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Beneficiado pelo programa, Hélio Martins trabalha com carteira assinada há oito meses | Gilberto Abelha/ Gazeta do Povo
Beneficiado pelo programa, Hélio Martins trabalha com carteira assinada há oito meses| Foto: Gilberto Abelha/ Gazeta do Povo

Sem preconceito

Veto em contratações ocorre apenas por motivos técnicos, diz Sine

O encaminhamento de antigos moradores de rua de Londrina para vagas de trabalho não é, contudo, a garantia de que eles serão contratados. Ainda assim, a negativa na admissão não costuma ter ligação com a história de vida destes candidatos, assegura a técnica de gestão pública do Sine, Paula Carolina de Souza. "As empresas estão demonstrando bastante abertura com a questão social. Nunca tivemos um retorno em que a negativa foi devido à situação de rua, mas por falta de documentos ou treinamento", observa.

"O preconceito ainda existe, mas estamos tentando superar essas situações", enfatiza a secretária de Assistência Social de Londrina, Télcia Lamônica. Para ela, apesar de o processo de reinserção no mercado de trabalho ser lento, avanços estão sendo registrados. "É um trabalho bem complexo, com pessoas que perderam tudo, a casa, a possibilidade de trabalho, a dignidade. A assistência social vai abordando, mas a política pública precisa integrar outras áreas, como a própria Secretaria do Trabalho", afirma.

A iniciativa, acrescenta Télcia, também consistiu na visita a abrigos para verificar que tipos de vagas fazem parte da demanda que este público representa.

Novos laços

Objetivo é manter a população atendida fora das ruas

A rede de assistência à população de rua de Londrina tem quatro abrigos com 149 vagas. Por meio do Centro de Referência para a População de Risco (POP) são atendidas 316 pessoas por mês, o que inclui não só moradores de rua, mas pessoas em situação de vulnerabilidade social.

A coordenadora do Centro POP, Mariluci Queiroz dos Santos, avalia que, embora garantir trabalho para os antigos moradores de rua seja importante, este não é o objetivo final da parceria entre a prefeitura, as entidades de acolhimento e o Sistema Nacional do Emprego (Sine). A meta é fazer com que o público assistido crie novos laços e consiga permanecer fora das ruas. "Como é um público muito vulnerável, nem sempre o emprego é a vitória. Queremos que eles tenham vínculos com a equipe, que possam cuidar de si, fazer tratamentos de saúde, que avancem em alguma situação", explica.

Ela lembra que o início do acompanhamento até o encaminhamento para trabalho é um processo bastante cauteloso. O objetivo é evitar que o ex-morador de rua, ainda sem condições de arcar com as exigências do mercado, tenha uma recaída. "Tudo precisa estar aliado à vontade deles", diz.

De jaleco e vassoura na mão, o auxiliar de serviços gerais Hélio Martins, de 54 anos, encontrou no trabalho uma ferramenta para mudar de vida. Ex-morador de rua, ele está há oito meses empregado com carteira assinada. O registro, a disciplina e o salário ganho já o levam a sonhar com o dia em que poderá retomar os estudos, abandonados ainda no primário, e conquistar um teto – hoje vive em um abrigo de Londrina, no Norte do estado.

Hélio é uma das pessoas em situação de vulnerabilidade social no município que conseguiram reinserção no mercado de trabalho graças a uma parceria entre entidades de acolhida, a Secretaria Municipal de Assistência Social e o Sistema Nacional do Emprego (Sine). "Estou lutando para conseguir um objetivo melhor de vida, ter coisas novas", diz o trabalhador, que viveu mais de 15 anos nas ruas.

Dados do Sine em Lon­drina apontam que cerca de 40 pessoas com história semelhante estão aptas a passar por processos de seleção em busca de emprego. Esta condição é resultado de um trabalho de triagem e acompanhamento junto à população de rua local, hoje estimada em aproximadamente 300 habitantes, através do Centro de Referência para a População de Risco (POP).

Suporte

A ação inclui atendimento com assistentes sociais e psicólogos, que os encaminham para concorrer às vagas disponíveis. O programa oferece também transferência de renda, de R$ 150 ou R$ 250 mensais, para aqueles que conseguirem deixar as ruas, seja alugando um quarto, retornando ao convívio familiar ou aceitando ir para abrigos, e demonstram interesse em criar novos vínculos sociais.

Coordenadora do Centro POP, a assistente social Mariluci Queiroz dos Santos explica que o Sine faz o direcionamento dos assistidos para as empresas. Antes, porém, são providenciados para eles documentos e capacitações técnicas, como as oferecidas pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). "Eles são recebidos de maneira diferenciada. O trabalho é algo que exige hábitos e responsabilidades que, às vezes, quem passou tanto tempo na rua tem dificuldades de retomar", explica ela, ao observar que o público acima dos 30 anos, já com histórico de outros empregos, é o que consegue encaminhamento mais rápido.

A técnica de gestão pública do Sine, Paula Carolina de Souza, assinala que é feito uma espécie de mapeamento das habilidades dos moradores de rua. "Precisamos conversar mais com eles, saber que tipo de experiência tiveram antes. O mais comum é que eles deem preferência para vagas que não peçam muita qualificação, mesmo já tendo trabalhado na área. Depois, vão galgando outras colocações", afirma.

Oportunidades Os setores com o maior número de contratações de ex-moradores de rua em Londrina são os de jardinagem, construção civil e limpeza. Mesmo depois de empregados, o acompanhamento social continua a ocorrer semanalmente ou a cada 15 dias.

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