diz que a história da startup coincide com um novo momento que o Brasil vive desde 2013, com um novo paradigma ético sendo desenhado. Isso também resultou em uma busca por novos meios de se relacionar com o poder público, não baseado exclusivamente em uma pessoa que concentra as relações em seus contatos pessoais, mas em um método que produz dados confiáveis, e que é auditável.  “É uma importância educativa. Cria uma nova geração de profissionais que cuidam das relações governamentais de forma mais transparente. Não é só um novo paradigma ético, mas uma forma de ter melhores resultados”, afirma Caldas.

A automatização deste tipo de monitoramento pode, ainda, trazer uma boa economia para as empresas. Caldas conta quea startup está para assinar um contrato com uma das mantenedoras do Cubo, cujo nome ainda não pode revelar. As duas empresas realizaram um teste para apurar o retorno sobre investimento (ROI). O resultado do ROI foi de 450%, com uma economia de 120h por mês. “Se a empresa ainda optar por não ter mais uma consultoria de um terceiro, que costuma custar bastante, o ganho é ainda maior”, acrescenta.

Atualmente, a InteliGov conta com cerca de 40 clientes, entre eles Braskem e Fiesp. O plano é chegar aos 100 clientes até o final de 2020.

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