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Para Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú, o debate e a indefinição sobre a meta de inflação geram uma “desancoragem” que pressiona a inflação futura e dificulta o trabalho do Banco Central na política de juros.
Para Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú, o debate e a indefinição sobre a meta de inflação geram uma “desancoragem” que pressiona a inflação futura e dificulta o trabalho do Banco Central na política de juros.| Foto: Divulgação/Itaú

O debate e a indefinição sobre a meta de inflação estão provocando uma "desancoragem" das expectativas, o que pressiona a inflação futura e dificulta o trabalho do Banco Central (BC) na condução da política de juros. A avaliação é do CEO do banco Itaú, Milton Maluhy Filho.

"Na medida em que existe a expectativa de que a meta possa ser revista, o mercado antecipa essa inflação futura. E isso claramente traz mais dificuldades até para o Banco Central poder tomar suas decisões de política monetária", disse Maluhy nesta quarta-feira (8), em conversa com jornalistas na sede do banco.

Para o executivo, a manutenção da meta nos níveis atuais passaria ao mercado uma mensagem de baixa tolerância com a inflação, o que reduziria as curvas futuras de juros e, portanto, o custo do crédito.

Embora considere o debate "natural" e "do jogo", o executivo defendeu que a decisão sobre as metas ocorra logo, "qualquer que seja", para reduzir os ruídos.

Esse debate foi inaugurado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem feito críticas contundentes não só às metas de inflação, mas também à política de juros e à própria autonomia formal do BC, em vigor desde 2021.

Para Lula, as metas – de 3,25% neste ano e 3% em 2024 e 2025 – são baixas e fazem com que o BC force a mão na taxa básica de juros (Selic), atrapalhando o crescimento econômico. O petista indica ser favorável a uma meta próxima de 4,5%, como a que vigorou entre 2005 e 2018.

A pressão de Lula, porém, pode ter efeito oposto ao que ele deseja. Muitos analistas entendem que sinais de tolerância com uma inflação mais alta tendem a gerar mais inflação, o que levaria o BC a manter o aperto monetário por mais tempo ou, em último caso, elevar a taxa de juros.

A Selic está em 13,75% ao ano desde agosto, o patamar mais alto em seis anos. A taxa atingiu o piso histórico de 2% em 2020, mas passou a subir a partir de março de 2021 como uma reação do BC ao avanço da inflação.

Por ora, a expectativa do Itaú é de que a Selic termine o ano em 12,5%. Ou seja, o banco ainda vê espaço para reduções na taxa, no segundo semestre.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) deve se reunir nos próximos meses para definir a meta para 2026 em diante, mas nada impede que revise os atuais objetivos. O colegiado é formado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e Planejamento, Simone Tebet. Por ter dois votos, o governo pode alterar a meta mesmo que o BC se oponha.

CEO do Itaú vê "sinalizações positivas" de Haddad, mas aguarda "fatos concretos"

Na entrevista, o CEO do Itaú elogiou a disposição do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em manter contato com vários setores, inclusive o financeiro. Disse que vem recebendo "sinalizações positivas" de Haddad e sua equipe, "na direção correta", mas que o mercado aguarda "os fatos concretos, para tirar da curva de juros qualquer ruído".

Segundo o executivo, há expectativa não só em relação à meta de inflação, mas também sobre o retorno dos tributos federais sobre os combustíveis. Medida provisória editada pelo presidente Lula estendeu a desoneração até o fim deste mês. A retomada da cobrança, se confirmada, terá impacto positivo sobre os cofres do governo, mas deve gerar alguma pressão sobre a inflação.

Maluhy disse que o pacote apresentado por Haddad em janeiro, para reduzir o déficit primário da União, foi uma "iniciativa importante": "É um plano que naturalmente depende de aprovações no Congresso, mas a sinalização é positiva, de um esforço com relação a isso".

Outro anúncio muito relevante aguardado para os próximos meses, segundo ele, é o do novo arcabouço fiscal, que vai substituir o teto de gastos. "O mercado como um todo, o país, os investidores locais e estrangeiros estão olhando para o novo arcabouço", disse o CEO do Itaú. O ministro Haddad tem prometido apresentar a nova política fiscal até abril.

Maluhy descreve outra prioridade de Haddad, a reforma tributária, como "fundamental" para que o país eleve sua produtividade.

Embora o executivo busque demonstrar algum otimismo, as projeções do Itaú são de um ano difícil para a economia brasileira, com Produto Interno Bruto (PIB) crescendo apenas 0,9%, inflação de 5,8% e dólar chegando a R$ 5,50 até o fim do ano. E o crédito deve crescer mais devagar: depois de um avanço de 11,1% no ano passado, o Itaú espera que sua carteira de financiamentos avance entre 6% e 9% em 2023.

Cenário internacional melhorou e cria oportunidade para o Brasil, diz CEO do Itaú

O CEO do Itaú entende que o cenário econômico internacional melhorou, por uma série de fatores: a crise de energia na Europa não é tão severa quanto se imaginava, o que suavizará a recessão no continente; o Fed, banco central dos Estados Unidos, tem conseguido conter a inflação, o que indica um ritmo mais lento de alta dos juros daqui em diante; e a China volta a crescer com mais força graças à reabertura após os lockdowns.

"O cenário global é positivo. Existe uma discussão geopolítica relevante acontecendo sobre as tensões, seja entre Ucrânia e Rússia, seja entre China e Estados Unidos. O que faz do Brasil um lugar muito estratégico para diversas empresas, para que de fato a gente possa aproveitar essa oportunidade e fazer país crescer de forma estrutural e sustentável", afirmou Maluhy.

"A gente tem que ter uma agenda tática, é fundamental. Mas a gente precisa de uma agenda estrutural estratégica, de longo prazo, para atacar elementos que fazem com que economia e o país não cresçam no máximo potencial", concluiu.

*O jornalista viajou a convite do Itaú.

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