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Contenda – Uma sucessão de tragédias pessoais e abalos econômicos tumultuaram a vida do produtor rural Guilherme de Souza Good, de Contenda (região metropolitana de Curitiba), na última década. Depois de perder cinco de seus oito filhos em dois acidentes, ele se viu envolvido na ciranda financeira que, no Brasil, pune a produção para beneficiar a especulação.

Uma dívida de R$ 14,7 mil, em 1995, hoje está em R$ 73 mil, 40% do valor de sua propriedade, de 14,5 hectares. Aos 77 anos, sem condições de plantar a nova safra, ele busca o sustento da família em uma marcenaria improvisada, onde faz móveis que vende aos vizinhos.

Notificado da cobrança judicial no último dia 13, Good está recorrendo, na tentativa de evitar o leilão do sítio onde mora com a mulher, Ana, 78 anos; a filha Lorena, 41; o genro e três netos. Durante a entrevista à Gazeta do Povo, ontem pela manhã, o agricultor chorou várias vezes.

Gazeta do Povo – Como essa dívida começou?Guilherme de Souza Good – Ela foi feita em 1995, no "mata-mata", para pagar uma dívida anterior de custeio de lavouras de feijão e batata. O feijão eu perdi com a chuva. A batata eu nem colhi, porque entrou muita batata da Argentina naquele ano e o preço que pagavam não cobria nem o frete.

O senhor tentou pagar a dívida?Sim. Já vendi quase 22 hectares de terra, trator, caminhão, carro e maquinário. Hoje, só me sobrou o sítio e a casa.

Na sua avaliação, a cobrança dessa dívida é justa?Eu sempre gostei de levar tudo muito a sério. Nunca me neguei a pagar. Mas, com essa taxa de juros e essa correção monetária, o produtor não se cria quando o tempo não ajuda.

O senhor vai plantar a próxima safra?Não tenho condições. Eu poderia pegar um Pronaf [o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, que financia a pequena propriedade, com juros baixos] em nome de algum filho, mas aí seria uma dívida nova. (VD)

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