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Roubini comentou a inflação no Oriente Médio e nos países emergentes | Fabrice Coffrini/AFP
Roubini comentou a inflação no Oriente Médio e nos países emergentes| Foto: Fabrice Coffrini/AFP

Zona do euro

Risco de nova recessão persiste

O economista Nouriel Roubini, um dos poucos a prever a crise de 2008, acredita que a zona do euro e o Reino Unido ainda correm o risco de enfrentar um "duplo mergulho", termo usado para indicar uma nova recessão econômica. Em palestra no Fórum Econômico Mundial, o professor enfatizou que o resultado negativo do Produto Interno Bruto do Reino Unido no quarto trimestre é um sinal de que mais fraqueza na economia pode estar adiante em 2011.

O professor enxerga a economia como um "copo meio cheio e meio vazio", com sinais de recuperação em países desenvolvidos e em emergentes e um ritmo "anêmico" de crescimento em algumas economias avançadas com problemas de endividamento.

O economista elogiou as respostas mais agressivas aos riscos na zona do euro nos últimos dois meses. Para ele, a possibilidade de a crise se espalhar pela Espanha e a falta de habilidade dos países em crise para encontrar uma saída às dificuldades são problemas remanescentes. Diante do cenário, ele vê um risco de que a união monetária se dissolva no futuro. "Se a Grécia afunda, é um problema para a zona do euro. Se a Espanha afunda, é um desastre", apontou o economista, ao dizer que o país é muito grande para cair, mas, ao mesmo tempo, muito grande para ser resgatado. A Espanha é a quarta economia europeia e a sua taxa de desemprego supera os 19%.

Folhapress

Vista como um dos principais riscos do momento, a inflação global tem a capacidade de gerar mais tensão social e, consequentemente, instabilidade política pelo mundo. O tema é um dos mais comentados no Fórum Econômico Mundial, que começou ontem em Davos, na Suíça. A disparada dos preços dos alimentos é apontada como um dos motivos da insatisfação popular que derrubou o governo da Tunísia e inspirou os protestos de terça-feira no Egito, que terminou com três mortos no chamado "dia da ira".

Além da África, a alta das commodities também pode gerar efeito relevante na Ásia. Zhu Min, conselheiro do Fundo Monetário Internacional (FMI), lembra que os alimentos respondem por 75% do índice de inflação ao consumidor na Índia. "O impacto é enorme", disse. "O aumento da inflação pode levar a mais instabilidade social e política, como aconteceu na Tunísia e no Egito", afirmou o economista Nouriel Roubini.

Os emergentes enfrentam o desafio de administrar a política monetária de forma a conter os índices de preços, mas sem provocar um pouso forçado da economia. No caso do Brasil, Roubini acredita que é preciso maior restrição fiscal a fim de domar a inflação. "O risco é a inflação e a resposta que as autoridades trarão para o problema", acredita Martin Sorrell, presidente do grupo britânico WPP.

A questão também deixa os países desenvolvidos numa encruzilhada, principalmente na Europa, onde o crescimento econômico ainda não engatou e a crise de dívida soberana traz receios. O continente está embar­­cando numa onda de austeridade para conter o déficit público e, ao mesmo tempo, vê a inflação superar a meta de 2%. As commodities estão subindo, puxadas pela onda de forte crescimento dos emergentes. O movimento é exacerbado pela liquidez artificial atualmente em circulação no mundo, criada pela política monetária acomodatícia dos Estados Unidos. A questão da especulação com as commodities foi introduzida na agenda do G-20 pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, que preside o grupo neste ano.

Brasil precisa "esquecer" dólar, diz economista

O Brasil deveria olhar menos para o dólar e se voltar mais para as moedas de outros parceiros comerciais, acredita o economista-chefe do Standard Chartered, Gerard Lyons. "O país precisa pensar globalmente", afirmou em entrevista durante o Fórum Econômico Mundial. Ele defende a diversificação da administração das reservas internacionais com a inclusão de novas divisas. Além disso, avalia que o Brasil teria de adotar uma cesta de moedas como referência para avaliação do valor do real. Essa cesta incluiria, além do dólar, o iuan e outras divisas, conforme a tendência do comércio externo brasileiro.

Lyons avalia que também seria positivo ver o Brasil e a China realizando negócios nas moedas locais, como já foi cogitado pelos governos dos dois países. "Será vital para o Brasil administrar sua moeda não apenas em relação ao dólar", argumentou.

Lyons acredita que o mais importante para o Brasil neste momento é conter a alta dos preços. "O Brasil precisa fazer o que for necessário para conter a inflação, precisa apertar a política monetária", disse. Se o real subir como resultado, o país tem duas opções: deixar a moeda apreciada ou adotar controles de capital. Lyons é um defensor do mecanismo de controle nesses casos, desde que temporário, focado e efetivo – numa mostra das mudanças de visão em plena Davos. "Pode ser que os investidores de longo prazo pensem em não voltar mais, mas o Brasil é um país grande e eles terão de voltar", acrescentou.

Ele não vê a inflação como ameaça global, pois os Estados Unidos e parte da Europa ainda lidam com o perigo da deflação. Entretanto, acredita que a alta dos preços é um "grande problema" para os emergentes, tanto que Brasil, Índia e China terão de elevar os juros. No país, ele acredita que a atuação do Banco Central será suficiente para impedir o superaquecimento da economia.

Medvedev quer mais destaque a moedas do Bric

O presidente russo, Dmitry Medvedev, pediu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para que a instituição inclua as moedas dos países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) no seu fundo de reserva internacional (SDR). O discurso marcou a abertura oficial do Fórum Econômico Mundial.

O SDR foi criado em 1969 para dar suporte às reservas oficiais dos países-membros do FMI. Ele é composto por uma cesta de quatro moedas escolhidas de acordo com o maior volume de exportações de produtos e serviços nos cinco anos anteriores à decisão. O FMI revisa a cesta a cada cinco anos. Na última decisão, em novembro de 2010, o dólar, o euro, a libra esterlina e o iene foram mantidos na cesta das moedas.

Medvedev mencionou as medidas de seu governo para facilitar investimentos no país e para lutar contra a corrupção. O discurso faz parte de um esforço para convencer investidores estrangeiros a apostar na Rússia. "A Rússia é por vezes criticada. Algumas vezes as críticas são merecidas, mas às vezes com certeza não", afirmou. A apresentação foi antecipada por um minuto de silêncio em memória às vítimas ao atentado que matou 35 pessoas no aeroporto mais movimentado da Rússia na segunda-feira. Para o presidente, os responsáveis pela tragédia achavam que ele não iria a Davos. "Calcu­laram mal, porque a Rússia tem seu lugar no mundo, e é um lugar que oferece possibilidades econômicas, e por isso estou falando nesta tribuna", disse. Por causa do atentado, o presidente reduziu a sua participação em Davos. No segunda-feira, uma porta-voz do Kremlin chegou a informar que o presidente cancelaria a ida ao Fórum. "Decidi participar do Fórum porque é uma plataforma mundial muito importante. Davos é um lugar conhecido e considero que a Rússia deve estar representada no mais alto nível em eventos como este", afirmou.

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